São Paulo, quarta-feira, 03 de abril de 2002

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BARRIL DE PÓLVORA

Fundos especulativos e crise venezuelana também influenciam alta, que não deve se sustentar, dizem analistas

Especulação empurra petróleo para US$ 28

MARCIO AITH
DE WASHINGTON

GIULIANO GUANDALINI
DA REDAÇÃO

Enquanto o boicote dos países árabes às exportações de petróleo limita-se ao campo da especulação, a alta do preço do produto está sendo guiada por operações de grandes especuladores que aproveitam a tensão política no Oriente Médio para lucrar.
A informação consta dos últimos relatórios semanais da CFTC (Commodity Futures Trading Commission), órgão sediado em Washington que é responsável por fiscalizar contratos no mercado futuro de produtos básicos e identificar o perfil de operações que influem nos preços.
O preço do petróleo continuou sua escalada ontem, ultrapassando a barreira dos US$ 28 pela primeira vez desde setembro do ano passado. O medo de que o fornecimento do produto possa ser afetado em decorrência da crescente tensão no Oriente Médio já fez com que o barril já se valorizasse mais de 50% em relação à sua menor cotação deste ano.
Em Nova York, o barril subiu 3,1% ontem e encerrou o dia cotado a US$ 27,71, alcançando uma valorização de praticamente 40% desde o começo do ano.
A disparada se acelerou depois que o Iraque, que fornece 5% do petróleo consumido nos EUA, ameaçou paralisar suas vendas para os norte-americanos. Ao longo do dia, houve um pico de US$ 28,10 no preço do barril.
Na Bolsa de Londres, o petróleo tipo brent subiu 6,7%, encerrado contado a US$ 27,66 O mercado londrino estava fechado na segunda-feira, por causa do feriado da Páscoa, e a forte alta de ontem em parte se deve à compensação dos quatro dias sem negócios.
A proposta do embargo, lançado pelo Iraque e que já conta com o apoio do Irã, seria uma resposta ao apoio dos EUA a Israel. Mas a ação não deve ir adiante, porque outros países da Opep (Organização dos Países Exportadores de Petróleo) opõem-se à idéia.

Tirando proveito
Segundo os relatórios da CFTC, grandes fundos de investimento forçaram a subida dos preços no último mês por meio de um volume acima do normal de contratos. Esses fundos operam sem objetivos comerciais.
O último relatório foi divulgado na última sexta-feira e, portanto, não leva em consideração a forte variação do preço do barril nesta semana. "No entanto, pode-se ver que o papel dessas instituições tem sido marcante na determinação do preço", disse à Folha Tina Vital, analista de petróleo da Standard & Poor's.
Segundo Tom Bentz, analista do BNP Paribas em Nova York, um movimento especulativo tem sido registrado há semanas, e não somente nos últimos dois dias.
"Percebe-se, pelos dados da CFTC, que grandes especuladores estão segurando posições cada vez maiores, enquanto os preços têm subido. Essas instituições estão no mercado para antecipar tendências, e é isso o que estão fazendo, especulando com a situação no Oriente Médio."
Ambos reconhecem que a participação dos grandes especuladores não é o único fator que tem elevado os preços do produto. Eles reconhecem que companhias sem interesses especulativos compram contratos futuros para proteger-se de uma alta ainda maior nos preços.
No entanto, Bentz e Tina não acreditam que a hipótese de um embargo dos países árabes tenha sido suficiente para guiar os preços até o momento. Segundo eles, não há comparação entre a situação geopolítica atual e a de 1973, quando um embargo efetivamente foi feito pelos países árabes contra o mundo industrializado. Na época, o preço do barril foi multiplicado por quatro.
"Hoje, como em 1973, os países árabes e a Venezuela querem ver os preços subindo. No entanto, querem vender petróleo, e não parar de vendê-lo", disse Bentz.
Segundo Tina, a crise política na Venezuela, país que fornece um quinto do petróleo consumido na América do Norte, é mais grave que o risco do conflito isolado entre palestinos e israelenses.
As cotações internacionais do petróleo já estão hoje próximas dos valores atingidos nos dias que se seguiram aos ataques de 11 de setembro, quando havia grandes incertezas (e especulações), e o barril disparou para US$ 30.
Segundo analistas, os preços incluem um "prêmio de guerra" (sobretaxa) entre US$ 3 e US$ 5. Mas a especulação não deve perdurar, e as cotações devem cair abaixo de US$ 25 quando ceder a tensão no Oriente Médio.
"As especulações sofreram o impacto dos acontecimentos do Oriente Médio", disse o analista Mike Rothman, do Merrill Lynch. "Mas não esperamos que os árabes repitam o erro de 1973."



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