São Paulo, quarta-feira, 03 de fevereiro de 2010

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Indústria tem pior resultado em 19 anos, mas se recupera

Queda em 2009 é de 7,4%, a maior desde o governo Collor, mas 4º tri registra alta

Produção industrial nos últimos três meses de 2009 sobe 5,8% ante o mesmo período de 2008 e encerra quatro trimestres de baixa


DENISE MENCHEN
DA SUCURSAL DO RIO

A produção industrial brasileira recuou 7,4% em 2009, afetada pela crise, que fechou as portas para as exportações, secou as fontes de crédito e deteriorou a confiança dos empresários. Foi a maior queda desde 1990, ano do confisco promovido pelo governo Collor.
Se o resultado daquele ano, porém, foi seguido por mais dois de encolhimento da indústria, 2009 terminou com sinais de recuperação.
A gerente de análise e estatísticas do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), Isabella Nunes, destaca que o setor de bens de capital apresentou em dezembro o nono crescimento consecutivo sobre o mês anterior, de 0,3%. Na comparação entre o quarto e o terceiro trimestres do ano, a expansão foi ainda maior, de 13,3%, ante uma média de 3,6% da indústria como um todo. "Isso aponta para a retomada dos investimentos", diz.
A recuperação desse segmento a partir de abril, porém, foi insuficiente para neutralizar as perdas registradas nos meses anteriores -no fechamento do ano, a produção de máquinas e equipamentos ainda estava 17,4% abaixo da acumulada em 2008.
"A recuperação está ocorrendo de forma gradual e poderia ser mais intensa se 2010 não fosse ano eleitoral. Mas, com as incertezas políticas, pode ser que o investidor aguarde um pouco mais para investir", avalia o economista-chefe da MB Associados, Sérgio Vale.
O segundo maior recuo, de 8,8%, foi verificado na produção dos bens intermediários, usados na fabricação de outros produtos. A produção de bens duráveis teve uma recuperação mais forte e encerrou 2009 apenas 6,4% abaixo da acumulada em 2008, ano bastante positivo para o setor até o agravamento da crise, em setembro. Pesaram para isso os incentivos do governo, que reduziu o IPI de automóveis e eletrodomésticos da linha branca.
Já a categoria menos afetada foi a dos bens de consumo semiduráveis e não duráveis, que não tem tanta relação com a disponibilidade do crédito e sim com a renda do trabalhador. Nesse caso, a queda ante 2008 foi de apenas 1,6%.
Dos quatro segmentos que apresentaram alta ante 2008, três deles são voltados para o mercado interno: o farmacêutico (7,9%), de bebidas (7,1%) e de perfumaria (4,7%). Os outros 23 encerraram o ano em patamar inferior ao de 2008.
Os dados divulgados pelo IBGE, no entanto, indicam uma recuperação mais generalizada ao longo de 2010. Dos 27 setores, 22 já produziram mais em dezembro de 2009 do que em dezembro de 2008.
A produção industrial acumulada no último trimestre de 2009 também foi 5,8% superior à do fim de 2008. Foi a primeira taxa positiva após quatro trimestres de queda.
A economista Thais Marzola Zara, da Rosenberg Consultores Associados, projeta para 2010 um crescimento acima de 8% para a indústria. Sérgio Vale, da MB Associados, estima uma taxa ainda maior, de 9,6%.
A magnitude dos números está relacionada à base de comparação baixa. Em dezembro, a produção da indústria foi 18,9% superior à do mesmo mês de 2008, o pior desde o agravamento da crise.
Já em relação a novembro de 2009 houve queda de 0,3%, a segunda consecutiva nesse tipo de comparação. O resultado foi puxado pelo recuo de 4,9% na produção de bens duráveis.
Para Zara, da Rosenberg, o resultado está relacionado ao fim da política de desoneração do governo. "Houve uma readequação ao cenário de 2010, que não contará com incentivos fiscais", diz. Segundo ela, a produção de automóveis e eletrodomésticos continuará a crescer neste ano, mas em ritmo mais fraco.
Já o Iedi (Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial) destaca que a antecipação das compras causada pela desoneração poderá "cobrar seu preço" em 2010. "Antecipar o consumo de geladeiras em 2009, para dar um exemplo, poderá deprimir o crescimento do consumo desse bem em algum momento no futuro", avaliou a entidade em boletim divulgado ontem.
De acordo com a análise do instituto, para compensar esse efeito será necessária a adoção de medidas alternativas, como o incentivo ao crédito.


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