São Paulo, terça-feira, 03 de abril de 2007

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BENJAMIN STEINBRUCH

Fale, não!

Não é hora de jogar água fria na fervura; reduzir a meta de inflação para 2009 seria um equívoco igual ao de 2004

ESTÁ NA praça um novo debate sobre as perspectivas da economia brasileira. Deve o governo, por meio do Conselho Monetário Nacional, reduzir a meta de inflação para 2009?
Fale com gente do setor produtivo é verá que a resposta é "não". Neste momento, a melhor decisão é manter a meta nos mesmos 4,5% fixados para 2006 e para 2007.
A meta de inflação para 2009 parece ser uma preocupação muito distante, alheia à realidade atual.
Não é. O objetivo a ser decidido agora, no primeiro semestre de 2007, terá impacto imediato e relevante sobre a atividade econômica.
Todos querem inflação baixa, até porque ainda estão nas lembranças dos mais velhos os terríveis estragos feitos pela hiperinflação dos anos 1980 e do início dos anos 1990 na economia e, sobretudo, na área social. Mas a inflação, felizmente, à custa de enormes sacrifícios de todos os brasileiros nos últimos 12 anos, deixou de ser a preocupação "número um" da sociedade. É uma surpresa agradável conversar com jovens universitários na faixa de 20 anos e descobrir o quanto lhes parece distante o problema do aumento do custo de vida. Agora, a prioridade geral diz respeito ao crescimento da produção, com o objetivo de melhorar as condições de vida da população por meio do aumento do emprego e da renda.
Reduzir a meta de 2009 para 3,5% ou 4% seria temerário. Isso ofereceria à autoridade monetária, que já deu inúmeras demonstrações de que pouco se importa com o nível de atividade econômica, um mandato para aprofundar ainda mais a sua política conservadora.
O senador Aloízio Mercadante (PT-SP), mesmo pertencendo ao partido do governo, tem sido um incansável crítico dessa política prejudicial ao desenvolvimento. Uma das lições que ele tem procurado passar é a de que o estado de confiança do empresariado brasileiro tem sido fortemente afetado pelos arroubos de conservadorismo. Quando a autoridade monetária exagera na prevenção de eventuais riscos inflacionários, passa uma mensagem que imediatamente coloca o setor empresarial na defensiva. E os investimentos se retraem, porque isso cria incerteza a respeito do crescimento da demanda interna, o que não estimula ninguém a aumentar a produção. Além disso, fica clara a sinalização da continuidade dos ganhos financeiros.
O ano de 2007 começou bem, com a demanda mais aquecida no mercado interno. Uma pesquisa feita pelo Ciesp (Centro das Indústrias do Estado de São Paulo) mostrou que, neste momento, 42% das indústrias paulistas têm planos para aumentar a produção, em comparação com 26% no mesmo período do ano passado. No primeiro bimestre, a indústria criou quase 70 mil empregos formais, com carteira assinada. Em relação a 2006, o saldo dos empregados admitidos na indústria é 63% superior.
Os indicadores gerais da economia são favoráveis. Mantém-se a trajetória de queda da dívida líquida do setor público e o superávit primário permanece em torno de 4,3% do PIB (considerando-se o Produto Interno Bruto "velho"). Os investimentos, embora insuficientes, estão em alta. A dívida líquida externa do setor público não existe mais. O superávit comercial, a despeito do efeito desfavorável do câmbio valorizado sobre as exportações, atinge quase US$ 46 bilhões em 12 meses. O risco Brasil está no nível mais baixo da história. A inflação é cadente, e o mercado projeta índice inferior a 4% para este ano.
Começa a se espalhar, portanto, um clima semelhante ao de 2004, quando o otimismo geral levou a economia a crescer 4,9% -ou 5,7%, se for considerado o cálculo revisado do PIB.
Então, não é hora de jogar água fria na fervura. A redução da meta de inflação pode ser, neste momento, um aval e mais um argumento para que a autoridade monetária interrompa a redução da taxa básica de juros. Seria um equívoco semelhante ao de 2004, quando, no meio do ano, o Banco Central parou de baixar a taxa Selic e mudou o sinal da economia.
Inflação baixa é uma dádiva para a sociedade. Ninguém discorda disso.
No longo prazo, o país poderá perseguir metas inflacionárias mais ambiciosas, semelhantes às dos países desenvolvidos, entre 2% e 3% ao ano. Mas, no curto prazo, essa ambição imporá mais um sacrifício desnecessário.


BENJAMIN STEINBRUCH, 53, empresário, é diretor-presidente da Companhia Siderúrgica Nacional, presidente do conselho de administração da empresa e primeiro vice-presidente da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo).

bvictoria@psi.com.br


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