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MUDANÇA NO BC
Empresários apóiam nome de Fraga; indicação não seria possível se a Câmara aprovasse lei da quarentena
Crise do país afasta discussão sobre ética
FREDERICO VASCONCELOS
da Reportagem Local
As manifestações de empresários
e consultores, favoráveis à indicação do economista Armínio Fraga
para presidente do Banco Central,
mostram que prevaleceu -acima
das discussões éticas- a expectativa de que o governo supere a crise cambial, tendo à frente do BC
um ex-operador do mercado.
"Ética é uma questão pessoal. Pelo que conheço do Armínio Fraga,
ele é muito ético. Não vejo problemas", diz o banqueiro Paulo Ferraz, presidente do Bozano, Simonsen.
"Não vejo nenhum inconveniente na indicação de Armínio Fraga",
diz o advogado Ives Gandra Martins. "O grande problema, hoje, é
saber como o país vai ganhar a
queda-de-braço com o mercado, e
ele conhece essas técnicas", diz.
Projeto de quarentena
Fraga não poderia assumir a presidência do BC se estivesse em vigor um projeto de lei que prevê a
quarentena para ocupantes de cargo de direção no banco.
O projeto, que impede a nomeação de quem tenha trabalhado em
empresas do mercado financeiro
nos quatro anos anteriores, é de
autoria do então senador Itamar
Franco (PMDB-MG), atual governador de Minas Gerais.
Sua aprovação, em regime de urgência, foi defendida em novembro último pelo presidente Fernando Henrique, em meio ao tiroteio provocado pelo grampo telefônico no BNDES. O projeto foi
aprovado pelo Senado, mas está
parado na Câmara desde 1995.
O empresário e deputado Emerson Kapaz (PSDB-SP) diz que "é
difícil" defender o nome de Armínio Fraga no Congresso, por causa
de sua ligação com o megainvestidor George Soros. "Mas temos de
defendê-lo, porque a sua capacidade de operar é fundamental nesta
fase de transição muito delicada".
O presidente em exercício da
Fiesp (Federação das Indústrias do
Estado de São Paulo), Carlos Roberto Liboni, diz que não vê problema ético no fato de Fraga ter
trabalhado com Soros. "Ele vai
usar a experiência que adquiriu na
empresa privada em defesa dos interesses do Brasil", diz Liboni.
Sem restrições
"Estou absolutamente convencido de que o governo está precisando de um especialista que venha da
iniciativa privada, depois dos prejuízos causados pelos acadêmicos.
E Fraga traz experiência do segmento privado, já tendo trabalhado no BC", diz Gandra Martins.
"Evidentemente, ele deve se desvincular da firma de onde veio, que
vai ser mais fiscalizada", diz.
Para o jurista Celso Bandeira de
Mello, "não é o presidente do Banco Central quem vai infundir confiança ao mercado". Isso, segundo
ele, "caberia ao presidente Fernando Henrique, que cometeu erros
tão desastrosos".
"O governo fez bem em trocar
Francisco Lopes por Armínio Fraga. Lopes é um homem que sabe
planejar, mas não é um operador
como Fraga", diz Sérgio Haberfeld, presidente da Associação Brasileira de Embalagens.
"Nesta altura, nós precisamos
mesmo de um operador", diz.
Segundo Haberfeld, "uma troca
em tão pouco tempo demonstra a
instabilidade da economia".
Para Jacks Rabinovich, presidente do conselho de administração
do grupo Vicunha, "é cedo para dizer se é bom ou ruim a saída de
Francisco Lopes e a entrada de Armínio Fraga".
Segundo ele, "Fraga é uma pessoa de reconhecida competência e
muito respeitado. Só que foi uma
troca rápida. Fraga deveria, então,
ter substituído Gustavo Franco.
Para o ex-ministro Mailson da
Nóbrega, a indicação de Fraga,
"um economista com grande formação e um grande operador", é
vista com "certo alívio".
"O mercado entendia que o BC
precisava alterar as políticas de
câmbio e juros", diz Mailson.
O problema, segundo ele, é que
"o presidente do BC (Lopes) foi, na
verdade, desconvidado".
"Acho que essa atitude é inédita,
no mundo. A saída de Chico Lopes
deve ter ocorrido por motivos sérios, pois ela não se justifica neste
momento", diz Mailson.
Quanto à questão da quarentena,
o ex-ministro da Fazenda diz que
"não há regras no Brasil, mas uma
pessoa que sai dessa posição se auto-impõe um prazo de até seis meses para não trabalhar em bancos
ou consultorias".
Na Europa, segundo ele, o governo paga dois anos de salário para
uma pessoa que sai dessa posição
ficar afastado do mercado.
Código de conduta
Ainda está em fase de discussão
no governo o "Código de conduta
dos titulares de cargos na alta administração federal". Trata-se de
uma proposta do Conselho de Reforma do Estado.
O código pretende regulamentar
os conflitos de interesse e as limitações às atividades profissionais de
quem deixa um cargo público, mas
também abriga cuidados a serem
tomados pelas autoridades oriundas da iniciativa privada.
O código prevê que, no prazo de
10 dias a contar da posse, a autoridade fornecerá à Comissão Consultiva de Ética Pública uma declaração de sua situação patrimonial,
a ser atualizada anualmente.
Entre os "bens controlados"
-ou seja, aqueles cujo valor possa
ser afetado por decisões ou políticas governamentais-, o código
cita "aplicações de renda variável,
commodities, futuros e moedas estrangeiras para fins especulativos". (Colaboraram VANESSA
ADACHI, SILVANA QUAGLIO,
FÁTIMA FERNANDES e ANTONIO CARLOS SEIDL, da Reportagem Local)
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