São Paulo, sexta-feira, 03 de julho de 2009

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Sem dinheiro, Califórnia usa títulos para quitar dívidas

Com déficit de US$ 26 bi, Estado emite promissórias para pagar a fornecedores
Rich Pedroncelli - 1º.jul.09/Associated Press
O governador Arnold Schwarzenegger, do Partido Republicano

SÉRGIO DÁVILA
ENVIADO ESPECIAL A LOS ANGELES

O Estado da Califórnia -que, com um PIB de US$ 1,7 trilhão, seria a oitava maior economia do mundo se fosse um país- começou ontem a emitir documentos similares a promissórias para pagar seus devedores imediatos, por falta de dinheiro em caixa. É a primeira vez desde 1991 que isso acontece.
A ação drástica foi tomada pelo governador Arnold Schwarzenegger, depois que discussões para cortes no Orçamento, em pauta no Legislativo local, entraram em impasse no Senado estadual. A Califórnia, o mais rico dos 50 Estados norte-americanos, tem hoje um déficit de US$ 26,3 bilhões. Os políticos discutem cortes de até US$ 3,3 bilhões, mas não chegam a acordo sobre os setores a serem atingidos.
Às 14h locais de ontem (18h de Brasília), o Estado começou a emitir mais de 28 mil promissórias, que somam US$ 53,3 milhões. Os papéis são chamados de IOU, sigla em inglês para "Eu lhe devo", e o resgate prometido é 2 de outubro de 2009, com juro de 3,75%. Os primeiros recipientes dos papéis são pessoas físicas que esperavam sua devolução do Imposto de Renda estadual.
A ação levou o Federal Reserve (BC dos EUA) a soltar comunicado ontem em que exortou consumidores a consultar a validade dos documentos antes de os negociar. Nem todos os bancos, diz o Fed, aceitarão tais papéis como depósitos normais, embora tão logo o anúncio da emissão tenha sido feito instituições como o Bank of America virem a público dizer que farão isso para os clientes.
A Califórnia foi um dos primeiros Estados a serem atingidos pelo estouro da bolha imobiliária, que inflou mais fortemente na Costa Oeste do país, onde a média anual de valorização de imóveis ultrapassou a barreira dos US$ 500 mil em alguns condados (divisão administrativa), principalmente no norte do Estado, onde ficam o Vale do Silício e San Francisco.
Se os imóveis se valorizaram mais rapidamente e em porcentagem maior do que no resto do país nos anos de expansão, a queda foi mais rápida e pronunciada também após o começo da recessão. Seis cidades locais têm índice de desemprego acima de 15%, ante uma média nacional de 9,5%. Entre outras medidas de emergência, o governador mandou que os funcionários públicos tirem um terceiro dia de folga não remunerada por mês.
Além disso, há uma disputa política entre Schwarzenegger, um republicano moderado, parte de sua bancada no Legislativo local e a oposição democrata. O governador defende que a crise fiscal seja resolvida com cortes de despesas e aumento de empréstimos. A maior parte dos políticos defende aumento dos impostos e é contra cortes e empréstimos.
Na quarta, depois de o impasse ficar claro, o governador escreveu em sua conta do Twitter que, enquanto o Estado afundava em dívidas, os senadores estaduais discutiam "rabos de vaca". É que, em vez de limpar a agenda legislativa para votar questões apenas ligadas ao Orçamento, o Senado seguiu a programação normal, em que um dos itens era discutir se cortar o rabo das vacas é crime.


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