São Paulo, quarta-feira, 03 de agosto de 2005

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LUÍS NASSIF

A radiografia do crime

Uma radiografia do crime organizado na política nacional identificaria os seguintes personagens:
1) O operador interno: é o sujeito que conhece a máquina, pode ser funcionário de carreira ou não, mas tem o mapa e a chave das principais operações. É inútil achar que se resolve acabando com os cargos comissionados. Existe muita gente boa em cargo comissionado, e existe muito funcionário ligado a esquemas variados.
2) O político: é o deputado ou senador com influência sobre as indicações e sobre os operadores internos. No episódio em questão, o deputado Roberto Jefferson, a partir do auto-retrato clássico que fez a Renata Lo Prete.
3) O operador externo: é o lobista, o sujeito que faz as conexões entre o operador interno, os ministros indicados e o setor privado. É o caso típico de Marcos Valério. Esses operadores gravitam em Brasília e ficam à disposição de vários esquemas. Por isso não é surpresa que o esquema de Valério já tenha atuado em outras circunstâncias, com outros partidos políticos.
4) O grampeador: é um exército de espiões, alguns egresso do SNI (Serviço Nacional de Informação), que trabalham ou sob encomenda ou em regime de "free-lance" -grampeiam, montam seus dossiês e oferecem à praça ou à chantagem.
5) O jornalista de dossiê: atrás de cada chantagista, existe um jornalista bem situado, que poderá dar publicidade ao dossiê. O poder do chantagista é diretamente proporcional ao nível do jornalista de quem é fonte; e o prestígio do jornalista dossiê é diretamente proporcional ao impacto dos dossiês que recebe. O momento mais significativo da atual CPI foi quando um grampeador anunciou que pretendia tornar-se jornalista. O problema maior não são nem os dossiês divulgados, mas aqueles que não foram divulgados, porque a chantagem vingou.
6) O esquentador de dinheiro: no episódio em questão, descobriu-se esse caminho das agências de publicidade. É uma novidade no processo, porque, antes, as contas públicas eram contrapartida para a atuação das agências nas campanhas eleitorais. De uns anos para cá, as agências se tornaram grandes lavanderias. Não se percam de vista os operadores financeiros privados que esquentam dinheiro em operações de mercado futuro ou de títulos públicos. E, principalmente, os doleiros e, para os mais sofisticados, os bancos de negócio que fazem captação interna para fundos que operam no exterior.
7) Os financiadores privados: em geral, empresas com interesse em contratos do governo ou interesses regulatórios. No episódio, o BMG conseguiu resultados milionários manobrando a parte regulatória. O Rural e o Santos conseguiram investimentos de fundos de pensão.
8) Os financiadores públicos: são desde fundos de pensão aplicando em bancos que oferecem contrapartida (caso típico do Real Grandeza no BMG e no Rural) até empresas com interesses regulatórios. Aliás, até agora não apareceram as conexões desse esquema Delúbio com o Banco Santos. Mas todos os fundos que aplicaram pesadamente no Santos estavam sob a órbita de influência de Marcelo Sereno.

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