São Paulo, Quarta-feira, 03 de Fevereiro de 1999
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TROCA DE GUARDA
Pedro Malan também anuncia que o governo vai fazer uma reestruturação na cúpula do Banco Central
Fraga substitui Lopes no comando do BC

da Sucursal de Brasília

O ministro Pedro Malan (Fazenda) anunciou ontem que a substituição de Francisco Lopes por Armínio Fraga teve o objetivo de tornar o Banco Central mais forte para administrar a nova política cambial -que pressupõe livre flutuação do dólar, com intervenções eventuais do BC.
No comando do BC desde o último dia 13, Lopes, a rigor, só presidiu formalmente a instituição por cinco dias. Sua indicação foi aprovada pelo Senado no último dia 28 e a posse só ocorreria no próximo dia 10. Fraga assume para reforçar a ação do BC, cuja diretoria será reformulada.
Malan afirmou que o presidente lhe pediu a indicação de uma pessoa para ocupar a presidência do BC e o escolhido foi Fraga, ex-diretor de Assuntos Internacionais do BC, que vinha trabalhando com o megainvestidor George Soros.
"Ele é um dos melhores economistas brasileiros e havia decidido voltar ao Brasil nos próximos quatro meses. Na verdade, já estava decidido que ele se incorporaria à equipe econômica tão logo ele voltasse ao país. O que nós estamos fazendo é antecipar em alguns meses a vinda dele para o governo" disse Malan, para quem Fraga tem "total e absoluta afinidade" com a equipe econômica.
O anúncio da mudança na direção do BC foi feita pela manhã, por meio de uma nota à imprensa seguida de uma entrevista do ministro. No texto, o Ministério da Fazenda justifica que a reformulação está sendo feita para reforçar a instituição por conta da mudança do regime cambial.
Dentro da reformulação está também a mudança de nomes de alguns dos atuais diretores. Malan disse que o novo presidente do BC discutirá as sugestões com Francisco Lopes e as encaminhará a ele e a FHC.
O ministro insistiu ainda, durante a entrevista, que a equipe econômica manterá a atual política. Ontem mesmo, Fraga já se incorporou ao governo como assessor especial do ministro da Fazenda. Nessa condição, ele participou das reuniões com a missão do FMI.
A nomeação de Fraga como assessor especial já foi publicada na edição de ontem do "Diário Oficial" da União. Assim, ele poderá participar da equipe econômica até que seu nome seja indicado e aprovado pelo Senado para presidir o BC -cujo comando ficará, interinamente, com o diretor de Assuntos Internacionais, Demósthenes Madureira de Pinho Neto.

Cargos à disposição
Na versão apresentada por Malan, ele e Lopes colocaram os cargos à disposição de FHC logo após a primeira mudança do regime cambial, no dia 13 de janeiro.
"Há vários dias, tanto eu quanto o presidente do BC colocamos nossos cargos à disposição do presidente, à luz do clima de tensões, turbulências e incertezas, diante da adoção primeira do regime que esteve em vigor por apenas dois dias", disse, referindo-se ao teto de R$ 1,32 para o dólar.
Segundo Malan, os primeiros dias do câmbio flutuante, adotado em 15 de janeiro, foram marcados por incertezas por causa da grande desvalorização da moeda -"flagrantes exageros" que ocorreram particularmente na sexta passada, quando o dólar chegou a R$ 2,15.
O ministro disse que FHC decidiu mantê-lo no ministério, mas aceitou a demissão de Lopes, que substituía Gustavo Franco, um dos pais intelectuais do Plano Real e contrário às mudanças no câmbio.
"Formalizei esse pedido recentemente, e o presidente não aceitou e insiste na minha permanência no cargo. Como vocês sabem, sou servidor público de carreira, nunca fui outra coisa nem pretendo ser."

Intervenção
Ontem, na primeira reunião da equipe com o vice-diretor-gerente do FMI, Stanley Fischer, um dos temas mais importantes foi a adoção de regras de intervenção do BC no mercado de câmbio. Especialista na área, Fraga terá papel importante na definição das regras.
O principal objetivo da missão técnica do FMI é revisar algumas das metas previstas no acordo assinado no final de 98 e que permitiu ao Brasil obter um empréstimo de US$ 41,5 bilhões. O governo já tomou US$ 9,3 bilhões desse total.
A reformulação do acordo é necessária para que o país possa sacar as demais parcelas do empréstimo. No momento, o governo trabalha para concluir a revisão dentro de 15 dias e, com isso, solicitar antecipadamente a liberação da segunda parcela do empréstimo, no valor de US$ 9 bilhões.


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