São Paulo, sábado, 03 de maio de 2008

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ANÁLISE

Avaliação não deveria ter tanto peso

JOHN AUTHERS
DO "FINANCIAL TIMES"

Quem tem verdadeiro poder nos mercados mundiais? Ainda parecem ser as agências de classificação.
Os investidores no Brasil não precisaram de muita ajuda ultimamente. Mas a decisão da Standard & Poor's na quarta-feira de elevar sua dívida soberana ao grau de investimento foi galvanizadora. As ações do Brasil imediatamente subiram mais de 7% em dólares.
Desde que o presidente Lula foi eleito, no final de 2002, em meio a temores de que ele esmagasse a economia, o índice Bovespa ganhou 1.600% em dólares. A alta de quarta-feira no valor de mercado foi maior que o valor de toda a Bovespa em 2002.
Pode a opinião da S&P fazer tamanha diferença? O mercado pode expressar sua própria opinião sobre o risco de uma moratória, e ele mostra o Brasil como um crédito em grau de investimento há algum tempo. Antes da crise de crédito, seus títulos eram negociados por menos de 140 pontos básicos a mais que os do Tesouro dos Estados Unidos.
Quando o México atingiu o grau de investimento, em 2002, foi negociado com uma margem de mais de 300 pontos. A opinião da S&Ps só é importante porque muitos fundos de pensão públicos terceirizaram sua devida diligência para as agências. Agora que o Brasil tem grau de investimento, mais fundos internacionais podem comprar seus títulos.
Isso terá os efeitos em longo prazo no "mundo real" de reduzir os custos do capital no Brasil e aprofundar seus mercados de capitais. Também vai empurrar mais para cima o real, que duplicou em relação ao dólar em seis anos.
A elevação da nota em si não é surpresa, mas veio meses antes do que os analistas esperavam. Portanto é um bom motivo a mais para as ações brasileiras dispararem. Mas cuidado: a classificação da Standard & Poor's deveria ser tão importante? A resposta é não. Como aprendemos com a crise de crédito, é perigoso que tantos dêem tanto peso à avaliação de uma agência de classificação.


Tradução de LUIZ ROBERTO MENDES GONÇALVES


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