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LUÍS NASSIF
Petrobras e sua história
Independentemente do
nome que se dê, se desenvolvimentismo ou neoliberalismo, não há ideologia que
possa deixar de lado a prioridade maior de criar investimentos e empregos no país.
Diferentemente dos Estados
Unidos, desde 1988 o país não
dispõe de uma política de
compras públicas que privilegie empresas nacionais, sem
paternalismo. É ferramenta
que foi adotada por todos os
países desenvolvidos, no seu
processo para alcançar o desenvolvimento, e em muitos
deles depois que viraram
grandes potências.
Por isso mesmo, duas decisões saltam à vista neste momento. Numa ponta, a decisão
do BNDES (Banco Nacional
de Desenvolvimento Econômico e Social) de negociar com
a Embraer aumento do índice
de nacionalização, em troca
da renovação dos financiamentos ao avião. Fixou-se
uma meta de 55%, a ser alcançada em dois anos. Trata-se de
típica medida de política industrial, com reflexos positivos sobre investimento e emprego internos, negociada com
a empresa e, portanto, não interferindo na lógica do seu negócio.
Na ponta inversa, a política
da Petrobras de investir seu
enorme excedente de caixa na
compra de ativos internos, no
setor de gás, com a Liquigás, e
em outras áreas.
É um contra-senso. Em períodos anteriores, a Petrobras
foi uma notável indutora de
modernização industrial no
país. Foi decisiva para ajudar
a construir uma indústria de
base competitiva e aprimorá-la com sucessivos programas
de qualidade.
Os recursos que acumulou
com os lucros recordes do ano
passado teriam que visar investimentos novos, geradores
de demanda interna, de capacitação de fornecedores. Em
vez disso, surge no noticiário
seu interesse em adquirir a Liquigás, uma empresa estrangeira de distribuição de gás.
A primeira contra-indicação é que esse investimento
não adicionará nenhum centavo à capacidade industrial
brasileira. Meramente haverá
uma troca de controle da companhia. A segunda é que provocará redução de empregos,
que sempre acompanha processos de compra e reestruturação. A terceira é que significará transferência de dólares
para o exterior, em um momento de turbulência no mercado internacional. A quarta é
que implicará problemas de
competição, já que a Petrobras
será, ao mesmo tempo, fornecedora principal de matéria-prima e competidora de seus
clientes.
É evidente que não se pode
deixar aumentar a concentração no setor de gás liquefeito.
Mas essa preocupação pode
ser atendida fixando-se regras
claras para a entrada de novos
agentes.
Há muitas discussões sobre
se a Petrobras deve se comportar com a lógica de uma empresa privada ou ser instrumento de políticas de competitividade. Seja qual for a lógica
a ser adotada, no campo dos
investimentos e das compras
públicas, a Petrobras tem que
adaptar sua política de investimentos às prioridades do
país e tem que voltar a se legitimar como um agente efetivo
de desenvolvimento e indutor
de industrialização.
Se a própria Embraer foi enquadrada, para aumentar o
índice de nacionalização dos
seus componentes, a Petrobras
tem que retomar seu compromisso histórico com o desenvolvimento nacional.
E-mail -
Luisnassif@uol.com.br
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