São Paulo, sexta-feira, 03 de setembro de 2004

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FRENTE AMPLA

Presidente da CUT tenta pacto, mas diz que haverá protestos se juro subir

Marinho quer acordo contra inflação

DO PAINEL S.A.

Depois da Fiesp, o presidente da CUT, Luiz Marinho, 45, pretende se reunir com outras lideranças empresariais e sindicais para discutir sua proposta de pacto social. Ele irá procurar o presidente da Febraban (Federação Brasileira de Bancos) e o do Bradesco, Marcio Cypriano, e o presidente da CNI (Confederação Nacional da Indústria), Armando Monteiro, além das outras centrais sindicais. Segundo Marinho, o país precisa encontrar outras alternativas de controle da inflação que não sejam o aumento de juros. E afirmou que, se o BC aumentar os juros, a CUT poderá voltar a fazer manifestações no país contra a medida. Leia entrevista. (GUILHERME BARROS)
 

Folha - Como o sr. resumiria sua proposta de pacto?
Luiz Marinho -
São várias as combinações que podem ser feitas. Os empresários do setor produtivo poderiam manter o preço e a garantia de fornecimento do produto, e o governo, em contrapartida, baixaria a carga tributária. O empresário teria que garantir que irá aumentar seus investimentos para ampliar a oferta de produtos. O controle da inflação tem que se dar por meio de mais oferta, e não por política monetária e fiscal. Já o sistema financeiro tem de reduzir o "spread", e, para isso, o governo pode baixar o compulsório e reduzir impostos. São, enfim, um conjunto de combinações que para garantir a sustentabilidade do crescimento.

Folha - Qual seria a participação dos trabalhadores no pacto?
Marinho -
Nós já fizemos um acordo de três anos em 92, na câmara setorial automotiva. Os trabalhadores aceitaram um aumento real de salários de 20% nesse período. Não estou dizendo que faremos a mesma coisa agora, mas só citando o exemplo para mostrar que é possível um entendimento. Se houver entendimento, a recomposição salarial poderia ser feita de forma gradual, desde que se tenha claro que o objetivo será o de melhorar o poder aquisitivo e garantir a retomada para valer do mercado interno.

Folha - Por que o sr. procurou a Fiesp só agora?
Marinho -
Porque o momento é esse. Estamos no momento ideal para se buscar um entendimento. Antes, o país estava em recessão. Agora, se o Banco Central aumentar os juros, o Brasil irá perder um grande oportunidade de crescer de forma sustentada.

Folha - O sr. ficou assustado com a ata do Copom da semana passada, com a ameaça de aumento dos juros?
Marinho -
A ata do Copom assustou. Não dá para aceitar o controle da inflação apenas com política monetária e fiscal. A inflação precisa ser controlada com o aumento da produção.

Folha - O que o presidente Lula achou da proposta?
Marinho -
Ele ouviu e anotou.

Folha - E os empresários?
Marinho -
Todo mundo com quem eu tenho falado tem gostado da idéia.

Folha - E se a idéia do pacto não for adiante, e o Banco Central aumentar os juros? A CUT romperia com o governo?
Marinho -
Se aumentar os juros, aí acabou. A gente desiste. Eu espero que o governo não faça isso. Se isso acontecer, nós voltaremos a fazer manifestações no país, mas o que estamos convencidos é de que precisamos construir uma alternativa que não seja o aumento de juros.


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