São Paulo, quinta-feira, 03 de setembro de 2009

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Crédito aos consumidores ainda deve seguir em queda

Para ex-dirigentes do BC, efeito dos cortes anteriores da Selic ainda está começando

"O BC vê que a economia está se recuperando e ainda tem estímulo monetário que pode causar efeito", afirma Gustavo Loyola

DA REPORTAGEM LOCAL

O Banco Central interrompeu ontem a redução nos juros, mas o efeito dessa política no crédito está apenas começando, segundo especialistas. Isso porque o efeito da mudança nos juros da dívida pública demora entre seis e oito meses para aparecer na economia real e no crédito, em particular.
Segundo analistas, as taxas de juros para as empresas e para o consumidor devem continuar caindo por conta de três fatores principais: a demanda por financiamentos cresce com a retomada da economia; os bancos privados terão de competir no crédito para retomar o espaço perdido para as instituições públicas; finalmente, a inadimplência deve começar a cair, reduzindo assim o nível de provisões contra perdas e liberando dinheiro para a concessão de novos financiamentos.
Para Gustavo Loyola, ex-presidente do BC e sócio da consultoria Tendências, mais do que uma preocupação com eventual pressão inflacionária em 2010, o BC interrompeu o corte nos juros agora para dar tempo de a política de redução nas taxas ter pleno efeito na economia. "Há um certo conservadorismo do BC. Até porque ninguém sabe determinar a taxa de juros de equilíbrio. O que se sabe é que você chegou perto dela e tem de andar mais devagar. O BC vê que a economia está se recuperando e ainda tem estímulo monetário que pode causar efeito na economia. É uma boa opção ser prudente. Essa parada é nessa direção. Se a economia não tivesse reagindo, ainda seria momento de mais estímulo. Não há sinal de [precisar] conter a inflação que faça o BC parar. Esse risco não existe", disse Loyola.
Segundo Carlos Thadeu de Freitas, ex-diretor do BC, há um consenso de que o cenário para inflação é "benigno" e a autoridade monetária "deixou as coisas como estão" até ter mais evidências sobre o ritmo de recuperação da atividade.
Freitas vê uma nítida recuperação do crédito para pessoa física, com possível redução nas taxas, mas tem dúvidas sobre a retomada dos financiamentos para as empresas. "Depende de os investimentos voltarem. E muitas dessas empresas são voltadas ao mercado externo, para a exportação. Ainda há muita incerteza sobre a recuperação. O BC pode ter de rever isso e baixar os juros mais à frente. No comunicado, o BC não deu sinal nenhum, mas poderia ter dado um direcionamento melhor sobre inflação."
(TONI SCIARRETTA)


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