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ARTIGO
O'Neill perde poder e prestígio após atentados
JOSEPH KAHN
DO "THE NEW YORK TIMES"
Pouco após os ataques terroristas, Paul O'Neill, 65, o secretário do Tesouro dos EUA, recebeu os jornalistas e descreveu
de que maneira os atentados tinham prejudicado a economia e o
que o governo faria para limitar
os danos.
O'Neill leu uma declaração breve e depois deixou a sala sem responder a perguntas. Um funcionário do Tesouro explicou mais
tarde que a Casa Branca havia exigido uma postura unida quanto à
economia devido ao momento
delicado do país.
O secretário do Tesouro, que
ganhou a reputação de dizer o que
pensa e de se afastar da linha adotada pelo governo quanto a diversas questões, se viu desempenhando papel menos importante
quanto à política econômica do
que diversos de seus predecessores recentes. Ele não só sofreu restrições impostas pela Casa Branca
como viu diversos outros funcionários do governo interferindo no
território do Tesouro.
O'Neill, um homem mutável e
muitas vezes irritado, iniciou o
trabalho com o objetivo de quebrar as tradições e mudar políticas que perderam contato com a
realidade que ele conheceu como
executivo-chefe da Alcoa. No processo, incomodou colegas de governo e líderes republicanos e
causou dúvidas entre muitos críticos quanto à sua capacidade de
administrar a economia.
Quando nomeado para o posto,
há dez meses, O'Neill disse que
"seus dias de excentricidade se
acabariam". Mas na verdade mal
tinham começado. Ele questionou o axioma da era Clinton
quanto a manter o dólar forte,
contestou a linha da administração quanto ao uso de cortes de
impostos para tirar a economia
da recessão e expressou desdém
pelas operações de resgates a países emergentes.
Sob pressão para que adotasse
medidas de reforço da confiança,
depois dos ataques, O'Neill, aos
olhos de muitos críticos, improvisou e causou problemas. Questionado se a economia estava a caminho da recessão, ele disse que não
acreditava nisso. A maior parte
dos analistas do setor privado
concorda com o economista-chefe do FMI, que na semana passada
classificou a recessão como "certeza" para os EUA.
Um comentário publicado pelo
"The Wall Street Journal" na semana passada acusava O'Neill de
desperdiçar sua credibilidade e
classificava sua previsão de que os
mercados de ações estariam de
volta às alturas dentro de 12 a 18
meses como "um surto de exuberância irracional".
Mesmo quando está certo, ele
tende a se pronunciar antes que o
governo esteja preparado para
transformar suas palavras em medidas práticas. Esse hábito foi criticado, em um momento em que
a instabilidade dos mercados e da
economia aparentemente necessitariam de uma mão firme no comando, e não de um iconoclasta.
"Ele era o executivo-chefe de
uma grande empresa, o capitão
do navio, e continua a se comportar dessa maneira", diz o senador
Charles E. Grassley, do Iowa, o líder dos republicanos no Comitê
de Finanças do Senado. "Ele deveria estar agindo mais como uma
espécie de diretor financeiro de
alcance nacional."
As atitudes excêntricas de
O'Neill muitas vezes dão resultado, acrescenta Grassley. O secretário do Tesouro questionou a falta de incentivo econômico de curto prazo no plano de corte de impostos original do governo e pressionou a Casa Branca para que
oferecesse restituições imediatas
de impostos. Chegou a mencionar em público a idéia de eliminar
os impostos pagos pelas empresas, sem que o presidente aprovasse a idéia, mas agora outros
funcionários do governo adeririam a essa campanha pela redução dos impostos das corporações
como parte de qualquer novo pacote de estímulo.
Embora não haja sinais de conflito entre Bush e O'Neill, o presidente dispersou a responsabilidade pela política econômica. Após
os ataques terroristas, Bush deu a
O'Neill a tarefa de rastrear os ativos financeiros de Bin Laden.
Mas Josh Bolten, vice-chefe do
gabinete civil da Casa Branca, foi
apontado por Bush para comandar um novo "grupo de consequências domésticas", com a tarefa de coordenar os esforços da administração para combater os
efeitos econômicos dos ataques
terroristas. Enquanto isso, Lawrence B. Lindsey, o principal assessor econômico da Casa Branca, e Donald L. Evans, o secretário
do Comércio, têm papéis-chave
no planejamento dos cortes de
impostos e na coordenação do
apoio às linhas aéreas.
O'Neill não parece ter desempenhado papel decisivo em definir
os termos do pacote de estímulo
no Congresso. Na semana que se
seguiu aos ataques, os legisladores
realizaram uma sessão fechada na
qual receberam Lindsey, o presidente do Fed, Alan Greenspan, e
Robert Rubin, secretário do Tesouro do presidente Clinton, para
discutir as medidas de estímulo.
O'Neill não foi convidado.
Ainda que O'Neill venha aparecendo regularmente em público
desde o ataque, alguns funcionários do governo questionam, a
portas fechadas, sua eficiência.
Os críticos dizem que ele foi petulante quanto à situação da economia em um momento em que
deveria ter trabalhado para reconfortar os investidores. Seu desempenho, dizem, representa
contraste com o da equipe de segurança nacional do governo.
Embora funcionários da Casa
Branca descartem a idéia de substitui-lo em meio à crise, pessoas
próximas ao governo dizem que a
frustração quanto ao seu desempenho vem crescendo.
"Ele é o único membro do gabinete que não conseguiu até agora
interferir de maneira persuasiva
no diálogo nacional", diz um republicano. "O desapontamento é
generalizado na Casa Branca."
O'Neill atribui essas queixas às
"camadas de cinismo" que existem em Washington.
"Fico desapontado por aparentemente não haver popularidade
para pessoas que dizem a verdade", disse. "Quando faço algo que
é incomum, as pessoas dizem que
não é assim que se joga."
Seus defensores no Congresso
dizem que, como Greenspan, prefere fatos a teorias. Quando não
há fatos suficientes, sai à procura.
Embora muitos economistas
concordem com o seu desejo de
interromper as operações de resgate aos países em desenvolvimento, alguns o culpam por tentar impor um novo modo de agir
do dia para a noite.
Ainda que tenha sofrido pressões, O'Neill demonstra poucos
sinais de que esteja disposto a se
tornar o político acomodado que
tanto despreza.
Quando um amigo perguntou
recentemente se o seu hábito de
pensar em voz alta não poderia
causar-lhe problemas, O'Neill foi
caracteristicamente franco.
"O presidente ainda não me
mandou calar a boca."
Tradução de Paulo Migliacci
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