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FOCALIZAÇÃO
Desde janeiro, banco prometeu US$ 3,3 bi para a companhia, que rivaliza com a Embraer como maior cliente
BNDES concentra recursos na Petrobras
CHICO SANTOS
DA SUCURSAL DO RIO
A Petrobras tornou-se no governo Luiz Inácio Lula da Silva o
principal destino -direto e indireto- dos empréstimos do
BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social). Com isso, passa a rivalizar
com a fabricante de aviões Embraer, o maior cliente do banco.
Levantamento feito pela Folha
mostra que, desde o início do
atual governo, o banco aprovou
ou está em via de aprovar para a
empresa petrolífera recursos que
somam US$ 3,287 bilhões -equivalentes a R$ 9,74 bilhões pelo fechamento do dólar de ontem.
O valor corresponde a 8,05% da
carteira total de empréstimos do
BNDES, que somava R$ 121 bilhões em 31 de março deste ano.
Uma parte desses recursos destina-se a empresas criadas para
desenvolver projetos da Petrobras. Esses projetos têm a garantia
da companhia.
Somado a empréstimos aprovados em 1998 e 2001, o valor autorizado nos últimos anos pelo
BNDES à Petrobras chega a US$
4,317 bilhões (R$ 12,78 bilhões).
A concentração de recursos na
Petrobras aparentemente contraria discurso da atual diretoria do
BNDES. Desde a posse de Lula, o
banco tem reduzido a velocidade
de liberação de recursos para a
Embraer. Entre outros motivos, o
banco argumentou que sua carteira de empréstimos deve ser diversificada.
Demanda reprimida
Ontem, a assessoria de imprensa do BNDES informou que a Petrobras está recebendo mais recursos porque a demanda do setor privado está inibida.
Ou seja: como haveria poucas
empresas dispostas a buscar dinheiro no banco, os recursos estariam naturalmente sendo encaminhados à Petrobras.
Especialistas ouvidos pela Folha
disseram que a opção do banco
resulta da posição dominante de
mercado da Petrobras. "A Petrobras é hoje a melhor empresa para
se emprestar dinheiro da América
Latina", disse o consultor Jean-Paul Prates, da empresa Expetro.
Para ele, não é culpa do BNDES se
não há empresas privadas querendo investir em infra-estrutura.
"O que está sendo passado [pelo
BNDES] é que há uma nova postura do governo, um redirecionamento do modelo [do setor petróleo] para voltar a fortalecer a Petrobras no mercado interno", disse o consultor Adriano Pires Rodrigues, do CBIE (Centro Brasileiro de Infra-Estrutura).
A Petrobras passou a ter mais
acesso aos recursos do BNDES
após a entrada em vigor da nova
Lei do Petróleo (nš 9.478), em
1997. A nova lei regulamentou a
flexibilização do monopólio estatal do petróleo e deu à Petrobras
mais liberdade para atuar no mercado de forma competitiva.
Em dezembro de 1998, o
BNDES aprovou o primeiro financiamento, no valor de US$
260 milhões, para uma operação
da estatal. Foi o projeto de desenvolvimento da produção do campo de Marlim (bacia de Campos,
Rio), cujo valor total chegava a
US$ 2,33 bilhões.
O financiamento foi para a
Companhia Petrolífera Marlim,
criada especificamente para desenvolver o projeto do campo.
Em 2001, o BNDES aprovou um
financiamento de US$ 760 milhões para o desenvolvimento dos
campos de Barracuda e Caratinga, também na bacia de Campos.
O financiamento foi para a empresa Barracuda & Caratinga
Leasing. O desenvolvimento do
projeto, no valor total de US$ 2,9
bilhões, foi contratado pela Petrobras à americana Halliburton, que
foi presidida pelo vice-presidente
dos EUA, Dick Cheney.
Rivalizando
Foi no atual governo que as
perspectivas de empréstimos do
BNDES à Petrobras dispararam.
A instituição já aprovou R$ 830
milhões (US$ 278 milhões em junho) para a construção de malhas
de dutos no Nordeste e no Sudeste; US$ 209 milhões para quatro
petroleiros; e US$ 1,2 bilhão para
financiar as obras das ainda não
contratadas plataformas de produção de óleo no mar P-51 e P-52.
Além disso, o banco já anunciou
a disposição de financiar a construção de uma refinaria no país,
avaliada em mais de US$ 2 bilhões. A participação da Petrobras é que vai definir onde será
construída a unidade, disputada
por 12 Estados.
Segundo a assessoria de imprensa do banco, o financiamento
pode chegar a US$ 1,6 bilhão.
A Embraer vinha sendo até agora a maior cliente do BNDES, diretamente ou por meio de seus
clientes. Em seis grandes operações entre 2000 e 2002, o banco
aprovou financiamentos de R$
8,18 bilhões para a produção e
venda de aviões da empresa.
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