São Paulo, terça-feira, 03 de agosto de 2004

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COMÉRCIO EXTERIOR

Vendas seguem em recorde, porém sustentadas por setores que registram declínio na participação mundial

Exportação cresce, mas em baixa tecnologia

ANDRÉ SOLIANI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

MARCELO BILLI
DA REPORTAGEM LOCAL

O Brasil acumulou um saldo comercial (exportações menos importações) recorde de US$ 18,529 bilhões nos primeiros sete meses deste ano -alta de 48,8% em relação ao mesmo período de 2003. O crescimento das exportações continuou forte, mas ainda é explicado pelo aumento das vendas de produtos de baixa tecnologia e com pouco dinamismo no mercado internacional, mostra levantamento do Iedi (Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial) baseado nas estatísticas relativas às exportações do primeiro semestre.
Os dados do mês passado mostram que o nível das exportações se manteve forte no começo do segundo semestre. Em julho, as vendas para o exterior aumentaram 47,3% na comparação com o mesmo mês de 2003.
O secretário de Comércio Exterior do Ministério do Desenvolvimento, Ivan Ramalho, ressalta que os números do mês passado precisam ser analisados com cuidado, pois se trata de um desempenho atípico. Em julho de 2003, a base de comparação foi comprimida, pois compras e vendas foram reduzidas devido a paralisações nos portos. "Esse ritmo não é sustentável", disse.
Ainda assim, as exportações em julho registraram o segundo maior resultado mensal da história (US$ 8,992 bilhões), atrás apenas de junho último (US$ 9,327 bilhões). O saldo naquele mês ficou em US$ 3,480 bilhões.

Pouco dinamismo
Levantamento feito pelo Iedi mostra, no entanto, que a maior parte do aumento das exportações é gerada por setores de baixa tecnologia e com pouco dinamismo no mercado mundial.
Segundo o Iedi, apenas 7,5% do aumento das exportações no primeiro semestre é explicado pelas exportações de produtos de alta tecnologia. A maior parte do aumento ocorreu por conta do desempenho de setores de "baixa e média-baixa intensidade tecnológica", mostra o estudo.
Os setores de base agropecuária, por exemplo, contribuíram com 42,7% do aumento das exportações nos seis primeiros meses deste ano. Já os setores de base mineral responderam por 10,7% do aumento no mesmo período.
O aumento nas exportações ocorreu em setores pouco dinâmicos e que registraram declínio em sua participação no comércio mundial. Parte dos produtos em que o Brasil teve desempenho positivo viram, na verdade, seu mercado encolher na economia internacional. Ou seja, não são setores que poderão contar com mercados em expansão no médio e longo prazos. Apesar disso, eles foram responsáveis por 46% do aumento nas vendas externas brasileiras de janeiro a junho deste ano -no período, as exportações cresceram cerca de 31% em relação ao primeiro semestre do ano passado.
Já as exportações de setores que exibem crescimento em termos de participação no mercado mundial contribuíram apenas com 9,6% do aumento das exportações do primeiro semestre.
Segundo o estudo do Iedi, políticas industrial e de apoio às exportações podem tornar a pauta de exportações do país mais dinâmica. "A política industrial, tecnológica e de comércio exterior recentemente anunciada pelo governo visa esses objetivos", diz o relatório do instituto.
A previsão do Iedi é que as exportações continuem crescendo no próximo semestre, mas o instituto prevê uma aceleração das importações também. Previsão parecida com a dos técnicos do Ministério do Desenvolvimento, que estimam até que as exportações cresçam num ritmo menor do que o das importações.
"Esperamos que no segundo semestre, em virtude do crescimento das compras de bens de capital, as importações tenham um crescimento superior ao das exportações", disse o secretário Ramalho.
Desde o início do ano, o Brasil comprou do exterior US$ 33,769 bilhões, 26,7% a mais que no mesmo período do ano passado. O volume de importações referente ao período janeiro-julho é o segundo maior da história -só perde para os primeiros sete meses de 2001.
O ritmo de crescimento das exportações, para a surpresa do próprio ministro Luiz Fernando Furlan, foi, até agora, superior ao das importações. De janeiro a julho, o país vendeu US$ 52,298 bilhões para o exterior, valor 33,7% maior que em igual período de 2003. No começo do ano, o próprio Furlan afirmava que as importações deveriam crescer mais que as exportações, devido ao crescimento econômico.
As importações, de fato, aceleraram desde o início de 2004. No mês passado, o país importou US$ 5,512 bilhões, um volume 36,1% maior que o do mesmo período de 2004.

Crescimento econômico
Além de estimular as importações, o crescimento econômico deverá reduzir as exportações de alguns setores específicos, como os de siderúrgicos e de papel e celulose, que já produzem quase no limite de suas capacidades.
Ramalho admite que alguns setores poderão deixar de exportar para atender o mercado interno, mas afirma que esse processo não deverá afetar o resultado global das exportações.
Segundo ele, o processo de diversificação das exportações (produtos e países destinos) vai garantir o cumprimento da meta deste ano -de US$ 88 bilhões em vendas para o exterior. No acumulado entre agosto de 2003 e julho deste ano, as exportações já somam US$ 86,275 bilhões, também um recorde histórico. O saldo está em US$ 30,873 bilhões -outro recorde.


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