São Paulo, quarta-feira, 03 de julho de 2002

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COLAPSO DA ARGENTINA

Plano é fazer eleições em março e empossar o eleito em maio, seis meses antes do prazo atual

Duhalde surpreende e antecipa eleições

JOÃO SANDRINI
DE BUENOS AIRES

Acuado pela crescente crise econômica e tensão social, o presidente argentino, Eduardo Duhalde, surpreendeu ontem ao anunciar que vai antecipar em seis meses a eleição presidencial que estava marcada para setembro de 2003. Ele também convidou todos os políticos argentinos a adiantar o fim de seus mandatos.
Em cadeia de rádio e TV, Duhalde disse que a eleição será realizada no próximo mês de março. Um possível segundo turno aconteceria em abril. Dessa forma, ele entregaria o cargo no dia 25 de maio, data em que os argentinos comemoram o início do processo de independência da Espanha.
Antes da eleição de março, haveria uma eleição prévia em novembro, quando seriam escolhidos em votações abertas à população os candidatos de cada partido político.
Duhalde afirmou que a proximidade do acordo com o FMI influenciou em sua decisão, já que estaria cumprida a promessa de levar o país de um ambiente "pré-anárquico" para um "positivo".
No entanto ainda há dúvidas sobre a validade legal do novo cronograma eleitoral. Duhalde foi eleito indiretamente pelo Congresso para permanecer no cargo até dezembro de 2003 -data em que terminaria o mandato do ex-presidente Fernando de la Rúa (1999-2001)- e não tem poder legal para decidir sobre o adiantamento da eleição.
No entanto o presidente acredita que poderia obter o consenso para aprovar no Congresso uma reforma da chamada Lei de Acefalia -que foi usada como base para sua eleição em janeiro deste ano- e possibilitar a implementação da medida.
Além disso, Duhalde também poderia argumentar que a ata da sessão do Congresso em que foi decidida sua nomeação não prevê a data de setembro de 2003 para a realização da eleição.
A decisão final sobre a estratégia para viabilizar o adiantamento da eleição seria decidida na noite de ontem, em reunião com lideranças peronistas.
Motivos A decisão de Duhalde surpreendeu a população e a própria classe política de todo o país, apesar de analistas políticos já preverem há algum tempo que Duhalde não se manteria no cargo até o término de seu mandato devido à debilidade do governo.
Sem conseguir resolver os principais problemas, o presidente enfrentou nos últimos meses o crescente descontentamento da população. Segundo pesquisas realizadas recentemente, mais de 60% dos argentinos aprovavam a antecipação da eleição.
Além disso, uma pesquisa divulgada no último domingo pela consultoria Hugo Haime & Associados mostrou que 55,1% dos argentinos sentiam raiva ao serem obrigados a encarar uma realidade que inclui a taxa de pobreza de 51,4% da população e de um nível de desemprego de quase 25% dos trabalhadores.
Para o analista político Hugo Haime, a morte dos dois piqueteiros durante os protestos da semana passada só teria acendido o "sinal de alerta no governo de que as coisas poderiam piorar, e não melhorar, daqui para a frente".
Também circularam boatos ontem na Argentina de que Duhalde teria decidido antecipar as eleições pressionado pelo FMI (Fundo Monetário Internacional). Para Haime, essa possibilidade "não pode ser totalmente descartada".



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