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GRÃOS
Analistas afirmam que produção não atingirá 1,45 milhão de toneladas
Safra recua, e feijão fica mais caro
MAURO ZAFALON
DA REDAÇÃO
A primeira safra nacional de feijão está com produção inferior à
prevista. Estimada inicialmente
em 1,45 milhão de toneladas pela
Conab (Companhia Nacional de
Abastecimento), conforme pesquisa feita em dezembro, a safra
das águas -como é chamada a
primeira safra- não deverá atingir esse volume, segundo analistas
do mercado.
O Brasil tem cinco Estados com
destaque na produção de feijão, e
cada um deles registrou problemas diferentes durante o desenvolvimento da lavoura: seca no
plantio, frio no desenvolvimento
da planta e incidência de pragas.
Um problema, no entanto, é comum a todos: excesso de chuvas
na colheita. E essa chuva traz não
só dificuldades na colheita, como
reduz a qualidade do produto.
A oferta de feijão está ajustada
ao consumo, e o país pode viver
um período de oferta menor. Os
consumidores paulistanos já sentem no bolso as conseqüências
desse mercado ajustado. O acompanhamento da cesta básica do
Procon/Dieese registrou alta de
17% nos preços do produto nos
últimos 30 dias.
A cultura do feijão, no entanto, é
de ciclo curto, e "feijão se produz
todo dia", diz Paulo Magno, da
Conab. Para ele, os problemas em
algumas das regiões, neste início
de safra, serão solucionados com
novos plantios em outras regiões.
O aperto de oferta de feijão vem,
no entanto, em um período em
que o governo não tem estoques e
necessita de alimentos básicos para o desenvolvimento do programa Fome Zero. Se o governo entrar no mercado para fazer estoques vai elevar ainda mais os preços, que bateram nos R$ 100 por
saca na primeira quinzena de janeiro no campo, mas recuaram
para R$ 80 nos últimos dias.
Ivan Vieira, da Cacique Representações, diz que as entradas de
feijão somaram 24 mil sacas ontem na "bolsinha" de São Paulo
-um volume dentro da média-
, e o produto de melhor qualidade
foi negociado a R$ 87 por saca. A
tendência de preços nesta semana, segundo ele, é de baixa, já que
é grande a oferta de feijão comercial -o de qualidade média.
Os maiores problemas de safra
neste ano vêm da Bahia, onde a
produção deverá ficar bem distante das 213 mil toneladas previstas para esta primeira safra. Houve seca no plantio na Bahia e grande parte do que foi semeado foi
perdido. Valmir Brandalizze, da
Brandalizze Consulting, diz que a
área da região, prevista para 200
mil hectares, não superou os 70
mil.
Minas Gerais e Goiás também
registraram seca no meio do ciclo
da safra e excesso de chuva na colheita. A produtividade é baixa e a
qualidade do produto ruim, diz
Brandalizze.
Apesar dessa redução de oferta
em algumas regiões, os preços do
feijão não têm fôlego para subir
muito, diz Brandalizze.
O consumidor está com renda
curta e o frango passa a ser grande
concorrente do feijão em período
de altas.
Parecia pior
O cenário desenhado para o feijão há duas semanas, no entanto,
era mais grave do que se apresenta hoje. Havia incerteza com relação à safra do Paraná, de longe o
principal produtor nacional. Mas
Margorete Demarchi, do Deral
(Departamento de Economia Rural), diz que a quebra de produção
deverá ser pequena, e a safra pode
ficar próxima das 480 mil toneladas. As estimativas iniciais do Deral indicavam produção de até
502 mil toneladas. Nos cálculos
do órgão, 75% da safra paranaense já foi colhida, e o produto também apresenta problemas de qualidade em algumas regiões.
Taurino Loiola, engenheiro
agrônomo do nordeste do Paraná, diz que o clima está adverso e
o resultado dessa instabilidade é
imprevisível na safra. Ele diz que a
alta surpreendeu os produtores,
que já tinham comercializado o
produto que tinham por apenas
R$ 50 a R$ 60 a saca. A chuva que
atrapalha a colheita deste início de
ano, no entanto, beneficia o plantio da segunda safra, que já foi iniciado no Paraná, diz ele.
Os problemas de safra não são
tão intensos no Rio Grande do Sul
e em Santa Catarina. Juntos, devem produzir 279 mil toneladas.
Os preços internos, no entanto,
estão afastando os produtores
dessa cultura. José Francisco Telöken, técnico da Emater/RS, diz
os gaúchos estão plantando uma
das menores áreas de feijão da
história e a tendência é de redução
ainda maior. A soja, que tem rendimento maior, está ocupando a
área do feijão. Brandalizze diz que
a saca de feijão com preços inferiores a US$ 25 (R$ 74) não é atrativa aos produtores.
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