São Paulo, quarta-feira, 03 de outubro de 2001

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ECONOMIA DE GUERRA

Forte queda na arrecadação em setembro faz risco-país disparar e fechar a apenas um ponto do recorde

Argentina volta a assustar os investidores

ROGERIO WASSERMANN
DE BUENOS AIRES

A forte queda na arrecadação fiscal da Argentina em setembro, anunciada anteontem, provocou ontem uma nova onda de pessimismo sobre o futuro da economia do país, que enfrenta mais de três anos de recessão e luta para convencer os investidores de que tem capacidade de pagar sua dívida pública, de US$ 132 bilhões.
A desconfiança dos investidores sobre a capacidade do país de honrar os seus compromissos financeiros atingiu ontem seu segundo maior nível histórico. O índice de risco-país, que mede a sobretaxa paga pelo país ao tomar empréstimos em relação ao que pagam os EUA, subiu a 1.687 pontos (16,87% de sobretaxa), apenas um ponto menos que o recorde atingido em 1º de agosto.
As cotações dos principais títulos da dívida pública do país tiveram fortes quedas, apesar do anúncio, anteontem, da ampliação da permissão para a utilização desses papéis para o pagamento de impostos federais. O Global 2008, título referência da dívida argentina, caiu 4,1%.
A onda de pessimismo atingiu também a Bolsa de Buenos Aires, que caiu 4,7%. O índice Merval, da Bolsa local, está em seu mais baixo nível histórico em mais de dez anos.
A principal preocupação dos investidores é a capacidade de o governo conseguir cumprir sua meta de equilíbrio fiscal com uma economia em contração, que vem provocando seguidas quedas na arrecadação de impostos. No mês passado, a queda na arrecadação foi de 14% em relação ao mesmo mês de 2000.
Como, pela lei, o governo só pode gastar o que arrecada, serão necessários cortes adicionais de gastos para permitir o cumprimento da política de déficit zero. O equilíbrio fiscal é também uma das condições impostas pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) para os desembolsos dos empréstimos concedidos ao país.
O ministro da Economia, Domingo Cavallo, afirmou anteontem que não haverá cortes adicionais em salários de funcionários públicos e aposentadorias, que foram reduzidos em 13% desde julho. Mas os analistas econômicos consideram quase inevitável um aumento desses cortes para até 20% se o governo quiser cumprir com o equilíbrio fiscal.
Mas muitos duvidam das condições políticas para novos cortes. O governo enfrenta no dia 14 eleições legislativas, nas quais se prevê um grande avanço da oposição, que deverá passar a controlar as duas casas do Congresso.
Entre as opções em estudo pelo governo, está o corte de cerca de US$ 900 milhões nos repasses devidos às Províncias.



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