São Paulo, Quarta-feira, 03 de Fevereiro de 1999
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REPERCUSSÃO
Mesmo surpresos com a rápida troca da guarda, empresários e economistas aprovam Armínio Fraga no BC
"Mercado precisava de um operador"

da Reportagem Local

Embora surpresos com a queda rápida de Francisco Lopes, a indicação de Armínio Fraga para o Banco Central foi bem recebida por empresários e economistas ouvidos ontem pela Folha.
Antonio Ermírio de Moraes, vice-presidente do grupo Votorantim, disse que Fraga, um "exímio operador", pode conduzir a política cambial a um porto seguro.
"Estamos num vôo cego sem instrumentos. Pior do que está não pode ficar", disse Antonio Ermírio, que defende uma intervenção do governo no mercado cambial para manter a cotação do dólar em torno de R$ 1,50.
"O governo tem de administrar o câmbio. Não pode deixar o mercado ao léu dos especuladores."
Carlos Roberto Liboni, presidente em exercício da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), disse que a experiência internacional de Fraga no "outro lado do balcão" o credencia como o homem certo para aplicar de forma mais ativa a política cambial e, assim, diminuir a necessidade de aumento dos juros.
Mailson da Nóbrega, ex-ministro da Fazenda, disse que Armínio Fraga é um economista com boa formação e um grande operador. "O problema é o que essa mudança pode causar a médio prazo na instituição Banco Central, pois o presidente do BC foi, na verdade, desconvidado. Acho que essa atitude é inédita no mundo", disse.
Ibrahim Eris, ex-presidente do Banco Central, disse que ficou "perplexo" com a troca do presidente do BC.
"O Armínio Fraga conhece o mercado e é um nome adequado para o momento. Mas o que está em questão é a credibilidade do governo. A mudança, repentina e sem explicação, cria um ambiente de instabilidade."
Ingo Ploger, presidente da Câmara de Comércio e Indústria Brasil-Alemanha, de São Paulo, disse que os investidores alemães esperam que a chegada de Fraga ao Banco Central signifique a volta da taxa de câmbio à "racionalidade". O nível ideal do câmbio para os empresários alemães é de R$ 1,45 a R$ 1,50 por dólar.
Paulo Ferraz, presidente do Bozano, Simonsen, disse que a escolha de Fraga é "excelente".
"É notório seu reconhecimento internacional. E a experiência mostra que ele é um excelente administrador. É hora de mudança de regras, de legislação, e ele tem conhecimento para isso."
Manoel Félix Cintra Neto, presidente da BM&F, qualificou a mudança no comando do BC de surpreendente. "Mas Fraga é identificado com Malan e com ACM. E é importante que a equipe esteja coesa. Lopes estava em xeque, em período de experiência, enquanto o Fraga já tem credibilidade."
Sérgio Haberfeld, presidente da Associação Brasileira de Embalagens, disse que o governo fez bem em trocar o comando do BC.
"Lopes sabe planejar, mas não é um operador como Fraga. Precisamos de um operador. Mas uma troca em tão pouco tempo demostra a instabilidade da economia."
Jacks Rabinovich, presidente do grupo Vicunha, disse que Armínio Fraga é que uma pessoa de reconhecida competência e muito respeitado. "Só que foi uma troca rápida. Armínio Fraga deveria então ter substituído Gustavo Franco."
Octavio de Barros, economista-chefe do Banco Bilbao Viscaya, disse que a presença de Fraga, um "operador de mão-cheia", no BC traz tranquilidade ao mercado porque ele é uma garantia contra a mudança das regras do jogo.
"Ele já provou sua competência desburocratizando a área internacional do BC."


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