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Indústria tem pior resultado em 19 anos, mas se recupera
Queda em 2009 é de 7,4%, a maior desde o governo Collor, mas 4º tri registra alta
Produção industrial nos últimos três meses de 2009 sobe 5,8% ante o mesmo período de 2008 e encerra quatro trimestres de baixa
DENISE MENCHEN
DA SUCURSAL DO RIO
A produção industrial brasileira recuou 7,4% em 2009, afetada pela crise, que fechou as
portas para as exportações, secou as fontes de crédito e deteriorou a confiança dos empresários. Foi a maior queda desde
1990, ano do confisco promovido pelo governo Collor.
Se o resultado daquele ano,
porém, foi seguido por mais
dois de encolhimento da indústria, 2009 terminou com sinais
de recuperação.
A gerente de análise e estatísticas do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), Isabella Nunes, destaca que
o setor de bens de capital apresentou em dezembro o nono
crescimento consecutivo sobre
o mês anterior, de 0,3%. Na
comparação entre o quarto e o
terceiro trimestres do ano, a
expansão foi ainda maior, de
13,3%, ante uma média de 3,6%
da indústria como um todo. "Isso aponta para a retomada dos
investimentos", diz.
A recuperação desse segmento a partir de abril, porém,
foi insuficiente para neutralizar as perdas registradas nos
meses anteriores -no fechamento do ano, a produção de
máquinas e equipamentos ainda estava 17,4% abaixo da acumulada em 2008.
"A recuperação está ocorrendo de forma gradual e poderia
ser mais intensa se 2010 não
fosse ano eleitoral. Mas, com as
incertezas políticas, pode ser
que o investidor aguarde um
pouco mais para investir", avalia o economista-chefe da MB
Associados, Sérgio Vale.
O segundo maior recuo, de
8,8%, foi verificado na produção dos bens intermediários,
usados na fabricação de outros
produtos. A produção de bens
duráveis teve uma recuperação
mais forte e encerrou 2009
apenas 6,4% abaixo da acumulada em 2008, ano bastante positivo para o setor até o agravamento da crise, em setembro.
Pesaram para isso os incentivos
do governo, que reduziu o IPI
de automóveis e eletrodomésticos da linha branca.
Já a categoria menos afetada
foi a dos bens de consumo semiduráveis e não duráveis, que
não tem tanta relação com a
disponibilidade do crédito e
sim com a renda do trabalhador. Nesse caso, a queda ante
2008 foi de apenas 1,6%.
Dos quatro segmentos que
apresentaram alta ante 2008,
três deles são voltados para o
mercado interno: o farmacêutico (7,9%), de bebidas (7,1%) e
de perfumaria (4,7%). Os outros 23 encerraram o ano em
patamar inferior ao de 2008.
Os dados divulgados pelo IBGE, no entanto, indicam uma
recuperação mais generalizada
ao longo de 2010. Dos 27 setores, 22 já produziram mais em
dezembro de 2009 do que em
dezembro de 2008.
A produção industrial acumulada no último trimestre de
2009 também foi 5,8% superior à do fim de 2008. Foi a primeira taxa positiva após quatro
trimestres de queda.
A economista Thais Marzola
Zara, da Rosenberg Consultores Associados, projeta para
2010 um crescimento acima de
8% para a indústria. Sérgio Vale, da MB Associados, estima
uma taxa ainda maior, de 9,6%.
A magnitude dos números
está relacionada à base de comparação baixa. Em dezembro, a
produção da indústria foi 18,9%
superior à do mesmo mês de
2008, o pior desde o agravamento da crise.
Já em relação a novembro de
2009 houve queda de 0,3%, a
segunda consecutiva nesse tipo
de comparação. O resultado foi
puxado pelo recuo de 4,9% na
produção de bens duráveis.
Para Zara, da Rosenberg, o
resultado está relacionado ao
fim da política de desoneração
do governo. "Houve uma readequação ao cenário de 2010,
que não contará com incentivos fiscais", diz. Segundo ela, a
produção de automóveis e eletrodomésticos continuará a
crescer neste ano, mas em ritmo mais fraco.
Já o Iedi (Instituto de Estudos para o Desenvolvimento
Industrial) destaca que a antecipação das compras causada
pela desoneração poderá "cobrar seu preço" em 2010. "Antecipar o consumo de geladeiras em 2009, para dar um
exemplo, poderá deprimir o
crescimento do consumo desse
bem em algum momento no futuro", avaliou a entidade em
boletim divulgado ontem.
De acordo com a análise do
instituto, para compensar esse
efeito será necessária a adoção
de medidas alternativas, como
o incentivo ao crédito.
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