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COLAPSO DA ARGENTINA
Plano é fazer eleições em março e empossar o eleito em maio, seis meses antes do prazo atual
Duhalde surpreende e antecipa eleições
JOÃO SANDRINI
DE BUENOS AIRES
Acuado pela crescente crise econômica e tensão social, o presidente argentino, Eduardo Duhalde, surpreendeu ontem ao anunciar que vai antecipar em seis meses a eleição presidencial que estava marcada para setembro de
2003. Ele também convidou todos
os políticos argentinos a adiantar
o fim de seus mandatos.
Em cadeia de rádio e TV, Duhalde disse que a eleição será realizada no próximo mês de março.
Um possível segundo turno aconteceria em abril. Dessa forma, ele
entregaria o cargo no dia 25 de
maio, data em que os argentinos
comemoram o início do processo
de independência da Espanha.
Antes da eleição de março, haveria uma eleição prévia em novembro, quando seriam escolhidos em votações abertas à população os candidatos de cada partido
político.
Duhalde afirmou que a proximidade do acordo com o FMI influenciou em sua decisão, já que
estaria cumprida a promessa de
levar o país de um ambiente "pré-anárquico" para um "positivo".
No entanto ainda há dúvidas sobre a validade legal do novo cronograma eleitoral. Duhalde foi
eleito indiretamente pelo Congresso para permanecer no cargo
até dezembro de 2003 -data em
que terminaria o mandato do ex-presidente Fernando de la Rúa
(1999-2001)- e não tem poder legal para decidir sobre o adiantamento da eleição.
No entanto o presidente acredita que poderia obter o consenso
para aprovar no Congresso uma
reforma da chamada Lei de Acefalia -que foi usada como base
para sua eleição em janeiro deste
ano- e possibilitar a implementação da medida.
Além disso, Duhalde também
poderia argumentar que a ata da
sessão do Congresso em que foi
decidida sua nomeação não prevê
a data de setembro de 2003 para a
realização da eleição.
A decisão final sobre a estratégia
para viabilizar o adiantamento da
eleição seria decidida na noite de
ontem, em reunião com lideranças peronistas.
Motivos
A decisão de Duhalde surpreendeu a população e a própria classe
política de todo o país, apesar de
analistas políticos já preverem há
algum tempo que Duhalde não se
manteria no cargo até o término
de seu mandato devido à debilidade do governo.
Sem conseguir resolver os principais problemas, o presidente
enfrentou nos últimos meses o
crescente descontentamento da
população. Segundo pesquisas
realizadas recentemente, mais de
60% dos argentinos aprovavam a
antecipação da eleição.
Além disso, uma pesquisa divulgada no último domingo pela
consultoria Hugo Haime & Associados mostrou que 55,1% dos argentinos sentiam raiva ao serem
obrigados a encarar uma realidade que inclui a taxa de pobreza de
51,4% da população e de um nível
de desemprego de quase 25% dos
trabalhadores.
Para o analista político Hugo
Haime, a morte dos dois piqueteiros durante os protestos da semana passada só teria acendido o "sinal de alerta no governo de que as
coisas poderiam piorar, e não melhorar, daqui para a frente".
Também circularam boatos ontem na Argentina de que Duhalde
teria decidido antecipar as eleições pressionado pelo FMI (Fundo Monetário Internacional). Para Haime, essa possibilidade "não
pode ser totalmente descartada".
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