São Paulo, quarta-feira, 03 de abril de 2002

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TRABALHO

Estudo feito pelo Dieese mostra que renda média foi de R$ 1.020 para R$ 828 e emprego ficou pior e mais raro

Salário em SP cai 18,8% na década de 90

PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO

O salário médio real do trabalhador caiu 18,8% na região metropolitana de São Paulo na década de 90, segundo o Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Sócio-Econômicos). Em 1989, os trabalhadores paulistas recebiam em média R$ 1.020. Dez anos depois, o salário médio caiu para R$ 828, segundo valores deflacionados pelo ICV (Índice de Custo de Vida), medido pela entidade.
Mesmo em queda, o salário médio em São Paulo, em 1999, ainda era maior do que em outras quatro regiões metropolitanas brasileiras -Belo Horizonte, Porto Alegre, Recife e Salvador. Essa é uma das conclusões apresentadas no livro "A Situação do Trabalho no Brasil", cujo objetivo foi fazer uma radiografia do mercado de trabalho na década passada, tendo como base a região metropolitana paulista.
De acordo com o livro, de 1989 a 1999 o salário médio do trabalhador encolheu, o desemprego aumentou e a qualidade dos empregos gerados pelo setor produtivo piorou. O salário mínimo perdeu poder de compra e a concentração de renda do trabalho permaneceu elevada.
O motivo da queda salarial, diz o livro, foi o desemprego crescente no período. Nos anos 90, o desemprego atingiu patamares recordes: subiu de 8,7% em 1989 para 19,3% em 1999 na região metropolitana paulista.
A PED (Pesquisa de Emprego e Desemprego) feita pelo Dieese apura o desemprego oculto por desalento (ou desestímulo) e, por isso, apresenta taxas mais elevadas do que as oficiais, apuradas pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
Para Suzanna Sochazewsky, coordenadora do Dieese e uma das autoras do livro, a queda dos salários também foi influenciada pela menor participação da indústria nas contratações. Em São Paulo, o salário na indústria recuou 16,8% na década e a participação do setor no total de empregados passou de 33% para 19,6%.
O único segmento no qual o salário médio se expandiu entre 1989 e 1999 foi o de trabalhadores domésticos, com aumento de 26,1% em São Paulo.
Segundo o Dieese, o percentual dos empregados com carteira de trabalho caiu de 67,4% para 56%.
O poder de compra do salário mínimo desabou. Ao longo da década, ele perdeu 34,52% do que valia em 1989.
O livro diz que, no Nordeste, 40,9% dos trabalhadores ganham até um salário mínimo, enquanto no Sudeste o percentual é de 10,5%. No Brasil, 18,2% ganham até um salário mínimo.

Discriminação
Mulheres e negros sofrem mais para se inserir no mercado de trabalho e quando conseguem uma colocação recebem menos do que os homens e os brancos, conclui o livro do Dieese.
Cada vez mais presentes no mercado de trabalho, as mulheres têm taxas de desemprego maiores do que as masculinas.
Em São Paulo, o desemprego feminino atingiu 21,7% em 1999. Para os homens, a taxa foi de 17,3% -e 19,3% na média da região metropolitana. Em Recife, a relação é pior: 25,2%, ante 16,6%.
As mulheres ganham menos: em São Paulo, elas recebiam, em média, R$ 677 em 1999 e os homens, R$ 1.047.
Para os negros, o quadro é ainda mais grave. As taxas de desemprego são sempre superiores às dos brancos e seus salários, muito inferiores. Em São Paulo, o desemprego entre negros ficou em 24,3% em São Paulo, contra 16,8% para os não-negros. A taxa em Salvador foi de 29,1%, ante 21,2%.
Em sua conclusão, o livro relata que, após 50 anos de progressivo aumento no trabalho assalariado e formalização das relações de trabalho, houve uma regressão no mercado, com aumento do desemprego, queda dos rendimentos e concentração da renda.



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