São Paulo, quarta-feira, 03 de agosto de 2005

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Caça a clientes prejudica resultado das teles

ADRIANA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL

Os balanços das empresas de telefonia celular mostram o quanto tem pesado em suas contas a declarada guerra na caça a clientes. O calote aumentou neste ano, e o troca-troca de consumidores entre operadoras fez pressionar a chamada taxa de desligamento de linhas -que não cede em certas empresas. Além disso, não param de crescer os subsídios dos grupos dados aos consumidores, que hoje compram aparelhos por preços bem inferiores.
A estratégia não tem nada de suicida. "É parte do risco calculado de aumentar a base de clientes queimando margem para, depois, com consumidores cativos num mercado mais estável, recuperar a perda", diz Roger Oey, analista do Banif Investment Banking.
Na Telesp Celular Participações, a maior empresa da Vivo, a provisão para devedores duvidosos quase dobrou em relação ao ano passado. Passou de R$ 45 milhões no segundo trimestre de 2004 para R$ 88,5 milhões em igual intervalo deste ano, alta de 96,7%. Isso constituiu perda de crédito -dinheiro que não vai entrar no caixa por inadimplência. Em relação ao primeiro trimestre, o volume cresceu 67,3%.
A Vivo é a maior operadora de celular do país, com 29 milhões de clientes. A Claro é a segunda, com 16,2 milhões, segundo dados do balanço da controladora mexicana, a America Movil.
Na concorrente TIM Participações, a terceira maior do setor, ao final de junho de 2004, a provisão atingiu R$ 36,3 milhões. Passou para R$ 62,8 milhões ao final do segundo trimestre deste ano, sendo valores "com prováveis chances de perda", diz a companhia.
Foi na operadora Oi, da Telemar, que essa taxa caiu, principalmente por causa de uma ação pesada da empresa de renegociação de dívidas com clientes. A provisão para devedores, que representou 2,3% da receita bruta da empresa no segundo trimestre de 2004 (R$ 16 milhões), passou para 1,2% em igual período deste ano (R$ 10,6 milhões).
Segundo os consultores de investimentos, o aumento no calote tende a pressionar para cima a taxa de desligamento de linhas nas companhias, como a Oi. Essa taxa não cedeu de forma considerável na Telesp Participações. Durante todo o ano, esse nível de "quebra" de linhas atinge o mesmo ritmo verificado no ano passado.

Retenção
Pelos dados dos balanços na Telesp, a taxa média de desligamento mensal de aparelhos de abril a junho atingiu 1,5% da base total de clientes, contra 1,6% em igual período de 2004. A companhia interpreta o dado como positivo e disse que é resultado de uma forte campanha de retenção de cliente.
Na Oi, 448 mil pessoas desligaram seus celulares de abril a junho, ou 5,8% da base ativa. A taxa era de 4,6% nos três primeiros meses do ano. "Cabe ressaltar que as fortes vendas do período de Natal têm impacto nas desconexões de 150 dias a 180 dias após o pico de vendas", relata o grupo em seu balancete de junho.
Na avaliação de Oey, os custos das empresas vão se manter pressionados nesse cenário, com inadimplência alta no pós-pago basicamente e subsídios ainda em crescimento (na TIM, por exemplo, o custo das vendas de celulares no segundo trimestre foi de R$ 158,2 milhões, superior aos R$ 137 milhões em igual intervalo do ano passado).
"Mas todo mundo nesse setor tem fôlego para manter-se no vermelho por algum tempo ainda, até a taxa de penetração de celulares crescer", diz Oey.

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