São Paulo, quinta-feira, 03 de junho de 2004

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TANGO

Investidores estrangeiros criticam nova proposta de reestruturação da dívida

Credor vê perdas em oferta argentina

CLÁUDIA DIANNI
DE BUENOS AIRES

A proposta de reestruturação da dívida em moratória feita ontem pelo governo argentino foi mais criticada pelos credores externos do que pelos investidores nacionais. Para garantir a adesão que espera, acima de 70% do total de credores, o presidente Néstor Kirchner pretende engajar-se pessoalmente na busca de apoio de governos dos países ricos.
Os credores estrangeiros detêm mais de 60% da dívida em "default". Entre os investidores argentinos, estão os fundos de pensão, que possuem 20% dos títulos em moratória e são responsáveis pela aposentadoria de 9,5 milhões de argentinos. De acordo com Luciano Laspina, da MacroVisión, os novos bônus que estariam destinados aos fundos de pensão têm prazo de 37 anos e uma taxa fixa de 5,57%, sem considerar a inflação. "Aceitar esse instrumento implicaria uma importante perda. Seria um golpe duro nas aposentadorias privadas", afirmou.
Ontem, Kirchner voltou a dizer que a proposta é definitiva, como também havia dito a respeito da proposta de Dubai, que acabou sendo substituída. "Não haverá repescagem. A proposta está dentro de nossas possibilidades."
A nova oferta do governo mantém o desconto de 75% sobre o valor nominal da dívida, de US$ 81 bilhões, mas aceita incluir os juros, com variações que dependem do número de adesões.
Ontem, o principal título argentino negociado no exterior, o Global 2008, sofreu uma desvalorização de US$ 0,35. A queda foi provocada pela reação dos credores estrangeiros, de acordo com o jornal "Financial Times".

Ridículo
Hans Hume, diretor do Comitê Global, que reúne investidores com cerca de US$ 37 bilhões em títulos argentinos, qualificou a proposta de "ridícula". Para ele, a condução do tema pelo governo, que considera unilateral, é inaceitável. "A proposta é mais generosa do que a anterior, mas vai ser difícil conseguir uma participação massiva, porque estão pedindo que aceitem uma perda enorme", disse ao "FT" Richard Segal, da corretora Exotix, de Londres.
Os credores argentinos disseram que ainda não estão satisfeitos com a proposta, mas destacaram o fato de que houve melhora. O diretor da Associação de Investidores da República Argentina (AARA), Carlos Baéz Silva, acha que a oferta "é um símbolo de amadurecimento do governo por incluir os juros". Ele destacou, porém, ao jornal "Clarín", que a proposta não leva em conta as pessoas, mas grandes investidores. "Os idosos não podem esperar 42 anos para receber", afirmou.


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