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Proposta para elevar transparência cria "racha" na Anatel
Nos bastidores, funcionários da agência reguladora tentam derrubar projeto que prevê reuniões abertas ao público
Mudança foi proposta em março e está em discussão interna; documentos como atas e processos contra empresas seriam abertos
JULIO WIZIACK
DA REPORTAGEM LOCAL
A Anatel (Agência Nacional
de Telecomunicações) entrou
em clima de "guerra civil" desde que, no último dia 19, a conselheira Emília Ribeiro apresentou um projeto para dar
mais transparência às decisões
do conselho diretor, que hoje
tem cinco integrantes, contando o presidente da agência, Ronaldo Sardenberg.
A Folha apurou com operadoras, advogados e alguns técnicos da Anatel que a maioria
dos superintendentes (que gerenciam as áreas técnicas) e
dos conselheiros é contra a
proposta e está criando barreiras para derrubá-la.
Consultados, eles disseram,
por meio de sua assessoria de
imprensa, que se manifestarão
somente quando o tema entrar
na pauta de discussão do conselho diretor.
O projeto ficará à disposição
dos funcionários da Anatel para receber contribuições via internet até o próximo dia 13. A
Folha apurou que até esse processo está complicado. Isso
porque servidores em posição
de comando estariam vetando
as contribuições de sua equipe.
Até o acesso ao sistema (site)
em que são inseridas as contribuições estaria com problemas,
ficando fora do ar com mais frequência.
Para os funcionários, a posição do conselho é clara: vetar as
mudanças. A única defensora é
Ribeiro, que também se negou
a comentar.
Suas propostas somente
aprimoram regras que já deveriam estar em vigor desde a
criação da agência, em 1997. A
principal delas é a realização de
reuniões do conselho diretor
abertas ao público.
O regimento interno da Anatel determina ainda que essas
sessões sejam gravadas, e seu
conteúdo, publicado na internet. Além disso, documentos
-como atas de reuniões, informes, processos administrativos
envolvendo operadoras etc.-
também deveriam ser públicos.
Essas regras nunca foram implementadas. Agora, Ribeiro
quer levá-las adiante.
Segredos comerciais
O racha na Anatel reflete
uma divisão entre as próprias
operadoras, fixas e móveis. Algumas defendem a abertura;
outras, não.
Os motivos são diversos. Elas
são contrárias, por exemplo, à
divulgação de documentos que
possam revelar bastidores de
transações e disputas comerciais antes restritas aos bastidores da agência.
O exemplo mais recente é o
caso entre Embratel e Oi. Para
aprovar a compra da Brasil Telecom (BrT) pela Telemar (Oi),
a Anatel determinou alguns
condicionantes à Oi. Um deles
foi a devolução dos códigos telefônicos (DDD) para chamadas de longa distância em duplicidade após a fusão.
Na prática, isso poderia significar que a Oi deixaria de operar com longa distância em algumas áreas, abrindo espaço
para a Embratel. A Oi entrou
com uma petição na Anatel alegando que cabe a ela escolher o
código a ser devolvido e em que
região. A Embratel acredita no
contrário. Ambas pressionam
os conselheiros.
Outro exemplo se refere à divulgação da investigação feita
pela Anatel sobre a pane do
Speedy, serviço de acesso à internet da Telefônica. A falha,
que deixou 2,4 milhões de
clientes sem acesso durante
três dias em julho de 2009, até
hoje não teve seus motivos devidamente explicados pela
agência, que limitou-se a punir
a operadora.
No país, a Aneel (que regula o
setor elétrico) abriu suas reuniões. No Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica), tribunal que decide as
disputas concorrenciais entre
empresas, as decisões não só
são públicas como seu inteiro
teor fica disponível na internet.
Até as reuniões do STF (Supremo Tribunal Federal) são
transmitidas pela TV.
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