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Fundo agressivo dobra presença no país
Crise financeira não impede que fundos de "private equities" levantem dinheiro para comprar empresas no Brasil
Criticados nos EUA, fundos participam dos negócios mais importantes de fusão e aquisição e das aberturas de capital na Bolsa brasileira
TONI SCIARRETTA
DA REPORTAGEM LOCAL
Considerados os agentes
mais agressivos do capitalismo
financeiro, os fundos de "private equities" [participação fechada em empresas] dobraram
sua presença nas fusões e aquisições em menos de dois anos
no Brasil, segundo estudo da
consultoria PriceWaterHouseCoopers obtido pela Folha.
Segundo a Price, esses fundos, liderados por estrelas do
empresariado nacional como
Armínio Fraga (Gávea), estão
hoje presentes nas maiores
aquisições de empresas em território nacional e nas aberturas
de capital mais concorridas na
Bovespa.
Apenas neste ano, os "private
equities" estiveram presentes
em 39 grandes negócios -mais
do que os 34 de todo o ano passado e o dobro das 18 transações de 2005. Das últimas 83
aberturas de capital, 20 foram
estruturadas por esses fundos.
O modelo de negócio é sempre o mesmo: comprar pelo
menor preço possível parte ou
a totalidade de uma empresa
com sérias dificuldades, cortar
gastos, demitir muita gente
considerada ineficiente, consertar rapidamente a gestão,
ampliar as receitas, colocar a
contabilidade em dia e sair fora
-seja vendendo a participação
para uma empresa concorrente
ou abrindo o capital na Bolsa
de Valores.
Em geral, esse trabalho leva
em média três anos. E o retorno para o cotista é sempre
maior do que ele teria ganho
com ações na Bolsa.
A receita deu certo com várias empresas que hoje são vedetes da Bovespa, como a empresa aérea Gol (e mais tarde a
Varig), a construtora Gafisa, a
distribuidora de TV Multicanal/Globocabo, o site Submarino/Americanas, as varejistas
Brasif e ShopTime, os laboratórios Dasa, entre outros casos.
Nos EUA, esses fundos estão
no epicentro da crise financeira por alavancarem as aquisições por meio de empréstimos.
No Brasil, os "private equities" são bem menos arrojados
e parecem estar imunes à crise.
Os dois maiores fundos latino-americanos -Advent e GP Investimentos- fecharam em
meio à crise captações de mais
de US$ 2,3 bilhões e procuram
novas empresas para investir
(leia texto abaixo).
Isso porque, apesar da agressividade na hora de extrair lucro de empresas quase falidas,
eles se consideram investidores de prazo mais longo -ou
seja, são pouco prejudicados
pelas oscilações diárias do
mercado. Dizem ainda que podem ganhar caso a crise reduza
a possibilidade de investimento de alto retorno nas Bolsas.
"Nos EUA, esses fundos são
extremamente alavancados.
Emprestam dinheiro no mercado para fazer as aquisições.
No Brasil, primeiro captam e
depois fazem o investimento.
Durante o pior dia da crise, um
fundo conseguiu fazer uma
captação altíssima", disse Raul
Beer, sócio da Price.
Mesmo assim, a presença
dos "private equities" nas fusões e aquisições brasileiras
não passa de 10% do total desses negócios, segundo a Price.
Nos Estados Unidos, por exemplo, onde a indústria está em
um estágio mais maduro, eles
participam de 30% das grandes
fusões e aquisições.
Segundo a Price, os negócios
de fusões e aquisições totalizaram 411 de janeiro a julho deste
ano, sendo que apenas 39 tiveram a participação desses fundos. No ano passado, foram 34
de um total de 573 transações.
Entre os principais negócios
em 2007, a Price destaca a
aquisição das operações latino-americanas do McDonald's pelos fundos Gávea, Capital International, DLJ e o empresário Wood Staton; a compra de
100% da companhia Providência pelos fundos AIG, BES e
GG; a compra da financeira
Ideal Invest, que atua no crédito estudantil, pelo Janos e Gávea; a compra da Magnesita pelo GP; as 19 aquisições feitas
pela gestora de shoppings BR
Malls, da GP, entre outros.
Entre as operações mais polêmicas no Brasil, começam a
aparecer os chamados "fundos
mezaninos", que emprestam
dinheiro para recuperar a empresa para depois abrirem o capital na Bolsa, como aconteceu
com a incorporadora Inpar.
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