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TRABALHO
Estudo feito pelo Dieese mostra que renda média foi de R$ 1.020 para R$ 828 e emprego ficou pior e mais raro
Salário em SP cai 18,8% na década de 90
PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO
O salário médio real do trabalhador caiu 18,8% na região metropolitana de São Paulo na década de 90, segundo o Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Sócio-Econômicos). Em 1989, os trabalhadores
paulistas recebiam em média R$
1.020. Dez anos depois, o salário
médio caiu para R$ 828, segundo
valores deflacionados pelo ICV
(Índice de Custo de Vida), medido pela entidade.
Mesmo em queda, o salário médio em São Paulo, em 1999, ainda
era maior do que em outras quatro regiões metropolitanas brasileiras -Belo Horizonte, Porto
Alegre, Recife e Salvador. Essa é
uma das conclusões apresentadas
no livro "A Situação do Trabalho
no Brasil", cujo objetivo foi fazer
uma radiografia do mercado de
trabalho na década passada, tendo como base a região metropolitana paulista.
De acordo com o livro, de 1989 a
1999 o salário médio do trabalhador encolheu, o desemprego aumentou e a qualidade dos empregos gerados pelo setor produtivo
piorou. O salário mínimo perdeu
poder de compra e a concentração de renda do trabalho permaneceu elevada.
O motivo da queda salarial, diz
o livro, foi o desemprego crescente no período. Nos anos 90, o desemprego atingiu patamares recordes: subiu de 8,7% em 1989 para 19,3% em 1999 na região metropolitana paulista.
A PED (Pesquisa de Emprego e
Desemprego) feita pelo Dieese
apura o desemprego oculto por
desalento (ou desestímulo) e, por
isso, apresenta taxas mais elevadas do que as oficiais, apuradas
pelo IBGE (Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística).
Para Suzanna Sochazewsky,
coordenadora do Dieese e uma
das autoras do livro, a queda dos
salários também foi influenciada
pela menor participação da indústria nas contratações. Em São
Paulo, o salário na indústria recuou 16,8% na década e a participação do setor no total de empregados passou de 33% para 19,6%.
O único segmento no qual o salário médio se expandiu entre
1989 e 1999 foi o de trabalhadores
domésticos, com aumento de
26,1% em São Paulo.
Segundo o Dieese, o percentual
dos empregados com carteira de
trabalho caiu de 67,4% para 56%.
O poder de compra do salário
mínimo desabou. Ao longo da década, ele perdeu 34,52% do que
valia em 1989.
O livro diz que, no Nordeste,
40,9% dos trabalhadores ganham
até um salário mínimo, enquanto
no Sudeste o percentual é de
10,5%. No Brasil, 18,2% ganham
até um salário mínimo.
Discriminação
Mulheres e negros sofrem mais
para se inserir no mercado de trabalho e quando conseguem uma
colocação recebem menos do que
os homens e os brancos, conclui o
livro do Dieese.
Cada vez mais presentes no
mercado de trabalho, as mulheres
têm taxas de desemprego maiores
do que as masculinas.
Em São Paulo, o desemprego feminino atingiu 21,7% em 1999.
Para os homens, a taxa foi de
17,3% -e 19,3% na média da região metropolitana. Em Recife, a
relação é pior: 25,2%, ante 16,6%.
As mulheres ganham menos:
em São Paulo, elas recebiam, em
média, R$ 677 em 1999 e os homens, R$ 1.047.
Para os negros, o quadro é ainda
mais grave. As taxas de desemprego são sempre superiores às dos
brancos e seus salários, muito inferiores. Em São Paulo, o desemprego entre negros ficou em
24,3% em São Paulo, contra 16,8%
para os não-negros. A taxa em
Salvador foi de 29,1%, ante 21,2%.
Em sua conclusão, o livro relata
que, após 50 anos de progressivo
aumento no trabalho assalariado
e formalização das relações de trabalho, houve uma regressão no
mercado, com aumento do desemprego, queda dos rendimentos e concentração da renda.
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