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São Paulo, terça-feira, 03 de junho de 2003

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Para o vice-presidente, definições técnicas têm dado errado

Alencar diz que questão dos juros é decisão para político

Alan Marques/Folha Imagem
Ao lado do senador Paulo Paim (esq.), o vice José Alencar volta a criticar os juros altos no país


WILSON SILVEIRA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O vice-presidente José Alencar afirmou ontem que os juros altos "matam a economia" e sugeriu que as definições sobre o assunto sejam tomadas na "esfera política" de agora em diante, porque as decisões técnicas "têm dado errado". Para ele, que ontem ocupava interinamente o cargo de presidente da República, a questão dos juros "não é decisão para economista, é decisão para político".
Sobre os juros cobrados pelos bancos, Alencar disse que "nunca houve na história do Brasil maior transferência de renda oriunda do trabalho em benefício do sistema financeiro. É um absurdo o que está acontecendo". Esses juros, afirmou, não são apenas um despropósito, são um "assalto".
As entrevistas de Alencar e do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em Genebra, foram praticamente simultâneas -por volta das 12h. Alencar falou ao lado do vice-presidente do Senado, Paulo Paim (PT-RS), que também ocupava interinamente a presidência daquela Casa.
Sobre a opinião de técnicos que insistem na necessidade de manter os juros altos, Alencar afirmou: "Por isso é que nós precisamos de decisões políticas. Isso [a queda dos juros] não é decisão para economista, é decisão para político, isso é decisão para ser tomada na esfera política". Ao justificar a opinião, disse que as decisões técnicas "têm dado errado".
A assessoria do Banco Central não fez comentários sobre a fala do vice. O BC é o responsável pela definição da taxa básica de juros.
Alencar disse que é impossível reduzir o desemprego e o subemprego sem baixar as taxas de juros. Segundo ele, é um equívoco combater a inflação no Brasil com juros altos, porque a inflação não é provocada pela demanda.
Alencar elogiou as primeiras medidas do Ministério da Fazenda, que afastaram a possibilidade de descontrole de preços, mas disse que a ameaça hoje é outra.
"O mundo inteiro está vivendo outra ameaça, qual seja, a da recessão, da deflação, que, qualquer economista sabe, é tão danosa quanto a inflação", disse Alencar.
Questionado sobre a possibilidade de o BC manter de novo a taxa em 26,5% ao ano, Alencar respondeu de forma irônica. "Dizem que as taxas não baixaram no mês passado porque eu falei. De pirraça, não baixaram", disse. Afirmou ainda que, daqui para a frente, vai falar: "Mantenham os juros, aumentem os juros".


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