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BENJAMIN STEINBRUCH
Fale, não!
Não é hora de jogar água fria na fervura; reduzir a meta de inflação para 2009 seria um equívoco igual ao de 2004
ESTÁ NA praça um novo debate
sobre as perspectivas da economia brasileira. Deve o governo, por meio do Conselho Monetário Nacional, reduzir a meta de inflação para 2009?
Fale com gente do setor produtivo
é verá que a resposta é "não". Neste
momento, a melhor decisão é manter a meta nos mesmos 4,5% fixados
para 2006 e para 2007.
A meta de inflação para 2009 parece ser uma preocupação muito
distante, alheia à realidade atual.
Não é. O objetivo a ser decidido agora, no primeiro semestre de 2007,
terá impacto imediato e relevante
sobre a atividade econômica.
Todos querem inflação baixa, até
porque ainda estão nas lembranças
dos mais velhos os terríveis estragos
feitos pela hiperinflação dos anos
1980 e do início dos anos 1990 na
economia e, sobretudo, na área social. Mas a inflação, felizmente, à
custa de enormes sacrifícios de todos os brasileiros nos últimos 12
anos, deixou de ser a preocupação
"número um" da sociedade. É uma
surpresa agradável conversar com
jovens universitários na faixa de 20
anos e descobrir o quanto lhes parece distante o problema do aumento
do custo de vida. Agora, a prioridade
geral diz respeito ao crescimento da
produção, com o objetivo de melhorar as condições de vida da população por meio do aumento do emprego e da renda.
Reduzir a meta de 2009 para 3,5%
ou 4% seria temerário. Isso ofereceria à autoridade monetária, que já
deu inúmeras demonstrações de
que pouco se importa com o nível de
atividade econômica, um mandato
para aprofundar ainda mais a sua
política conservadora.
O senador Aloízio Mercadante
(PT-SP), mesmo pertencendo ao
partido do governo, tem sido um incansável crítico dessa política prejudicial ao desenvolvimento. Uma das
lições que ele tem procurado passar
é a de que o estado de confiança do
empresariado brasileiro tem sido
fortemente afetado pelos arroubos
de conservadorismo. Quando a autoridade monetária exagera na prevenção de eventuais riscos inflacionários, passa uma mensagem que
imediatamente coloca o setor empresarial na defensiva. E os investimentos se retraem, porque isso cria
incerteza a respeito do crescimento
da demanda interna, o que não estimula ninguém a aumentar a produção. Além disso, fica clara a sinalização da continuidade dos ganhos financeiros.
O ano de 2007 começou bem, com
a demanda mais aquecida no mercado interno. Uma pesquisa feita pelo
Ciesp (Centro das Indústrias do Estado de São Paulo) mostrou que,
neste momento, 42% das indústrias
paulistas têm planos para aumentar
a produção, em comparação com
26% no mesmo período do ano passado. No primeiro bimestre, a indústria criou quase 70 mil empregos
formais, com carteira assinada. Em
relação a 2006, o saldo dos empregados admitidos na indústria é 63%
superior.
Os indicadores gerais da economia são favoráveis. Mantém-se a
trajetória de queda da dívida líquida
do setor público e o superávit primário permanece em torno de 4,3% do
PIB (considerando-se o Produto Interno Bruto "velho"). Os investimentos, embora insuficientes, estão
em alta. A dívida líquida externa do
setor público não existe mais. O superávit comercial, a despeito do efeito desfavorável do câmbio valorizado sobre as exportações, atinge quase US$ 46 bilhões em 12 meses. O
risco Brasil está no nível mais baixo
da história. A inflação é cadente, e o
mercado projeta índice inferior a
4% para este ano.
Começa a se espalhar, portanto,
um clima semelhante ao de 2004,
quando o otimismo geral levou a
economia a crescer 4,9% -ou 5,7%,
se for considerado o cálculo revisado
do PIB.
Então, não é hora de jogar água
fria na fervura. A redução da meta de
inflação pode ser, neste momento,
um aval e mais um argumento para
que a autoridade monetária interrompa a redução da taxa básica de
juros. Seria um equívoco semelhante ao de 2004, quando, no meio do
ano, o Banco Central parou de baixar a taxa Selic e mudou o sinal da
economia.
Inflação baixa é uma dádiva para a
sociedade. Ninguém discorda disso.
No longo prazo, o país poderá perseguir metas inflacionárias mais ambiciosas, semelhantes às dos países
desenvolvidos, entre 2% e 3% ao
ano. Mas, no curto prazo, essa ambição imporá mais um sacrifício desnecessário.
BENJAMIN STEINBRUCH, 53, empresário, é diretor-presidente da Companhia Siderúrgica Nacional, presidente do conselho de administração da empresa e primeiro vice-presidente da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de
São Paulo).
bvictoria@psi.com.br
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