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Para Meirelles, ajuste veio em "boa hora" para o país
Presidente do BC afirma que a crise mostrou acerto na política de reservas
Economistas acreditam que, após crise no mercado de crédito imobiliário dos EUA, mercado brasileiro pode ter um ajuste benigno
TONI SCIARRETTA
DA REPORTAGEM LOCAL
Na primeira manifestação
pública desde o início da atual
onda de volatilidade nos mercados, o presidente do Banco
Central, Henrique Meirelles,
disse que vê com bons olhos o
que chama de "correção saudável" de um otimismo que começava a parecer "exagerado" no
mercado financeiro.
"Até ousaria dizer que é melhor para o Brasil que [a crise]
ocorra agora do que daqui a uns
dois ou três anos. O mercado
exuberante, durante [mais] alguns anos, poderia levar a algumas distorções de preços que
poderiam ser custosas no futuro. Portanto, é melhor que
ocorra logo", disse Meirelles no
seminário "Brasil 2020", sobre
perspectivas de longo prazo.
Para ele, a crise pega o Brasil
no momento certo. Se ocorresse antes, o país estaria despreparado; depois, os preços das
ações estariam mais inflacionados e o estrago seria pior.
"Qualquer turbulência é negativa. Mas, se tiver que ocorrer,
melhor neste momento. O Brasil já tem melhores condições e
muito mais solidez para enfrentar movimentos de aversão
ao risco nos mercados."
Segundo Meirelles, a crise
mostrou ainda que, apesar de
críticas dentro e fora do governo, o BC acertou ao manter alto
o nível das reservas internacionais (hoje acima de US$ 150 bilhões, nível recorde). "É uma
política que tem trazido e continuará trazendo benefícios
importantes para o país. Muitos falam do custo de acumular
reservas. Existe um custo sim,
mas também um benefício
muito grande. Diminui o risco
do país e o custo de captação
não só do governo como das
empresas. A economia gerada
supera em muito o custo."
Alguns economistas presentes no seminário concordaram
com Meirelles.
"É uma correção benigna.
Certeza a gente só vai ter daqui
um tempo. Os mercados continuarão voláteis nas próximas
duas semanas. No Brasil, vemos que a Bovespa cai menos
que o [índice da Bolsa de NY]
S&P500, o que faz pensar que a
Bovespa pode se recuperar com
força. É uma oportunidade para compra [de ações baratas]",
disse Ricardo Amorim, diretor
de Pesquisa e Estratégia para a
América Latina do WestLB.
Para José Olympio Pereira,
diretor-executivo do Crédit
Suisse no Brasil, há risco de o
país perder dinheiro por conta
da crise, mas isso não é preocupante agora. "Estamos sujeitos
sim [ao risco], mas isso não afeta momentaneamente a economia. Só se a crise se estender."
Já Alfredo Coutino, economista da agência de risco dos
EUA Moody's, que não participou do evento, crê que o Brasil
e outros emergentes serão afetados pela crise imobiliária
americana por conta da menor
liquidez nos mercados e pelo
aumento dos custos de financiamento. "O Brasil pode enfrentar aumento de custo internacional de financiamento,
mas também saída de capital
devido à elevação da aversão ao
risco. Desde que o Brasil mantenha a economia em recuperação, os impactos do choque externo podem ser reduzido",
disse Coutino à Folha.
Para o economista da
Moody"s, se a crise traz algum
benefício, vem pelo ajuste na
distorção nos preços dos ativos, como afirmou Henrique
Meirelles.
"A bolha do setor imobiliário
vai estourar com muitos perdedores, mas o mercado voltará à
estabilidade dentro de uma situação de maior equilíbrio",
disse Coutino.
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