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FINANÇA
Em 94, tarifas cobriam 45% da folha de pagamento; agora, cobrem 93%
Tarifas já cobrem quase todo gasto com salário dos bancos
GUILHERME BARROS
EDITOR DO PAINEL S.A.
As receitas dos bancos com a cobrança de tarifas já cobrem praticamente o total das despesas com
com pessoal. Em junho deste ano,
as tarifas bancárias representaram 92,7% das despesas com folha de pagamento.
Em alguns bancos, como no
Itaú e no Unibanco, as tarifas foram suficientes para pagar a folha
e ainda sobrou bastante dinheiro.
O levantamento foi feito pela consultoria Austin Asis com base nos
balanços dos bancos relativos ao
primeiro semestre deste ano.
A evolução do desempenho dos
bancos na cobrança de tarifas foi
veloz. Em 2000, a receita das tarifas cobradas pelos serviços correspondia a 79,9% da folha de pagamento desses 20 bancos. No
ano passado, esse total atingia
84,6%. No ano da criação do Plano Real, em 1994, as tarifas não representavam 45% da folha de pagamento.
Ao mesmo tempo, as despesas
com pessoal dos bancos são cada vez menores. No primeiro semestre deste ano, segundo o levantamento da Austin Asis, a folha de pagamento dos 20 bancos pesquisados cresceu apenas 0,2% da receita. No ano passado, em junho,
as despesas com pessoal tinham crescido 14,8%.
Real e tarifas
O presidente da Austin Asis, Erivelto Rodrigues, avalia que esses números mostram que os bancos foram bem sucedidos na estratégia que adotaram após o
fim da inflação -de desenvolver um sistema eficiente de cobrança
de tarifas.
No período da inflação, os bancos praticamente não cobravam tarifas pelos serviços bancários.
Até os talões de cheque eram de graça. Os bancos ganhavam no chamado "floating" (ganhos com a inflação) ao investir os depósitos à vista dos clientes, que não eram
remunerados ou recebiam remuneração abaixo daquela obtida
pelos bancos.
Rodrigues calcula em US$ 15 bilhões ao ano, cerca de 5% do PIB
da época, essa receita inflacionária obtida pelos bancos. "Uma
boa parte da ineficiência dos bancos se escondia na receita inflacionária", diz Rodrigues.
Com o fim da inflação, os bancos tiveram de começar a cobrar
pelos serviços. O objetivo é o de
diminuir a dependência dos lucros obtidos com a receita financeira.
Juros e tarifas
Os ganhos relativos à cobrança
pelos serviços bancários são mais
sólidos do que aqueles obtidos
com os juros, já que são muito
menos sujeitos às intempéries da
economia. A carteira de crédito
dos bancos sempre corre o risco
de sofrer, por exemplo, com uma
onda de inadimplência provocada por uma crise na economia.
Apesar de toda essa evolução na
cobrança dos serviços, os bancos
ainda estão longe do que planejam. O diretor corporativo e de relações com os investidores do
Unibanco, Geraldo Travaglia, diz
que hoje, por exemplo, o Unibanco conseguiu que 60% de suas
despesas administrativas sejam
cobertas com tarifas. Pode parecer um número elevado, mas ainda está distante da meta.
O ideal, segundo o Unibanco, é
que os bancos atinjam o padrão
dos cinco maiores bancos americanos, que obtêm 82% de suas
despesas por meio da cobrança de
serviços. Para isso, os bancos brasileiros estão procurando cada
vez mais criar novos serviços.
Travaglia diz que, no início,
quando os bancos começaram a
cobrar pelos serviços, houve uma
reação negativa dos clientes. Hoje,
segundo ele, a relação é muito
menos tensa, principalmente no
caso dos grandes bancos.
Além da criação de novos serviços, os bancos também estão
usando outra estratégia para aumentar a receita com o aumento
do número de clientes, por meio
da aquisição de novas instituições. Só o Itaú comprou quatro
bancos: Banerj, Bemge, Banestado e BEG. "O crescimento da base
de clientes também é uma forma
de aumentar a receita com as tarifas", diz Rodrigues.
O interessante, no entanto, é
que os bancos brasileiros não deixaram de continuar ganhando
com a intermediação financeira.
De acordo com o estudo da Austin Asis, apesar de todo o aumento na cobrança dos serviços, em
junho deste ano as tarifas representaram uma fatia de apenas
13,1% da receita com a intermediação financeira. No ano passado, essa relação era de 19,5%, e, em 2000, de 16,2%.
Rodrigues diz que esse crescimento da receita com a intermediação financeira se deve a dois fatores. Em primeiro lugar, ao aumento de juros. Depois, aos
"spreads" (taxas de risco) elevados cobrados pelos bancos.
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