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Mercado deve ficar estagnado, dizem analistas
DA REPORTAGEM LOCAL
Por enquanto, o maior estrago
causado pela nacionalização do
gás boliviano foi a incerteza criada em relação ao mercado brasileiro de gás, dizem analistas. O risco de desabastecimento é muito
pequeno, quase inexistente, mas
os preços devem subir, alertam.
"No curto prazo, a incerteza
criará certa estagnação do mercado de gás. Quem decidirá usar gás
agora? Todo mundo fica assustado", diz Adriano Pires, diretor do
CBIE (Centro Brasileiro de Infra
Estrutura).
Ele diz avaliar que o risco de paralisação de abastecimento é muito pequeno. Há, claro, um risco
econômico, segundo ele. "Se o
preço do gás aumentar muito, cai
o consumo de gás", argumenta.
Ou seja, preços muito mais altos
levariam a nova mudança na matriz energética brasileira. O gás
tem aumentado sua participação
como fonte de energia, tendência
inclusive incentivada pelas autoridades, dada a qualidade e as menores emissões de resíduos sólidos do gás relativamente a outros
combustíveis.
Mauro Arce, secretário de Energia de São Paulo, diz não acreditar
na interrupção do fornecimento
de gás. "O objetivo da Bolívia é
muito claro. Ela tem dois clientes
desse gás, o Brasil e a Argentina.
Eles vão tentar repassar aumentos
para os compradores."
O aumento do gás na matriz
energética é positivo, diz Arce.
Mas a dependência apenas de um
fornecedor, não. "O que é ruim é
dependermos muito do gás boliviano. Temos que diversificar
nossas fontes de importação."
Tanto Arce quanto Pires esperam que a negociação entre os governos brasileiro e boliviano e a
Petrobras acabe levando a aumento de preços. Ninguém ainda
sabe ao certo o impacto e a magnitude da alta, mesmo porque ela
dependerá das reivindicações do
governo boliviano, que ainda não
estão claras.
O grande afetado pelo problema
acabará sendo o setor industrial,
lembra Arce. Resolver o imbróglio exigirá uma série de decisões,
que passa desde a racionalização
do consumo até questões ambientais, já que o gás polui menos,
por exemplo, do que o óleo.
Arce lembra que dificilmente a
crise chegará ao setor residencial.
Ainda que o preço aumenta, não
há risco nenhum de racionamento de gás para as pessoas físicas,
que consomem parcela muito pequena do combustível, apenas 2%
do total. "Racionamento não faria
nenhum sentido nesse caso", diz
o secretário.
Do ponto de vista estratégico,
tanto Arce quanto Pires consideram um erro ter incentivado o
crescimento do mercado de gás
no Brasil confiando quase que exclusivamente no fornecimento de
gás da Bolívia. Arce, por exemplo,
lembra que ainda que não houvesse incertezas políticas e econômicas em relação ao fornecimento do país vizinho, a situação brasileira seria preocupante.
O secretário de Energia de São
Paulo lembra que ainda que o
Brasil importasse todo o gás que é
possível transportar da Bolívia
hoje, ele não seria suficiente para
atender à demanda do mercado
brasileiro no médio prazo, caso
ele continue crescendo à velocidade atual. "Se tivéssemos, por
exemplo, que ativar todas as termoelétricas, não haveria gás suficiente", diz.
(MARCELO BILLI)
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