São Paulo, quarta-feira, 03 de maio de 2006

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Mercado deve ficar estagnado, dizem analistas

DA REPORTAGEM LOCAL

Por enquanto, o maior estrago causado pela nacionalização do gás boliviano foi a incerteza criada em relação ao mercado brasileiro de gás, dizem analistas. O risco de desabastecimento é muito pequeno, quase inexistente, mas os preços devem subir, alertam.
"No curto prazo, a incerteza criará certa estagnação do mercado de gás. Quem decidirá usar gás agora? Todo mundo fica assustado", diz Adriano Pires, diretor do CBIE (Centro Brasileiro de Infra Estrutura).
Ele diz avaliar que o risco de paralisação de abastecimento é muito pequeno. Há, claro, um risco econômico, segundo ele. "Se o preço do gás aumentar muito, cai o consumo de gás", argumenta. Ou seja, preços muito mais altos levariam a nova mudança na matriz energética brasileira. O gás tem aumentado sua participação como fonte de energia, tendência inclusive incentivada pelas autoridades, dada a qualidade e as menores emissões de resíduos sólidos do gás relativamente a outros combustíveis.
Mauro Arce, secretário de Energia de São Paulo, diz não acreditar na interrupção do fornecimento de gás. "O objetivo da Bolívia é muito claro. Ela tem dois clientes desse gás, o Brasil e a Argentina. Eles vão tentar repassar aumentos para os compradores."
O aumento do gás na matriz energética é positivo, diz Arce. Mas a dependência apenas de um fornecedor, não. "O que é ruim é dependermos muito do gás boliviano. Temos que diversificar nossas fontes de importação."
Tanto Arce quanto Pires esperam que a negociação entre os governos brasileiro e boliviano e a Petrobras acabe levando a aumento de preços. Ninguém ainda sabe ao certo o impacto e a magnitude da alta, mesmo porque ela dependerá das reivindicações do governo boliviano, que ainda não estão claras.
O grande afetado pelo problema acabará sendo o setor industrial, lembra Arce. Resolver o imbróglio exigirá uma série de decisões, que passa desde a racionalização do consumo até questões ambientais, já que o gás polui menos, por exemplo, do que o óleo.
Arce lembra que dificilmente a crise chegará ao setor residencial. Ainda que o preço aumenta, não há risco nenhum de racionamento de gás para as pessoas físicas, que consomem parcela muito pequena do combustível, apenas 2% do total. "Racionamento não faria nenhum sentido nesse caso", diz o secretário.
Do ponto de vista estratégico, tanto Arce quanto Pires consideram um erro ter incentivado o crescimento do mercado de gás no Brasil confiando quase que exclusivamente no fornecimento de gás da Bolívia. Arce, por exemplo, lembra que ainda que não houvesse incertezas políticas e econômicas em relação ao fornecimento do país vizinho, a situação brasileira seria preocupante.
O secretário de Energia de São Paulo lembra que ainda que o Brasil importasse todo o gás que é possível transportar da Bolívia hoje, ele não seria suficiente para atender à demanda do mercado brasileiro no médio prazo, caso ele continue crescendo à velocidade atual. "Se tivéssemos, por exemplo, que ativar todas as termoelétricas, não haveria gás suficiente", diz. (MARCELO BILLI)


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