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BARRIL DE PÓLVORA
Fundos especulativos e crise venezuelana também influenciam alta, que não deve se sustentar, dizem analistas
Especulação empurra petróleo para US$ 28
MARCIO AITH
DE WASHINGTON
GIULIANO GUANDALINI
DA REDAÇÃO
Enquanto o boicote dos países
árabes às exportações de petróleo
limita-se ao campo da especulação, a alta do preço do produto está sendo guiada por operações de
grandes especuladores que aproveitam a tensão política no Oriente Médio para lucrar.
A informação consta dos últimos relatórios semanais da CFTC
(Commodity Futures Trading
Commission), órgão sediado em
Washington que é responsável
por fiscalizar contratos no mercado futuro de produtos básicos e
identificar o perfil de operações
que influem nos preços.
O preço do petróleo continuou
sua escalada ontem, ultrapassando a barreira dos US$ 28 pela primeira vez desde setembro do ano
passado. O medo de que o fornecimento do produto possa ser afetado em decorrência da crescente
tensão no Oriente Médio já fez
com que o barril já se valorizasse
mais de 50% em relação à sua menor cotação deste ano.
Em Nova York, o barril subiu
3,1% ontem e encerrou o dia cotado a US$ 27,71, alcançando uma
valorização de praticamente 40%
desde o começo do ano.
A disparada se acelerou depois
que o Iraque, que fornece 5% do
petróleo consumido nos EUA,
ameaçou paralisar suas vendas
para os norte-americanos. Ao
longo do dia, houve um pico de
US$ 28,10 no preço do barril.
Na Bolsa de Londres, o petróleo
tipo brent subiu 6,7%, encerrado
contado a US$ 27,66 O mercado
londrino estava fechado na segunda-feira, por causa do feriado
da Páscoa, e a forte alta de ontem
em parte se deve à compensação
dos quatro dias sem negócios.
A proposta do embargo, lançado pelo Iraque e que já conta com
o apoio do Irã, seria uma resposta
ao apoio dos EUA a Israel. Mas a
ação não deve ir adiante, porque
outros países da Opep (Organização dos Países Exportadores de
Petróleo) opõem-se à idéia.
Tirando proveito
Segundo os relatórios da CFTC,
grandes fundos de investimento
forçaram a subida dos preços no
último mês por meio de um volume acima do normal de contratos. Esses fundos operam sem objetivos comerciais.
O último relatório foi divulgado
na última sexta-feira e, portanto,
não leva em consideração a forte
variação do preço do barril nesta
semana. "No entanto, pode-se ver
que o papel dessas instituições
tem sido marcante na determinação do preço", disse à Folha Tina
Vital, analista de petróleo da Standard & Poor's.
Segundo Tom Bentz, analista do
BNP Paribas em Nova York, um
movimento especulativo tem sido
registrado há semanas, e não somente nos últimos dois dias.
"Percebe-se, pelos dados da
CFTC, que grandes especuladores
estão segurando posições cada
vez maiores, enquanto os preços
têm subido. Essas instituições estão no mercado para antecipar
tendências, e é isso o que estão fazendo, especulando com a situação no Oriente Médio."
Ambos reconhecem que a participação dos grandes especuladores não é o único fator que tem
elevado os preços do produto.
Eles reconhecem que companhias
sem interesses especulativos
compram contratos futuros para
proteger-se de uma alta ainda
maior nos preços.
No entanto, Bentz e Tina não
acreditam que a hipótese de um
embargo dos países árabes tenha
sido suficiente para guiar os preços até o momento. Segundo eles,
não há comparação entre a situação geopolítica atual e a de 1973,
quando um embargo efetivamente foi feito pelos países árabes contra o mundo industrializado. Na
época, o preço do barril foi multiplicado por quatro.
"Hoje, como em 1973, os países
árabes e a Venezuela querem ver
os preços subindo. No entanto,
querem vender petróleo, e não
parar de vendê-lo", disse Bentz.
Segundo Tina, a crise política na
Venezuela, país que fornece um
quinto do petróleo consumido na
América do Norte, é mais grave
que o risco do conflito isolado entre palestinos e israelenses.
As cotações internacionais do
petróleo já estão hoje próximas
dos valores atingidos nos dias que
se seguiram aos ataques de 11 de
setembro, quando havia grandes
incertezas (e especulações), e o
barril disparou para US$ 30.
Segundo analistas, os preços incluem um "prêmio de guerra"
(sobretaxa) entre US$ 3 e US$ 5.
Mas a especulação não deve perdurar, e as cotações devem cair
abaixo de US$ 25 quando ceder a
tensão no Oriente Médio.
"As especulações sofreram o
impacto dos acontecimentos do
Oriente Médio", disse o analista
Mike Rothman, do Merrill Lynch.
"Mas não esperamos que os árabes repitam o erro de 1973."
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