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São Paulo, terça-feira, 03 de junho de 2003

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COMÉRCIO

Aumenta o número de pessoas que "limpam o nome" em São Paulo

Há quatro meses, venda a prazo só cai

ADRIANA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL

Há quatro meses consecutivos o comércio de São Paulo só acumula queda nas vendas a prazo. Os dados foram anunciados ontem. Um cenário como esse não acontece há tempos -a última retração por mais de três meses seguidos ocorreu em 1999, após o governo fixar taxa de juros de 45% ao ano, o que acabou "travando" o setor naquela época.
A retração nas vendas parceladas anunciada ontem - 5,3% em maio, em relação a igual período de 2002- ocorre após várias quedas apuradas no ano, informa a ACSP, entidade que representa o setor em São Paulo.
Houve retração em fevereiro (-1,3%), em março (-4,2%) e em abril (-8,5%) em comparação a igual mês em 2002.
No acumulado de janeiro a maio, o varejo -são 30 mil lojas na capital, associadas ao sindicato dos lojistas- já registra retração de 3,7% na venda parcelada em relação a 2002.
Dados da Serasa (Centralização de Serviços Bancários), anunciados na semana passada, se confirmaram ontem. Cresceu o número de pessoas interessadas em "limpar" o nome em São Paulo. A Serasa havia notado essa tendência em uma pesquisa nacional.
Foram cancelados 232,4 mil registros de pessoas em situação de inadimplência na capital. É o maior número do ano. A maior alta ocorre, historicamente, em dezembro quando o cliente usa o 13º salário para pagar dívida.
A Serasa já mostrou que, de janeiro a abril, de cada cem pessoas que entraram na lista de endividados no país, 72 conseguiram, no mesmo período, sair dessa lista. No primeiro quadrimestre de 2002, o número era de 37.
Quando a comparação sobre vendas é feita em relação ao mês anterior (maio contra abril), há expansão na venda de 16,7%. O número, no entanto está "comprometido", diz a associação. Essa alta só ocorre porque o resultado em abril foi fraco e, portanto, na hora de comparar há uma tendência natural para a elevação.
Alberto Serrentino, sócio da consultoria Gouvêa de Souza & MD, especialista em varejo, faz um alerta a respeito desse cenário. "As lojas praticaram promoções seguidas e o consumidor já perdeu a percepção de valor dos produtos. O varejo deseducou o consumidor. Na tentativa de limpar estoque e gerar caixa, o setor caiu numa "armadilha" e há promoções que já perderam o fôlego", afirma ele.
Nos EUA, por exemplo, 78% dos produtos vendidos são itens que sofreram remarcação, informa ele. Ou seja, de mercadorias em promoção. Em 1996, esse índice era de 35%. No Brasil não há estatísticas, mas Serrentino acredita que a taxa tenha crescido de forma considerável nos anos 90.
Além dos dados de venda parcelada, a ACSP apresentou resultados sobre venda à vista. "Se no passado esses pagamentos "seguravam" o desempenho do setor, agora isso não acontece mais", afirma Emílio Alfieri, economista da associação.
A venda à vista caiu 4,1% em maio sobre o mesmo mês de 2002.
O cálculo é feiro com base na consulto de lojistas à ACSP. Quando a loja vai liberar a venda, ela consulta o sistema da ACSP para verificar se o consumidor está inadimplente. Essa consulta é utilizada como uma forma de controlar, portanto, o nível de vendas do setor.


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