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OPINIÃO ECONÔMICA
A influência dos especialistas na economia brasileira
JOSÉ DUTRA VIEIRA SOBRINHO
O brasil passou por várias
crises nos últimos anos, a
maioria sem justificativas convincentes. Não vamos falar do período anterior ao Plano Real, e sim a
partir dele.
A implementação do Real foi
um sucesso! Trocamos nossa
moeda com eficácia, em tempo
recorde e sem nenhum trauma,
fato que, com justa razão, nos encheu de orgulho. Mas, a partir
desse sucesso inicial, passamos a
cometer uma série de equívocos.
No governo Collor já tínhamos
colocado fim às barreiras alfandegárias, fato esse que, isoladamente, permitiria a entrada dos produtos importados em excelentes
condições de competitividade; esperava-se com essa concorrência
um aumento da produtividade
industrial e agrícola, melhoria da
qualidade dos nossos produtos e
redução nos seus preços.
E, a partir da implantação do
Real, no início de julho de 1994,
um fato inédito e não previsto por
nenhum economista brasileiro
começou a tomar corpo: a valorização da nossa moeda em relação
às demais.
E, se não bastassem esses dois
fatores, o governo adotou a política de manter elevadas nossas taxas de juros com o objetivo de
controlar a inflação e atrair maior
volume de capital estrangeiro, o
que realmente aconteceu. Nossas
taxas reais de juros, que há muitos
anos já eram das mais elevadas do
mundo, tornaram-se imbatíveis!
Com esse trio, encancaramento
às importações, valorização excessiva da nossa moeda e taxas
reais absurdamente elevadas, a
indústria e a lavoura passaram a
enfrentar dificuldades crescentes
com a concorrência desleal
-porque mal planejada- dos
produtos importados. Resultado:
redução da produção voltada para o mercado interno e principalmente externo, fechamento de
empresas, desemprego, redução
da renda global e consequente recessão.
Os problemas que se sucederam
em nossa economia foram decorrentes principalmente das medidas citadas. Por isso, entendo que
não procede a afirmação generalizada de que as crises brasileiras
ocorridas em setembro/97, outubro/98 e janeiro/99 tiveram como
causas as crises ocorridas, respectivamente, na Ásia e na Rússia,
sendo a última atribuída inicialmente à inadimplência mineira, a
chamada "crise do pão de queijo".
A verdade é que essas crises aconteceriam naturalmente no Brasil,
mesmo que não houvesse um
único país em crise no mundo!
Foram causadas principalmente
pelos equívocos -para usar um
termo mais ameno- cometidos
no planejamento e na condução
das políticas monetária e cambial.
O tempo passou, resolvemos ou
minimizamos alguns problemas,
como o da valorização da nossa
moeda, surgiram ou acentuaram-se outros, como o crescimento da
dívida interna, mas os demais
continuam. E entre esses os que
mais preocupam atualmente são
o tamanho da taxa de juros e a
vulnerabilidade da nossa economia em relação aos acontecimentos internos e externos, muitos
deles imaginários ou fabricados.
Todos, com raríssima exceção,
concordam que as nossas taxas de
juros são elevadas e têm que baixar. Entretanto existe uma enorme resistência à sua efetivação.
Com base no noticiário do dia-a-dia, tem-se a nítida impressão de
que as políticas monetária e cambial são fortemente influenciadas
por profissionais -economistas,
técnicos, executivos- que atuam
em setores específicos do mercado brasileiro. Um exemplo típico
se refere às opiniões, quase unânimes, para justificar eventuais alterações na taxa Selic, amplamente
divulgadas pela imprensa antes
das reuniões do Copom.
Entre os acontecimentos externos "importantes" que afetam
diariamente o nosso mercado financeiro e de capitais, é impossível não mencionar a Argentina,
fonte inesgotável de razões para
as nossas crises. Fico até com a
impressão de que, se os problemas vivenciados pelo nosso vizinho até há um ano tivessem ocorrido no Brasil, teriam feito menos
estragos na nossa economia.
Estou convencido, também nesse caso, que a nossa preocupação
sempre foi, e continua sendo, exagerada. E explico. Até janeiro de
1999 a Argentina, que continua
tendo no Brasil o seu principal
aliado comercial, canalizava para
o nosso país quase um terço das
suas exportações; com esse grau
de dependência, é evidente que a
economia argentina teria que sofrer, como realmente sofreu, as
consequências negativas da desvalorização da nossa moeda ocorrida naquela época. Já a dependência comercial do Brasil em relação àquele país é bem menor:
exportávamos cerca de 13% do total, caindo atualmente para um
pouco mais de 10%.
Parece que tudo de mais grave
que poderia acontecer para a Argentina já aconteceu. Em relação
à economia desse país, não existem hoje, para o mercado brasileiro, razões suficientes que justifiquem quedas prolongadas nas
Bolsas de Valores, flutuações exageradas na cotação dólar e manutenção de taxas de juros em níveis
tão elevados.
Há outros fatores externos citados com frequência para justificar
crises passadas e futuras: o preço
do petróleo e as perspectivas da
economia americana. Com relação ao petróleo, os preços sempre
oscilaram, e vão continuar oscilando, em função de acontecimentos políticos ou de conflitos
entre países, produtores ou não.
Esses problemas, por serem rotineiros, não deveriam mais ser tão
valorizados.
As perspectivas da economia
americana, em que pese a sua importância para o mundo, têm recebido dos nossos analistas um
destaque exagerado. Basta analisar os efeitos reais causados pelos
atentados terroristas de setembro
do ano passado, tanto na economia americana como na brasileira, e comparar com tudo aquilo
que foi divulgado na época. Era o
apocalipse!
Por fim, uma observação. É imprescindível que os economistas e
demais estudiosos e especialistas
em assuntos econômicos e financeiros, que têm entendimento diferente do que vem sendo sistematicamente divulgado, venham
a público para externar suas opiniões. É salutar que também haja
no Brasil concorrência sobre a interpretação técnica e científica
dos fatos econômicos.
José Dutra Vieira Sobrinho, 63, é economista e professor de matemática financeira.
E-mail -
jdutravs@aol.com.br
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