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LUIZ CARLOS MENDONÇA DE BARROS
O crescimento das importações
Com a importação, perdem-se produção e empregos em alguns segmentos, mas
a economia se acelera
TENHO ESCRITO, com freqüência, sobre uma série de ajustes
microeconômicos que estão
acontecendo na economia brasileira
depois que nosso real virou objeto
de cobiça de um grande número de
investidores internacionais. Os mais
importantes estão no mercado financeiro e na estrutura de nosso comércio exterior. Juros reais bem
mais baixos e prazos de financiamento mais longos têm tido um peso extraordinário no crescimento do
consumo e da atividade econômica
de maneira geral. Mas o que mais
impressiona é o crescimento vigoroso das importações e seus efeitos sobre o sistema produtivo brasileiro.
As estatísticas relativas ao mês de
julho mostram que nossas importações cresceram 34% em relação ao
mesmo mês de 2006. Quando olhamos por setores as importações nos
meses mais recentes, o quadro de
abertura da economia fica mais claro. As compras externas de bens duráveis crescem a uma taxa de mais
de 50% ao ano, e as de bens de capital -máquinas e equipamentos-, a
mais de 30% ao ano.
Para o analista de mente aberta e
sem preconceitos de natureza ideológica para as mudanças que ocorrem em uma economia de mercado,
fica transparente a natureza desse
processo. Após décadas de alta instabilidade na taxa de câmbio, com
desvalorizações freqüentes e de
grande dimensão, os agentes econômicos estão ganhando confiança em
olhar para outros mercados como
fonte alternativa confiável de oferta
de bens. Entre esses, estão empresas
em busca de máquinas e equipamentos para seus investimentos e
de produtos intermediários para suprir as necessidades de suas cadeias
de produção. As grandes cadeias varejistas estão também fechando
contratos de longo prazo para
preencher suas prateleiras e atender
ao consumidor brasileiro.
Por outro lado, dado o tamanho de
nosso mercado, uma série de empresas internacionais está construindo suas redes próprias de distribuição para chegar ao mercado
brasileiro. Com isso, o consumidor
começa a ter acesso a produtos com
tecnologias mais sofisticadas e com
preços mais baixos, mesmo com a
proteção tarifária em alguns setores
ainda elevada. E esse processo de
abertura às importações ainda está
apenas no começo, como nos mostram as estatísticas agregadas como
importações/PIB. Muita água ainda
vai passar debaixo dessa ponte antes
que estabilize o que os economistas
chamam de COEFICIENTE DE
ABERTURA DA ECONOMIA.
Acompanhando esse processo
com os economistas da Quest, não
tenho dúvidas em afirmar que estamos diante de um fenômeno perene
e de forte influência sobre a economia brasileira nos próximos anos. A
passagem de uma economia fechada
para uma aberta ao fluxo internacional de comércio muda de forma radical o funcionamento dos mercados.
E, como sempre acontece em
momentos como esse, há ganhadores e perdedores, embora para a sociedade como um todo o resultado
final seja altamente positivo.
No momento, as importações têm
subtraído quase 2% em crescimento
do PIB, mas, ao aumentar a oferta
interna de bens, estão permitindo
ao Banco Central operar uma política de juros compatível com o crescimento mais acelerado da demanda
interna. Sem as importações, os juros já estariam subindo. Perdem-se
produção e empregos em alguns
segmentos, mas o crescimento da
economia como um todo se acelera.
Resta perenizar esse crescimento
por meio de reformas e de uma política fiscal de melhor qualidade, mas,
como tudo que depende do governo,
não vejo avanço nesses campos.
LUIZ CARLOS MENDONÇA DE BARROS, 64, engenheiro e
economista, é economista-chefe da Quest Investimentos.
Foi presidente do BNDES e ministro das Comunicações
(governo FHC).
lcmb2@terra.com.br
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