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OPINIÃO ECONÔMICA
O custo do dinheiro
continua alto
MARCOS CINTRA
Desde setembro de 2005 a
Selic vem caindo. Até o mês
de março a redução foi de 3,25
pontos percentuais. Com a taxa
em queda surgiu a expectativa de
que os juros para o tomador de
crédito pudessem seguir a mesma
trajetória. Afinal, ela é o ponto de
partida para a formação do custo
do dinheiro no sistema financeiro.
A redução da Selic fez cair a remuneração dos bancos aos investidores. O juro médio para as pessoas jurídicas passou de 19,5% em
agosto de 2005 para 16,5% em fevereiro de 2006. Para as pessoas
físicas, a taxa caiu de 18,2% para
15,5%. Porém, na ponta da aplicação, as taxas caíram num ritmo
muito menor, elevando o
"spread" bancário.
De agosto do ano passado até
fevereiro último, o "spread" cobrado das empresas cresceu de
13,7 pontos percentuais para 15,2
pontos percentuais. No caso das
pessoas físicas ele passou de 42,8
p.p.'s (pontos percentuais) para
43,7 p.p.'s. O "spread" geral saltou
de 28,5 p.p.'s para 30,2 p.p.'s.
A explicação para o aumento
dos "spreads" bancários pode estar na expansão da demanda por
crédito. Dados do Banco Central
revelam que o montante das operações com recursos livres saltou
de 14% do PIB em 2003 para cerca de 18% do PIB no começo deste
ano. Segundo a Febraban, em
2006 o crédito total (livre + direcionado) deve manter sua trajetória ascendente iniciada em
2002, quando atingiu 23,% do
PIB, e chegar a 33% do PIB. Apesar do crescimento, o Brasil está
muito aquém de países como Chile (69% do PIB), Coréia e Malásia
(superior a 100% do PIB), Alemanha (120% do PIB) e Estados Unidos (150% do PIB).
Os bancos estão aproveitando o
ganho de escala para elevar suas
margens, sobretudo nas operações com micro, pequenas e médias empresas, já que as grandes
têm captado recursos no mercado
externo, que se apresenta com elevada liquidez.
No final de 1999 o Banco Central implantou o projeto "Juros e
"Spread" Bancário" visando reduzir a elevada margem dos bancos
e o custo das operações de crédito
para o tomador final. Porém em
termos práticos pouco se avançou. Alguns exemplos mostram
que em várias modalidades o custo do capital cresceu e em outras a
redução foi ínfima. Em 2000 o juro anual médio do capital de giro
foi os mesmos 38% observados
nos dois primeiros meses de 2006.
No mesmo período a conta garantida (cheque especial das empresas) registrou elevação de
54,7% para 70%.
O "hot money" saltou de 44,7%
para 51,7%. Para as pessoas físicas a redução em pontos percentuais foi inexpressiva. No cheque
especial foi de 3,5 p.p.'s, e no crédito pessoal, de 1,7 p.p.
O "spread" bancário geral médio (empresas e pessoas físicas)
passou de 27,3 p.p.'s para 29,9
p.p.'s entre 2000 e o início de 2006.
A margem bruta dos bancos se
mantém inflexível, ou melhor, se
mostra crescente.
Um levantamento do Iedi (Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial) com base
em dados do FMI e do Banco
Central mostra que no início de
2003 o Brasil tinha "spread" de
29,4 p.p.'s, enquanto que em países como, por exemplo, a Rússia
ele era de 9,1 p.p.'s, na Índia 5,4
p.p.'s, na China 2,6 p.p.'s, no Chile
3,5 p.p.'s e no México 0,7 p.p.
A dificuldade em reduzir o custo do crédito tem no oligopólio
bancário uma de suas principais
causas. Os bancos no Brasil
atuam de modo cartelizado. As
taxas de juros pouco diferem de
uma instituição para outra. Dados do Procon mostram que em
fevereiro último os sete maiores
bancos privados cobravam ao
mês no empréstimo pessoal de
4,9% a 5,9%. No cheque especial a
taxa variava de 8,2% a 8,5%.
O juro primário no Brasil é o
mais alto do mundo, mas os
"spreads" também são os mais
elevados do planeta. Os bancos
alegam que o problema é o compulsório e a cunha fiscal, que há
concorrência no setor e que o
"spread" não é tão alto como se
afirma.
O argumento carrega uma
meia verdade. De fato o compulsório é alto e os impostos pesam
sobre as operações. Porém no que
tange à concorrência, ela se dá em
termos de marketing, e não por
meio de disputas envolvendo preço (juros e tarifas).
Quanto ao "spread", os bancos
se defendem mostrando um modelo de apuração diferente do tradicional. São três categorias de
"spread" calculadas sobre o capital emprestado. O "spread" bruto
(diferença entre receita de operações de crédito e a de captação)
foi calculado em 8%, o "spread"
direto (obtido pela dedução no
"spread" bruto dos tributos e devedores duvidosos) 5,3% e o
"spread" líquido (que subtrai o
imposto de renda e a CSLL do
"spread" direto) 1%. Contudo,
ainda perdura a questão: se o
mesmo conceito fosse calculado
para outros países, não revelaria
que ele ainda é alto no Brasil?
Em resumo, a Selic cai, mas os
juros cobrados dos tomadores de
crédito continuam escorchantes,
absorvendo parte crescente do esforço do setor produtivo.
Marcos Cintra Cavalcanti de Albuquerque, 59, doutor pela Universidade
Harvard, professor titular e vice-presidente da FGV, foi deputado federal
(1999-2003). Atualmente é secretário
das Finanças de São Bernardo do Campo. É autor de "A verdade sobre o Imposto Único" (LCTE, 2003). Escreve às segundas-feiras, a cada 15 dias, nesta coluna.
Internet: www.marcoscintra.org
E-mail -
mcintra@marcoscintra.org
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