São Paulo, terça-feira, 03 de fevereiro de 2004

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GRÃOS

Analistas afirmam que produção não atingirá 1,45 milhão de toneladas

Safra recua, e feijão fica mais caro

MAURO ZAFALON
DA REDAÇÃO

A primeira safra nacional de feijão está com produção inferior à prevista. Estimada inicialmente em 1,45 milhão de toneladas pela Conab (Companhia Nacional de Abastecimento), conforme pesquisa feita em dezembro, a safra das águas -como é chamada a primeira safra- não deverá atingir esse volume, segundo analistas do mercado.
O Brasil tem cinco Estados com destaque na produção de feijão, e cada um deles registrou problemas diferentes durante o desenvolvimento da lavoura: seca no plantio, frio no desenvolvimento da planta e incidência de pragas. Um problema, no entanto, é comum a todos: excesso de chuvas na colheita. E essa chuva traz não só dificuldades na colheita, como reduz a qualidade do produto.
A oferta de feijão está ajustada ao consumo, e o país pode viver um período de oferta menor. Os consumidores paulistanos já sentem no bolso as conseqüências desse mercado ajustado. O acompanhamento da cesta básica do Procon/Dieese registrou alta de 17% nos preços do produto nos últimos 30 dias.
A cultura do feijão, no entanto, é de ciclo curto, e "feijão se produz todo dia", diz Paulo Magno, da Conab. Para ele, os problemas em algumas das regiões, neste início de safra, serão solucionados com novos plantios em outras regiões.
O aperto de oferta de feijão vem, no entanto, em um período em que o governo não tem estoques e necessita de alimentos básicos para o desenvolvimento do programa Fome Zero. Se o governo entrar no mercado para fazer estoques vai elevar ainda mais os preços, que bateram nos R$ 100 por saca na primeira quinzena de janeiro no campo, mas recuaram para R$ 80 nos últimos dias.
Ivan Vieira, da Cacique Representações, diz que as entradas de feijão somaram 24 mil sacas ontem na "bolsinha" de São Paulo -um volume dentro da média- , e o produto de melhor qualidade foi negociado a R$ 87 por saca. A tendência de preços nesta semana, segundo ele, é de baixa, já que é grande a oferta de feijão comercial -o de qualidade média.
Os maiores problemas de safra neste ano vêm da Bahia, onde a produção deverá ficar bem distante das 213 mil toneladas previstas para esta primeira safra. Houve seca no plantio na Bahia e grande parte do que foi semeado foi perdido. Valmir Brandalizze, da Brandalizze Consulting, diz que a área da região, prevista para 200 mil hectares, não superou os 70 mil.
Minas Gerais e Goiás também registraram seca no meio do ciclo da safra e excesso de chuva na colheita. A produtividade é baixa e a qualidade do produto ruim, diz Brandalizze.
Apesar dessa redução de oferta em algumas regiões, os preços do feijão não têm fôlego para subir muito, diz Brandalizze.
O consumidor está com renda curta e o frango passa a ser grande concorrente do feijão em período de altas.

Parecia pior
O cenário desenhado para o feijão há duas semanas, no entanto, era mais grave do que se apresenta hoje. Havia incerteza com relação à safra do Paraná, de longe o principal produtor nacional. Mas Margorete Demarchi, do Deral (Departamento de Economia Rural), diz que a quebra de produção deverá ser pequena, e a safra pode ficar próxima das 480 mil toneladas. As estimativas iniciais do Deral indicavam produção de até 502 mil toneladas. Nos cálculos do órgão, 75% da safra paranaense já foi colhida, e o produto também apresenta problemas de qualidade em algumas regiões.
Taurino Loiola, engenheiro agrônomo do nordeste do Paraná, diz que o clima está adverso e o resultado dessa instabilidade é imprevisível na safra. Ele diz que a alta surpreendeu os produtores, que já tinham comercializado o produto que tinham por apenas R$ 50 a R$ 60 a saca. A chuva que atrapalha a colheita deste início de ano, no entanto, beneficia o plantio da segunda safra, que já foi iniciado no Paraná, diz ele.
Os problemas de safra não são tão intensos no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina. Juntos, devem produzir 279 mil toneladas. Os preços internos, no entanto, estão afastando os produtores dessa cultura. José Francisco Telöken, técnico da Emater/RS, diz os gaúchos estão plantando uma das menores áreas de feijão da história e a tendência é de redução ainda maior. A soja, que tem rendimento maior, está ocupando a área do feijão. Brandalizze diz que a saca de feijão com preços inferiores a US$ 25 (R$ 74) não é atrativa aos produtores.


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