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Relator da ONU pede limite a biocombustível
Para funcionário, metas de produção de álcool estabelecidas por EUA e União Européia são irresponsáveis
DA FOLHA ONLINE
O novo relator da ONU para o
Direito à Alimentação, Olivier
De Schutter, pediu que se limite a produção de biocombustíveis para enfrentar a alta dos
alimentos observada em todo o
mundo, segundo entrevista ao
jornal francês "Le Monde".
Ao falar do efeito do crescimento da produção de biocombustíveis, apontado como um
dos motivos para a alta no preço dos alimentos, ele disse que,
apesar de não defender uma
moratória no sentido jurídico e
de ter consciência de que não
há volta quando se vê o peso
que eles têm em um país como
o Brasil, é preciso impor limites. "As metas ambiciosas em
matéria de produção de biocombustíveis estabelecidas nos
Estados Unidos e na União Européia são irresponsáveis."
Para ele, dedicar 25% da colheita de milho à produção de
combustível com ajuda pública
é "um escândalo". Ele propôs
que sejam congelados os investimentos nesse setor.
De Schutter manifestou ceticismo sobre as promessas de
eficiência dos biocombustíveis
de segunda geração: "É preciso
consumir menos energia, utilizar menos automóveis e não
criar expectativas sobre a capacidade das novas tecnologias de
nos permitir manter nosso nível de vida ocidental".
O relator da ONU criticou
também a especulação de produtos alimentícios, que estaria
por trás da atual crise de alimentos em mais de 40 países, e
pediu apoio para a agricultura
nas nações pobres e dependentes do exterior.
De Schutter, que substituiu
Jean Ziegler (um crítico dos
biocombustíveis) no cargo na
ONU, considerou "indesculpável" a falta de ação da comunidade internacional, que, durante anos, ignorou aqueles que pediam "que se apoiasse a agricultura nos países em desenvolvimento". "Não foi feito nada contra a especulação de matérias-primas", que foi alimentada pela queda da Bolsa, disse
ele, antes de afirmar que a crise
atual evidencia os "limites da
agricultura industrial".
O relator também criticou o
Banco Mundial e o FMI por terem incitado "os países mais
endividados, em particular na
África subsaariana, a desenvolver cultivos de exportação e a
importar os alimentos que consomem". Segundo ele, "essa liberalização tornou-os vulneráveis à volatilidade dos preços.
Para De Schutter, a auto-regulação do mercado "não é a solução, mas o problema", levando em conta que o mercado agrícola não é elástico, já que a
quantidade de terras cultiváveis não pode ser ampliada "infinitamente".
O funcionário da ONU também defendeu uma modificação das regras da propriedade
intelectual de "um pequeno
número de empresas" e citou
Monsanto, Dow Chemical e
Mosaic, que controlam as patentes das sementes, dos pesticidas e dos fertilizantes e cujos
lucros não param de crescer.
Quanto aos subsídios à agricultura nos países ricos, afirmou que o sistema é "uma vergonha", após lembrar que enquanto os camponeses das nações da OCDE (Organização
para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico) recebem
US$ 350 bilhões em ajuda ao
ano, nos países em desenvolvimento esse valor se limita a
US$ 1 bilhão.
No entanto De Schutter defendeu uma "supressão gradual" desses subsídios, já que,
se isso fosse feito de forma súbita, os países pobres que compram alimentos dos ricos teriam que pagá-los, a princípio,
mais caros.
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