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COMÉRCIO EXTERIOR
Vendas seguem em recorde, porém sustentadas por setores que registram declínio na participação mundial
Exportação cresce, mas em baixa tecnologia
ANDRÉ SOLIANI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
MARCELO BILLI
DA REPORTAGEM LOCAL
O Brasil acumulou um saldo comercial (exportações menos importações) recorde de US$ 18,529
bilhões nos primeiros sete meses
deste ano -alta de 48,8% em relação ao mesmo período de 2003.
O crescimento das exportações
continuou forte, mas ainda é explicado pelo aumento das vendas
de produtos de baixa tecnologia e
com pouco dinamismo no mercado internacional, mostra levantamento do Iedi (Instituto de Estudos para o Desenvolvimento
Industrial) baseado nas estatísticas relativas às exportações do
primeiro semestre.
Os dados do mês passado mostram que o nível das exportações
se manteve forte no começo do
segundo semestre. Em julho, as
vendas para o exterior aumentaram 47,3% na comparação com o
mesmo mês de 2003.
O secretário de Comércio Exterior do Ministério do Desenvolvimento, Ivan Ramalho, ressalta
que os números do mês passado
precisam ser analisados com cuidado, pois se trata de um desempenho atípico. Em julho de 2003, a
base de comparação foi comprimida, pois compras e vendas foram reduzidas devido a paralisações nos portos. "Esse ritmo não é
sustentável", disse.
Ainda assim, as exportações em
julho registraram o segundo
maior resultado mensal da história (US$ 8,992 bilhões), atrás apenas de junho último (US$ 9,327
bilhões). O saldo naquele mês ficou em US$ 3,480 bilhões.
Pouco dinamismo
Levantamento feito pelo Iedi
mostra, no entanto, que a maior
parte do aumento das exportações é gerada por setores de baixa
tecnologia e com pouco dinamismo no mercado mundial.
Segundo o Iedi, apenas 7,5% do
aumento das exportações no primeiro semestre é explicado pelas
exportações de produtos de alta
tecnologia. A maior parte do aumento ocorreu por conta do desempenho de setores de "baixa e
média-baixa intensidade tecnológica", mostra o estudo.
Os setores de base agropecuária,
por exemplo, contribuíram com
42,7% do aumento das exportações nos seis primeiros meses
deste ano. Já os setores de base
mineral responderam por 10,7%
do aumento no mesmo período.
O aumento nas exportações
ocorreu em setores pouco dinâmicos e que registraram declínio
em sua participação no comércio
mundial. Parte dos produtos em
que o Brasil teve desempenho positivo viram, na verdade, seu mercado encolher na economia internacional. Ou seja, não são setores
que poderão contar com mercados em expansão no médio e longo prazos. Apesar disso, eles foram responsáveis por 46% do aumento nas vendas externas brasileiras de janeiro a junho deste ano
-no período, as exportações
cresceram cerca de 31% em relação ao primeiro semestre do ano
passado.
Já as exportações de setores que
exibem crescimento em termos
de participação no mercado mundial contribuíram apenas com
9,6% do aumento das exportações do primeiro semestre.
Segundo o estudo do Iedi, políticas industrial e de apoio às exportações podem tornar a pauta
de exportações do país mais dinâmica. "A política industrial, tecnológica e de comércio exterior
recentemente anunciada pelo governo visa esses objetivos", diz o
relatório do instituto.
A previsão do Iedi é que as exportações continuem crescendo
no próximo semestre, mas o instituto prevê uma aceleração das
importações também. Previsão
parecida com a dos técnicos do
Ministério do Desenvolvimento,
que estimam até que as exportações cresçam num ritmo menor
do que o das importações.
"Esperamos que no segundo semestre, em virtude do crescimento das compras de bens de capital,
as importações tenham um crescimento superior ao das exportações", disse o secretário Ramalho.
Desde o início do ano, o Brasil
comprou do exterior US$ 33,769
bilhões, 26,7% a mais que no mesmo período do ano passado. O
volume de importações referente
ao período janeiro-julho é o segundo maior da história -só
perde para os primeiros sete meses de 2001.
O ritmo de crescimento das exportações, para a surpresa do próprio ministro Luiz Fernando Furlan, foi, até agora, superior ao das
importações. De janeiro a julho, o
país vendeu US$ 52,298 bilhões
para o exterior, valor 33,7% maior
que em igual período de 2003. No
começo do ano, o próprio Furlan
afirmava que as importações deveriam crescer mais que as exportações, devido ao crescimento
econômico.
As importações, de fato, aceleraram desde o início de 2004. No
mês passado, o país importou
US$ 5,512 bilhões, um volume
36,1% maior que o do mesmo período de 2004.
Crescimento econômico
Além de estimular as importações, o crescimento econômico
deverá reduzir as exportações de
alguns setores específicos, como
os de siderúrgicos e de papel e celulose, que já produzem quase no
limite de suas capacidades.
Ramalho admite que alguns setores poderão deixar de exportar
para atender o mercado interno,
mas afirma que esse processo não
deverá afetar o resultado global
das exportações.
Segundo ele, o processo de diversificação das exportações
(produtos e países destinos) vai
garantir o cumprimento da meta
deste ano -de US$ 88 bilhões em
vendas para o exterior. No acumulado entre agosto de 2003 e julho deste ano, as exportações já
somam US$ 86,275 bilhões, também um recorde histórico. O saldo está em US$ 30,873 bilhões
-outro recorde.
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