|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
TRABALHO
Entidades sindicais, que hoje não existem oficialmente, terão de reunir um mínimo de filiados, entre outros critérios
Central pode ter "vestibular" para virar oficial
CLAUDIA ROLLI
MAELI PRADO
DA REPORTAGEM LOCAL
Se quiserem ser reconhecidas
no país, as centrais sindicais podem ter de enfrentar uma maratona parecida com a que 2 milhões de jovens enfrentam todo
ano ao prestar vestibular.
A primeira proposta que chegou ao Fórum Nacional de Trabalho para discutir a mudança na
estrutura sindical -um dos alvos
das reformas trabalhista e sindical
do governo Lula- prevê que as
centrais cumpram critérios para
obter "pontos" que lhes darão o
direito de existir oficialmente.
Esse "vestibular sindical" reúne
critérios que consideram principalmente o número de trabalhadores sindicalizados representados pelas centrais, segundo documento obtido pela Folha. A disputa por uma "vaga" é importante porque o governo pode usar o
critério da representatividade na
hora de distribuir verbas federais
-como as do FAT (Fundo de
Amparo ao Trabalhador).
Apesar de estabelecidas como
representantes dos trabalhadores,
as centrais sindicais são juridicamente tratadas como ONGs e não
podem entrar com uma ação em
nome dos trabalhadores. De acordo com a Constituição, cabe aos
sindicatos, às federações e às confederações esse papel.
Proposta em discussão no grupo que trata a organização sindical no fórum, integrado por representantes dos trabalhadores,
empregadores e governo, estabelece que as centrais somem pontos para serem reconhecidas. O
total de pontos necessários e o peso de cada critério ainda serão
discutidos pelo grupo.
Uma das notas de mais peso
nessa prova deve ser que a soma
dos trabalhadores associados aos
sindicatos representados pela
central deve superar 20% dos trabalhadores empregados no país.
Segundo esse critério, se, por
exemplo, o país tem 40 milhões de
empregados, a central precisa
reunir ao menos 8 milhões de trabalhadores em seus sindicatos.
Presença
Um dos critérios que deve ter
menor peso no "gabarito sindical" prevê que a central esteja presente em pelo menos dez setores
de atividade econômica -públicos ou privados. No total, quatro
critérios foram apresentados. Hoje, o assunto volta a ser debatido.
Usar o percentual de trabalhadores sindicalizados como "nota
de corte" também pode ser um
dos parâmetros negociados para
medir a representatividade de
confederações nacionais, federações estaduais e sindicatos.
De acordo com a estrutura sindical do país, em vigor há mais de
40 anos, vale o princípio da unicidade -um sindicato para cada
categoria profissional por base
territorial. Os trabalhadores não
podem escolher a que sindicato
querem se associar.
A fonte de receita é garantida: o
imposto sindical compulsório,
que equivale a um dia de salário
dos empregados registrados
-sócios ou não dos sindicatos.
Do total arrecadado -em 2002,
foram R$ 600 milhões-, os sindicatos ficaram com 60%; as federações, com 15%; as confederações,
com 5%; e o Ministério do Trabalho, com os 20% restantes.
Segundo pesquisa sindical do
IBGE realizada em 2001, existem
no país 11.354 sindicatos de trabalhadores, com taxa de sindicalização em torno de 25% -percentual que se mantém desde 1990.
A bancada do governo que participa das discussões não confirma o "vestibulinho", mas admite
que critérios como quantidade de
trabalhadores sindicalizados,
abrangência das categorias profissionais e número de Estados
em que atuam estão, sim, na mesa
de negociação. A Folha apurou
que, no dia 14 de agosto, representantes do governo apresentaram a
primeira proposta baseada em
um sistema de pontos.
Das sete centrais que existem
hoje no país -CUT (Central Única dos Trabalhadores), Força Sindical, CGT (Confederação Geral
dos Trabalhadores), SDS (Social
Democracia Sindical), CGTB
(Central Geral dos Trabalhadores
do Brasil), CAT (Central Autônoma dos Trabalhadores) e CBTE
(Central Brasileira dos Trabalhadores e Empreendedores)-, pelo
menos quatro confirmaram que a
pontuação é objeto de discussão.
"A proposta [de pontuação] é
interessante. Exige a representação de fato. A idéia é forçar mesmo a sindicalização. O sindicato
que trabalha em prol da categoria
não vai encontrar problema para
continuar existindo", diz Paulo
Pereira da Silva, presidente da
Força Sindical, que informa representar 1.800 sindicatos, que
reúnem 16 milhões de trabalhadores em sua base. Segundo o IBGE, são 839 sindicatos.
Para o presidente da CUT, Luiz
Marinho, não deveria haver critérios para medir a representatividade. "Defendo a liberdade plena.
A livre associação do trabalhador.
Mas a maioria dos sindicalistas
tem horror a essa idéia. O problema é saber qual o tamanho da reforma sindical que se quer fazer",
diz Marinho. A CUT informa representar 22,5 milhões de trabalhadores, reunidos em 3.353 sindicatos. Na pesquisa sindical, foram contabilizados 2.834.
Texto Anterior: Cobiça Próximo Texto: Frases Índice
|