São Paulo, sábado, 03 de agosto de 2002

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ANÁLISE

Economia americana cambaleia, Europa cede

DO "FINANCIAL TIMES"

A economia dos EUA tem andado mais fraca do que a maioria das pessoas acreditava. O crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) do país no segundo trimestre ficou em 1,1%, anualizado, e não 2,2%, como previsto; o crescimento do primeiro trimestre foi revisado para menos e os EUA tiveram três trimestres de declínio de produção, e não apenas um, em 2001. E, embora esses dados sejam históricos, o número mais recente -o índice dos executivos de compras de Chicago- mostra aguda deterioração em julho.
Para alguns, dados assim bastariam para justificar as recentes quedas nos mercados de capitais. O mercado, da maneira misteriosa que lhe é peculiar, sabe de alguma coisa que os economistas não sabem. Mas os mercados, como diz o ditado, previram nove das últimas cinco recessões. Seria igualmente plausível ver a queda dos mercados como reflexo da aceitação, pelos investidores, de que os valores das ações no final dos anos 90 não são sustentáveis.
O que fica menos claro é determinar se essa queda nos preços das ações terá um impacto econômico. O efeito patrimonial de quedas nos preços das ações está aberto a dúvidas; o crash de 1987 não teve impacto. No entanto, a propriedade de ações se tornou muito mais difundida nos últimos anos do que o era no final da década de 80 e a queda das Bolsas de agora durou mais e foi mais profunda do que qualquer outra queda posterior aos anos 70. Por outro lado, nos EUA e no Reino Unido, o patrimônio dos consumidores foi estimulado pelo aumento no preço dos imóveis.
Qualquer que seja a causa, os números sobre a confiança dos consumidores despencaram recentemente dos dois lados do Atlântico e parece que a robustez que existia anteriormente no consumo pessoal dos EUA e do Reino Unido começa a desaparecer. Na Europa continental, o consumo está estagnado há algum tempo. Isso torna a Europa perigosamente dependente do crescimento das exportações em um momento em que a recuperação norte-americana parece estar desaparecendo.
Pode-se alegar que o mercado prestou atenção demais à fraqueza da economia dos EUA e de menos aos problemas da Europa. A OCDE (Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico) disse ontem que a perspectiva da zona do euro se tinha deteriorado de abril para cá, quando sua previsão de crescimento do PIB para a região era já de apenas 1,3%. As previsões de lucros na Europa vêm caindo mais rápido que nos EUA e as mais recentes pesquisas sobre a confiança dos empresários na França e na Alemanha mostram deterioração.
Sob essas circunstâncias, os bancos centrais não deveriam elevar as taxas de juros. O Fed (banco central dos EUA) está claramente alerta quanto à possibilidade de uma recessão de "duplo mergulho" na economia norte-americana e parece improvável que os juros subam antes de 2003. O Banco Central Europeu continua a fazer declarações belicosas quanto ao combate à inflação, mas não tomou medidas concretas, à luz dos desdobramentos econômicos e de mercado. Isso deve continuar até que a economia européia melhore.


Tradução de Paulo Migliacci


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