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LUÍS NASSIF
A radiografia do crime
Uma radiografia do crime organizado na política
nacional identificaria os seguintes personagens:
1) O operador interno: é o sujeito que conhece a máquina,
pode ser funcionário de carreira ou não, mas tem o mapa e a
chave das principais operações.
É inútil achar que se resolve
acabando com os cargos comissionados. Existe muita gente
boa em cargo comissionado, e
existe muito funcionário ligado
a esquemas variados.
2) O político: é o deputado ou
senador com influência sobre
as indicações e sobre os operadores internos. No episódio em
questão, o deputado Roberto
Jefferson, a partir do auto-retrato clássico que fez a Renata
Lo Prete.
3) O operador externo: é o lobista, o sujeito que faz as conexões entre o operador interno,
os ministros indicados e o setor
privado. É o caso típico de Marcos Valério. Esses operadores
gravitam em Brasília e ficam à
disposição de vários esquemas.
Por isso não é surpresa que o esquema de Valério já tenha
atuado em outras circunstâncias, com outros partidos políticos.
4) O grampeador: é um exército de espiões, alguns egresso
do SNI (Serviço Nacional de Informação), que trabalham ou
sob encomenda ou em regime
de "free-lance" -grampeiam,
montam seus dossiês e oferecem à praça ou à chantagem.
5) O jornalista de dossiê:
atrás de cada chantagista, existe um jornalista bem situado,
que poderá dar publicidade ao
dossiê. O poder do chantagista
é diretamente proporcional ao
nível do jornalista de quem é
fonte; e o prestígio do jornalista
dossiê é diretamente proporcional ao impacto dos dossiês que
recebe. O momento mais significativo da atual CPI foi quando um grampeador anunciou
que pretendia tornar-se jornalista. O problema maior não
são nem os dossiês divulgados,
mas aqueles que não foram divulgados, porque a chantagem
vingou.
6) O esquentador de dinheiro:
no episódio em questão, descobriu-se esse caminho das agências de publicidade. É uma novidade no processo, porque, antes, as contas públicas eram
contrapartida para a atuação
das agências nas campanhas
eleitorais. De uns anos para cá,
as agências se tornaram grandes lavanderias. Não se percam
de vista os operadores financeiros privados que esquentam dinheiro em operações de mercado futuro ou de títulos públicos.
E, principalmente, os doleiros e,
para os mais sofisticados, os
bancos de negócio que fazem
captação interna para fundos
que operam no exterior.
7) Os financiadores privados:
em geral, empresas com interesse em contratos do governo
ou interesses regulatórios. No
episódio, o BMG conseguiu resultados milionários manobrando a parte regulatória. O
Rural e o Santos conseguiram
investimentos de fundos de
pensão.
8) Os financiadores públicos:
são desde fundos de pensão
aplicando em bancos que oferecem contrapartida (caso típico
do Real Grandeza no BMG e no
Rural) até empresas com interesses regulatórios. Aliás, até
agora não apareceram as conexões desse esquema Delúbio
com o Banco Santos. Mas todos
os fundos que aplicaram pesadamente no Santos estavam
sob a órbita de influência de
Marcelo Sereno.
E-mail -
Luisnassif@uol.com.br
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