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Subsídio é arma de destruição, diz Amorim
Chanceler brasileiro afirma em Roma que o resultado da política de países ricos é a fome no mundo
CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A ROMA
Menos de uma hora depois
de o secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon, ter
dito ao presidente Luiz Inácio
Lula da Silva que pretendia evitar uma excessiva politização
da chamada "Cúpula da Fome",
que começa hoje, o chanceler
brasileiro Celso Amorim disparou um torpedo na direção dos
países ricos.
Amorim chamou os subsídios agrícolas -que são concedidos principalmente por EUA
e União Européia- de "armas
de destruição em massa, que
causam fome no mundo".
A declaração do chanceler é
parte da ofensiva brasileira para evitar o que ele próprio chamou de "fantasma", qual seja, a
suposição de que os biocombustíveis sejam responsáveis,
ainda que parcialmente, pela
disparada dos preços de alimentos, hoje o problema principal do planeta.
"O Brasil é parte da solução,
não parte do problema", disse
Amorim, em alusão ao fato de
que o álcool obtido da cana-de-açúcar não toma áreas de produção de comida, não causa
desmatamento na Amazônia e
não polui como os combustíveis derivados do petróleo.
O presidente Lula repetirá a
mensagem no discurso que fará
hoje na Conferência de Alto Nível sobre Segurança Alimentar
Mundial - Os Desafios da Mudança Climática e da Bioenergia, na capital italiana.
Terá o respaldo da presidente da Argentina, Cristina Fernández de Kirchner, com a qual
se reuniu ontem à tarde na embaixada brasileira em Roma.
Após o encontro, o chanceler
argentino, Jorge Taiana, atacou
os subsídios, como Amorim.
Taiana disse que os dois governantes expressaram "grande
coincidência sobre a necessidade de atacar os aspectos estruturais" do problema dos preços
dos alimentos.
Desenha-se, dessa forma, um
conflito no velho estilo Norte-Sul, na medida em que o mundo rico não mostra a menor disposição de enfrentar o problema dos subsídios à agricultura.
Tanto é assim que, apesar da
ênfase de Brasil e Argentina, o
esboço do documento final é
vago a respeito. Limita-se a dizer: "Encorajamos a comunidade internacional a continuar
seus esforços para a liberalização do comércio internacional
na agricultura por meio da redução de barreiras comerciais,
de programas de suporte e outras medidas que têm distorcido os mercados mundiais por
tanto tempo".
Parece a reprodução das palavras de Taiana e Amorim,
mas, na prática, os países ricos
condicionam a liberalização do
comércio agrícola a uma liberalização mais ampla da indústria
e dos serviços nos países em desenvolvimento. Os biocombustíveis, projeto preferencial do
presidente Lula, entram no documento final, ao menos no esboço obtido pela Folha, nem
como heróis nem como vilões.
Aliás, todo o trecho a eles referente ainda estava entre colchetes, que é a maneira que os
diplomatas encontram para expressar desacordos a serem
desfeitos apenas por seus superiores hierárquicos.
Todas as três versões entre
colchetes apenas remetem "os
desafios colocados pelos biocombustíveis" para "estudos
em profundidade" e para "um
diálogo internacional". Está
longe de ser a revolução energética que Lula neles antevê.
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