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São Paulo, terça-feira, 03 de junho de 2003

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LUÍS NASSIF

"Em todo lugar é assim"

Na manifestação coletiva de protesto contra a coluna -por suas críticas a essa promiscuidade entre mercado e diretores do BC-, uma afirmação chamou a atenção: a de que "em todo lugar é assim" -os países se beneficiarem do supremo desprendimento de técnicos do mercado se disporem a largar uma remuneração polpuda para servir à pátria.
A coluna defendeu que, para um BC autônomo, é necessário um corpo de funcionários permanentes, que não transformem o BC em trampolim para suas carreiras. A resposta dos brilhantes operadores do BC foi que "em todo lugar é assim" -recorrer a técnicos do mercado para dirigir o banco.
O que diz o site do BIS, no qual se encontram os currículos de todos os dirigentes de BCs de todo o mundo? Onde há autonomia do BC quem o controla é um conselho de alto nível, que não se confunde com sua direção executiva. Em praticamente todos os países relevantes a diretoria executiva é composta por servidores do Estado ou com currículo excepcional e sem nenhuma vinculação com o setor lucrativo do mercado financeiro.
Confira-se e compare-se o currículo desses presidentes do BC com o de Henrique Meirelles e seus apóstolos:
a) Sir Edward George, presidente do Banco da Inglaterra, é funcionário da instituição desde 1962;
b) Ernst Welteke, presidente do Banco Central da Alemanha, é servidor do Estado de Hessen desde 1972;
c) Jean Claude Trichet, do BC francês, faz parte do quadro dos Inspecteur des Finances da França desde 1971;
d) David Dodge, presidente do BC do Canadá, sempre foi funcionário do governo federal;
e) Arnout Wellink, presidente do Banco Central da Holanda, é funcionário do Ministério das Finanças desde 1977;
f) na Suécia, o conselho geral do Sveriges Riksbank, com 11 membros, é indicado pelos quatro partidos com representação parlamentar. Abaixo dele há uma junta executiva de seis membros, professores ou servidores;
g) na Suíça, o conselho geral tem 40 membros que supervisionam a direção executiva presidida por Jean Pierre Roth, funcionário do Banco Nacional da Suíça desde 1979;
h) no Chile, o presidente do Banco Central, Carlos Massad, um servidor do mundo não-competitivo, já era funcionário do banco em 1964 e também trabalhou na Cepal entre 1974 e 1992.
i) nos EUA, Alan Greenspan começou a vida como consultor econômico em 1954 e exerceu a função até 1987. Nunca foi banqueiro, corretor ou operador de Bolsa. Seu segundo, o vice-chairman Roger W.Ferguson Jr., é um professor de economia desde 1984. Edward M.Gramlich, membro do board executivo, é professor desde 1976 e funcionário do birô orçamentário do Congresso desde 1986. Ben S.Bernanke, membro do board executivo, é exclusivamente professor desde 1985. Donald L.Kohn, membro do board executivo, é funcionário de carreira da própria instituição desde 1970.

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