São Paulo, quarta-feira, 03 de julho de 2002

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CONTAGEM REGRESSIVA

Fiesp cobra dólar barato, senão vai "estrilar'; presidente do BC diz que Brasil "não é a bola da vez"

Armínio dá prazo para país abandonar risco

FABRICIO VIEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

O presidente do Banco Central, Armínio Fraga, estipulou um prazo de 30 meses para o Brasil passar a ser considerado um país de investimento seguro pelo mercado internacional. Ter sua nota aumentada para "investment grade" por uma agência de classificação de risco internacional significa para um país maior facilidade e menor custo para conseguir crédito no exterior.
"Acredito ser possível, apesar da conjuntura atual, tirar o país da categoria de alto risco e colocar o Brasil em uma categoria de baixo risco. É um projeto perfeitamente factível, as bases estão lançadas. Se formos disciplinados, podemos obter isso. Mas não podemos acreditar em soluções milagrosas", afirmou Fraga.
O país é considerado atualmente como de alto risco para investimentos pelas três principais agências internacionais -Standard & Poor's, Moody's e Fitch Rating's- que fazem esse tipo de classificação.
Sobre a atual turbulência no mercado, Fraga disse que é incorreto colocar "o Brasil na berlinda e dizer que se trata da bola da vez", pois tem de se considerar que há problemas atualmente em várias partes do mundo, incluindo potências como EUA e Japão.
"Vivemos um momento em que se aproxima o final do governo do presidente Fernando Henrique Cardoso e é natural que haja uma certa ansiedade em relação ao que virá por aí."
O prazo estimado por Fraga não agradou à industria paulista. O presidente da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), Horacio Lafer Piva, considerou o prazo "demasiado". "Não concordamos com esse prazo de 30 meses. É preciso baixar rapidamente a taxa de risco do Brasil, pois isso impede o crescimento do investimento e do país."
Pela classificação ("rating") da Moody's, a nota brasileira é B1, em uma escala que vai até Aaa, que representa segurança máxima. Para chegar a grau de investimento ("investment grade"), o Brasil precisa subir ainda quatro degraus na escala da agência. A nota atual do Brasil é inferior à dada à Colômbia e à Costa Rica.
Para Fraga, passar a ser considerado "investment grade" levará o país a conseguir ter uma taxa real de juros em torno de 6% ao ano. O caminho para isso, segundo Fraga, passa pela boa gestão das contas públicas, o aprofundamento das reformas (especialmente a tributária) e conseguir os superávits primários esperados.
O empresário Antônio Ermírio de Moraes, do grupo Votorantim, também lamentou o prazo dado pelo presidente do BC. "Fico triste com essa estimativa. É um prazo muito longo", disse o empresário.
Piva se mostrou preocupado com a escalada do dólar e afirmou que o BC não pode deixar a moeda flutuar livremente com um clima de nervosismo como há atualmente no mercado. Para Piva, o dólar próximo dos R$ 2,90 é muito alto e gera "pressões de difícil controle. Se continuar como está, vamos começar a estrilar". Para Fraga, "existe e predomina um pessimismo exagerado atualmente. Quando o mercado entra nesse clima, demora mais para assimilar resultados positivos". Ontem o dólar fechou a R$ 2,894, depois de alcançar os R$ 2,938.
Fraga informou que viaja na próxima semana para os EUA para participar de encontros com investidores, como fez na semana passada na Europa. O ministro Pedro Malan (Fazenda) irá em missão igual para a Europa.
O presidente da Fiesp disse acreditar que o BC "deve ter um teto [para o dólar] em mente e está deixando para usar os instrumentos na hora certa".
Uma política econômica voltada para o desenvolvimento industrial e não apenas para o setor financeiro foi reivindicada por Piva ontem. As elevadas taxas de juros teriam levado o mercado a preferir emprestar ao governo ao setor produtivo. "A indústria teve de usar recursos próprios ou pagar caro para obter financiamento nos últimos tempos."



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