São Paulo, quarta-feira, 03 de março de 2004

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BEBIDAS

Operação com cervejaria belga Interbrew será anunciada hoje; companhia brasileira diz que continuará sendo "nacional"

AmBev relata à CVM vazamento de dados

Victor Caivanof/Associated Press
Funcionário ajeita latas de cerveja de uma das marcas pertencentes à AmBev, que deve anunciar hoje associação com a Interbrew


GABRIELA ATHIAS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O co-presidente do conselho de administração da AmBev, Victório De Marchi, disse ontem, em Brasília, que houve vazamento de informações para o mercado sobre a negociação entre a companhia brasileira e a cervejaria belga Interbrew.
"Mantivemos vários contatos com a CVM [Comissão de Valores Mobiliários] nesses últimos dias. Realmente vazaram algumas informações", disse De Marchi. Segundo ele, algumas informações vazadas tinham "certo fundamento"; outras, disse ele, usaram "muita criatividade".
De Marchi falou sobre o vazamento, após reunir-se com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, no Palácio do Planalto, em Brasília. Os ministros Antonio Palocci Filho (Fazenda) e José Dirceu (Casa Civil) também participaram do encontro, que ocorreu a pedido da diretoria da AmBev.
A CVM está investigando se houve uso de informação privilegiada sobre uma possível fusão das duas empresas.
De Marchi informou que, detectado o vazamento, a AmBev comunicou à CVM todos os passos relativos à operação entre as duas companhias -que a diretoria da AmBev prefere classificar como uma "aliança global".
O fato é que o valor das ações da AmBev subiu 9,8% em dois dias (5,2% na sexta-feira passada e 4,6% anteontem) diante da possibilidade de uma fusão.
Hoje a AmBev e a Interbrew, segundo De Marchi, anunciam oficialmente a operação entre as duas cervejarias.
A empresa tem prazo de 15 dias para comunicar a operação ao Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica).

Fusão ou aquisição?
A AmBev é fruto da fusão da Brahma e da Antarctica em 1999. Na ocasião, as empresas justificaram a operação com o argumento de que, juntas, ambas seriam fortalecidas e formariam uma "multinacional" brasileira.
Questionado por jornalistas, De Marchi disse ontem que a operação com a empresa belga não vai alterar essa condição.
"A AmBev continuará sendo uma grande multinacional brasileira. Agora, com suas atividades expandidas para as três Américas", disse.
"O que vai haver, na realidade, é uma complementariedade de empresas. A AmBev está muito bem posicionada na América do Sul e está se posicionando no Caribe, enquanto a Interbrew é uma empresa forte nos mercados europeu, no Canadá e no México", afirmou, sem dar outros detalhes do negócio.
No entanto, os principais jornais estrangeiros noticiaram ontem a operação como uma complexa aquisição da brasileira pela Interbrew.
Segundo o "Financial Times", a companhia belga visa obter o controle acionário da AmBev.
O "New York Times" informou que a Interbrew negocia a aquisição do controle da AmBev, embora executivos ligados às duas companhias tenham definido a operação como uma "fusão entre iguais".
Na Bélgica, o anúncio será feito por John Brock, diretor-geral da Interbrew, e por Marcel Telles, co-presidente do conselho de administração e um dos principais acionistas da Ambev.
No Brasil, a operação será divulgada por Marchi e por Carlos Brito, presidente da AmBev.
De Marchi, que foi o porta-voz da empresa na reunião com Lula, disse que a idéia da fusão agradou o presidente Lula: "Na minha percepção, ele [Lula] ficou satisfeito".
Os executivos da empresa disseram ao presidente que a AmBev manterá todas as suas posições no país e que não haverá desemprego. Afirmaram ainda que, com o crescimento da economia, a empresa poderá fazer novas contratações.
Além de De Marchi, participaram da reunião os seguintes diretores da AmBev: Milton Seligman, Juan Vergara e Carlos Brito.
Se a fusão realmente for efetivada, a nova empresa terá US$ 27 bilhões em ativos e se tornará a segunda maior cervejaria do mundo, perdendo apenas para a americana Anheuser Busch.
Depois do fraco desempenho da economia brasileira de 2003, De Marchi elogiou a política econômica do país. Disse a Lula que a fusão só foi possível devido à perspectiva de crescimento econômico que o país apresenta. "Confio muito nesse país".


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