São Paulo, sexta-feira, 03 de agosto de 2007

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LUIZ CARLOS MENDONÇA DE BARROS

O crescimento das importações

Com a importação, perdem-se produção e empregos em alguns segmentos, mas a economia se acelera

TENHO ESCRITO, com freqüência, sobre uma série de ajustes microeconômicos que estão acontecendo na economia brasileira depois que nosso real virou objeto de cobiça de um grande número de investidores internacionais. Os mais importantes estão no mercado financeiro e na estrutura de nosso comércio exterior. Juros reais bem mais baixos e prazos de financiamento mais longos têm tido um peso extraordinário no crescimento do consumo e da atividade econômica de maneira geral. Mas o que mais impressiona é o crescimento vigoroso das importações e seus efeitos sobre o sistema produtivo brasileiro.
As estatísticas relativas ao mês de julho mostram que nossas importações cresceram 34% em relação ao mesmo mês de 2006. Quando olhamos por setores as importações nos meses mais recentes, o quadro de abertura da economia fica mais claro. As compras externas de bens duráveis crescem a uma taxa de mais de 50% ao ano, e as de bens de capital -máquinas e equipamentos-, a mais de 30% ao ano.
Para o analista de mente aberta e sem preconceitos de natureza ideológica para as mudanças que ocorrem em uma economia de mercado, fica transparente a natureza desse processo. Após décadas de alta instabilidade na taxa de câmbio, com desvalorizações freqüentes e de grande dimensão, os agentes econômicos estão ganhando confiança em olhar para outros mercados como fonte alternativa confiável de oferta de bens. Entre esses, estão empresas em busca de máquinas e equipamentos para seus investimentos e de produtos intermediários para suprir as necessidades de suas cadeias de produção. As grandes cadeias varejistas estão também fechando contratos de longo prazo para preencher suas prateleiras e atender ao consumidor brasileiro.
Por outro lado, dado o tamanho de nosso mercado, uma série de empresas internacionais está construindo suas redes próprias de distribuição para chegar ao mercado brasileiro. Com isso, o consumidor começa a ter acesso a produtos com tecnologias mais sofisticadas e com preços mais baixos, mesmo com a proteção tarifária em alguns setores ainda elevada. E esse processo de abertura às importações ainda está apenas no começo, como nos mostram as estatísticas agregadas como importações/PIB. Muita água ainda vai passar debaixo dessa ponte antes que estabilize o que os economistas chamam de COEFICIENTE DE ABERTURA DA ECONOMIA. Acompanhando esse processo com os economistas da Quest, não tenho dúvidas em afirmar que estamos diante de um fenômeno perene e de forte influência sobre a economia brasileira nos próximos anos. A passagem de uma economia fechada para uma aberta ao fluxo internacional de comércio muda de forma radical o funcionamento dos mercados.
E, como sempre acontece em momentos como esse, há ganhadores e perdedores, embora para a sociedade como um todo o resultado final seja altamente positivo.
No momento, as importações têm subtraído quase 2% em crescimento do PIB, mas, ao aumentar a oferta interna de bens, estão permitindo ao Banco Central operar uma política de juros compatível com o crescimento mais acelerado da demanda interna. Sem as importações, os juros já estariam subindo. Perdem-se produção e empregos em alguns segmentos, mas o crescimento da economia como um todo se acelera.
Resta perenizar esse crescimento por meio de reformas e de uma política fiscal de melhor qualidade, mas, como tudo que depende do governo, não vejo avanço nesses campos.


LUIZ CARLOS MENDONÇA DE BARROS, 64, engenheiro e economista, é economista-chefe da Quest Investimentos. Foi presidente do BNDES e ministro das Comunicações (governo FHC).

lcmb2@terra.com.br


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