São Paulo, sexta-feira, 03 de agosto de 2007

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Para Meirelles, ajuste veio em "boa hora" para o país

Presidente do BC afirma que a crise mostrou acerto na política de reservas

Economistas acreditam que, após crise no mercado de crédito imobiliário dos EUA, mercado brasileiro pode ter um ajuste benigno

TONI SCIARRETTA
DA REPORTAGEM LOCAL

Na primeira manifestação pública desde o início da atual onda de volatilidade nos mercados, o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, disse que vê com bons olhos o que chama de "correção saudável" de um otimismo que começava a parecer "exagerado" no mercado financeiro.
"Até ousaria dizer que é melhor para o Brasil que [a crise] ocorra agora do que daqui a uns dois ou três anos. O mercado exuberante, durante [mais] alguns anos, poderia levar a algumas distorções de preços que poderiam ser custosas no futuro. Portanto, é melhor que ocorra logo", disse Meirelles no seminário "Brasil 2020", sobre perspectivas de longo prazo.
Para ele, a crise pega o Brasil no momento certo. Se ocorresse antes, o país estaria despreparado; depois, os preços das ações estariam mais inflacionados e o estrago seria pior. "Qualquer turbulência é negativa. Mas, se tiver que ocorrer, melhor neste momento. O Brasil já tem melhores condições e muito mais solidez para enfrentar movimentos de aversão ao risco nos mercados."
Segundo Meirelles, a crise mostrou ainda que, apesar de críticas dentro e fora do governo, o BC acertou ao manter alto o nível das reservas internacionais (hoje acima de US$ 150 bilhões, nível recorde). "É uma política que tem trazido e continuará trazendo benefícios importantes para o país. Muitos falam do custo de acumular reservas. Existe um custo sim, mas também um benefício muito grande. Diminui o risco do país e o custo de captação não só do governo como das empresas. A economia gerada supera em muito o custo."
Alguns economistas presentes no seminário concordaram com Meirelles.
"É uma correção benigna. Certeza a gente só vai ter daqui um tempo. Os mercados continuarão voláteis nas próximas duas semanas. No Brasil, vemos que a Bovespa cai menos que o [índice da Bolsa de NY] S&P500, o que faz pensar que a Bovespa pode se recuperar com força. É uma oportunidade para compra [de ações baratas]", disse Ricardo Amorim, diretor de Pesquisa e Estratégia para a América Latina do WestLB.
Para José Olympio Pereira, diretor-executivo do Crédit Suisse no Brasil, há risco de o país perder dinheiro por conta da crise, mas isso não é preocupante agora. "Estamos sujeitos sim [ao risco], mas isso não afeta momentaneamente a economia. Só se a crise se estender."
Já Alfredo Coutino, economista da agência de risco dos EUA Moody's, que não participou do evento, crê que o Brasil e outros emergentes serão afetados pela crise imobiliária americana por conta da menor liquidez nos mercados e pelo aumento dos custos de financiamento. "O Brasil pode enfrentar aumento de custo internacional de financiamento, mas também saída de capital devido à elevação da aversão ao risco. Desde que o Brasil mantenha a economia em recuperação, os impactos do choque externo podem ser reduzido", disse Coutino à Folha.
Para o economista da Moody"s, se a crise traz algum benefício, vem pelo ajuste na distorção nos preços dos ativos, como afirmou Henrique Meirelles.
"A bolha do setor imobiliário vai estourar com muitos perdedores, mas o mercado voltará à estabilidade dentro de uma situação de maior equilíbrio", disse Coutino.


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