São Paulo, terça-feira, 03 de fevereiro de 2009

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Lavrador e sua mulher perdem os empregos no mesmo dia

DA AGÊNCIA FOLHA, EM PETROLINA

Até o dia 28 de janeiro, o agricultor Cícero Limeira da Silva, 35, achava que uma crise financeira surgida no setor imobiliário dos Estados Unidos nunca afetaria a vida de um lavrador pobre do sertão de Pernambuco. No dia 29, ele viu que estava errado: perdeu o emprego e ainda viu sua mulher, Anita Soares da Silva, 32, também ser despedida no mesmo dia.
A alegação dos donos da fazenda onde os dois trabalhavam foi a descapitalização da empresa, provocada pelo fraco desempenho das exportações de frutas produzidas no Vale do São Francisco em 2008.
Cícero trabalhava no local havia cinco anos e recebia salário mínimo. A mulher ganhava a mesma coisa, mas tinha um ano a menos de serviço. O casal tem dois filhos adolescentes e não sabe como vai sustentar a família nos próximos dias.
"Agora ficou difícil", disse ele. "Foi uma surpresa, ninguém esperava por isso", afirmou. Segundo ele, dos 72 agricultores que trabalhavam nos parreirais da fazenda, apenas 10 foram mantidos.
A primeira providência dos Silva após a demissão foi suspender as obras de construção de uma garagem na casa da família, na zona rural de Petrolina (a 790 km de Recife). O imóvel, de dois quartos, foi colocado à venda por R$ 15 mil.
Com esse dinheiro, Cícero espera construir outro imóvel. E, em vez de uma garagem, quer agora erguer um pequeno comércio para a mulher trabalhar. "Ela fica lá enquanto eu faço os bicos nas fazendas."
A crise, porém, também afetou o trabalho temporário na região. O excesso de mão-de-obra provocou queda no preço da diária, de R$ 30 para R$ 20.
No Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Petrolina, desempregados formam filas todas as manhãs na calçada. Estão em busca de, principalmente, orientação jurídica.
Segundo o assessor jurídico da entidade, Agrinaldo Sidrônio, 45, cerca de 50 reclamações trabalhistas -com até três pessoas em cada processo- são protocoladas todos os dias na Justiça local. A maioria dos demitidos reclama do não-pagamento dos direitos trabalhistas após a dispensa.


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