São Paulo, sábado, 03 de agosto de 2002

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LATINOS EM TRANSE

Governo admite pela primeira vez que irá restringir saques para evitar quebra generalizada de bancos

Uruguai anuncia que vai instituir "corralito"

JOÃO SANDRINI
DE BUENOS AIRES

O governo uruguaio admitiu ontem pela primeira vez que vai estabelecer restrições para para conter os saques de depósitos bancários e evitar a quebradeira do sistema financeiro local.
Rumores de que o país teria um "corralito" (nome dado pelos argentinos às restrições para saques) já vinham circulando há diversos dias no país devido à fuga de quase 40% dos depósitos bancários neste ano, mas só foram confirmadas ontem pelo vice-presidente Luis Hierro López.
As restrições uruguaias, no entanto, serão bem mais flexíveis que as existentes no país vizinho e passarão a valer a partir de segunda-feira, quando, segundo ele, "seguramente" terminará o feriado bancário vigente desde a última quarta-feira.
O vice-presidente -que participou da reunião de anteontem do presidente Jorge Batlle com as principais lideranças políticas do país- não foi claro ao afirmar que restrições deverão enfrentar os correntistas.
Segundo a imprensa local, seriam congelados apenas os depósitos a prazo fixo (espécie de CDI) feitos em bancos públicos ou nos quais o Banco Central interveio.
Esses recursos seriam devolvidos na moeda original -o país permite depósitos em dólar- e em várias parcelas, nos próximos três anos. Além disso, o governo pagaria juros para os depósitos a cada três meses.
As restrições não valeriam para contas correntes e para a poupança e nem para os bancos estrangeiros e para os nacionais saudáveis, que continuariam responsáveis por honrar os depósitos dos clientes com recursos próprios.
Procurados pela Folha, tanto o BC brasileiro quanto o uruguaio informaram não saber o montante de dinheiro de brasileiros que poderia ficar preso no país vizinho. Segundo o BC uruguaio, não-residentes possuíam US$ 3,1 bilhões no país ao final de junho, sendo que a maioria -US$ 2,2 bilhões- pertenciam a argentinos.
As restrições devem fazer parte do projeto de lei que será discutido pelo ministro Alejandro Atchugarry (Economia) com parlamentares hoje pela manhã.
Segundo o vice-presidente, o projeto seria aprovado "em sessão extraordinária" durante o fim de semana. Dessa forma, o país receberia US$ 1,5 bilhão do FMI (Fundo Monetário Internacional) e do G-7 (grupo dos sete países mais ricos do mundo) já na segunda-feira, o que possibilitaria a reabertura dos bancos.

Descontentamento
O governo uruguaio destacou 5.000 policiais e pediu ajuda a helicópteros da Forças Armadas para garantir a segurança e evitar a concentração de pessoas em Montevidéu ontem.
Temendo nova onda de saques -como a que sacudiu o país na última quinta-feira e deixou um saldo de 20 pessoas presas- muitos comerciantes fecharam as portas de seus negócios.
Não houve violência ontem, mas por falta de policiais a Federação Uruguaia de Futebol decidiu adiar a rodada do campeonato local marcada para hoje. O mesmo poderia acontecer com todos os jogos d fim de semana.



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