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ANÁLISE
Economia americana cambaleia, Europa cede
DO "FINANCIAL TIMES"
A economia dos EUA tem
andado mais fraca do que a
maioria das pessoas acreditava. O
crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) do país no segundo
trimestre ficou em 1,1%, anualizado, e não 2,2%, como previsto; o
crescimento do primeiro trimestre foi revisado para menos e os
EUA tiveram três trimestres de
declínio de produção, e não apenas um, em 2001. E, embora esses
dados sejam históricos, o número
mais recente -o índice dos executivos de compras de Chicago-
mostra aguda deterioração em julho.
Para alguns, dados assim bastariam para justificar as recentes
quedas nos mercados de capitais.
O mercado, da maneira misteriosa que lhe é peculiar, sabe de alguma coisa que os economistas não
sabem. Mas os mercados, como
diz o ditado, previram nove das
últimas cinco recessões. Seria
igualmente plausível ver a queda
dos mercados como reflexo da
aceitação, pelos investidores, de
que os valores das ações no final
dos anos 90 não são sustentáveis.
O que fica menos claro é determinar se essa queda nos preços
das ações terá um impacto econômico. O efeito patrimonial de
quedas nos preços das ações está
aberto a dúvidas; o crash de 1987
não teve impacto. No entanto, a
propriedade de ações se tornou
muito mais difundida nos últimos
anos do que o era no final da década de 80 e a queda das Bolsas de
agora durou mais e foi mais profunda do que qualquer outra queda posterior aos anos 70. Por outro lado, nos EUA e no Reino Unido, o patrimônio dos consumidores foi estimulado pelo aumento
no preço dos imóveis.
Qualquer que seja a causa, os
números sobre a confiança dos
consumidores despencaram recentemente dos dois lados do
Atlântico e parece que a robustez
que existia anteriormente no consumo pessoal dos EUA e do Reino
Unido começa a desaparecer. Na
Europa continental, o consumo
está estagnado há algum tempo.
Isso torna a Europa perigosamente dependente do crescimento das
exportações em um momento em
que a recuperação norte-americana parece estar desaparecendo.
Pode-se alegar que o mercado
prestou atenção demais à fraqueza da economia dos EUA e de menos aos problemas da Europa. A
OCDE (Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento
Econômico) disse ontem que a
perspectiva da zona do euro se tinha deteriorado de abril para cá,
quando sua previsão de crescimento do PIB para a região era já
de apenas 1,3%. As previsões de
lucros na Europa vêm caindo
mais rápido que nos EUA e as
mais recentes pesquisas sobre a
confiança dos empresários na
França e na Alemanha mostram
deterioração.
Sob essas circunstâncias, os
bancos centrais não deveriam elevar as taxas de juros. O Fed (banco central dos EUA) está claramente alerta quanto à possibilidade de uma recessão de "duplo
mergulho" na economia norte-americana e parece improvável
que os juros subam antes de 2003.
O Banco Central Europeu continua a fazer declarações belicosas
quanto ao combate à inflação,
mas não tomou medidas concretas, à luz dos desdobramentos
econômicos e de mercado. Isso
deve continuar até que a economia européia melhore.
Tradução de Paulo Migliacci
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