São Paulo, quarta-feira, 03 de outubro de 2007

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Após atritos com Marina, Stephanes recua sobre cana

Ministro diz que foi "mal interpretado" sobre liberação de plantio em áreas da Amazônia

Para Marina, não interessa ao governo se tornar alvo de críticas no exterior devido a "práticas incorretas" na produção de biocombustível

IURI DANTAS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

MARI TORTATO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM CURITIBA

Após queixas públicas da ministra Marina Silva (Meio Ambiente), o ministro da Agricultura, Reinhold Stephanes, recuou sobre permitir e incentivar o plantio de cana em áreas degradadas da Amazônia, do Pantanal e da mata atlântica.
Em entrevista à Folha, Stephanes afirmou que "foi mal interpretado", quando citou Roraima como uma possibilidade de plantio de cana. Nessa área a que ele se referia, segundo o próprio ministro, haveria apenas savana. "Há milhares de anos."
"Deram uma interpretação diferente. Falei em incentivar plantio em áreas e pastagens degradadas, não no bioma", disse. Na quinta-feira passada, Stephanes mencionou essas chamadas áreas degradadas em uma entrevista concedida para fazer um balanço de seus seis meses à frente do ministério.
Naquela entrevista, explicou que o zoneamento agrícola para a cana-de-açúcar que o governo prepara para o ano que vem iria permitir o plantio em áreas onde não há mais floresta. "A idéia-força é usar áreas desmatadas", disse, na ocasião.
Ontem, afirmou que a proibição da cana nos biomas mais complexos será uma "premissa básica" do zoneamento agrícola. Grupos ambientais brasileiros e internacionais vêm manifestando preocupação sobre a possibilidade de uma maior demanda por biocombustíveis acabar resultando no plantio de cana nas regiões de floresta.
De acordo com Stephanes, serão elaborados quatro mapas como base para o zoneamento: o primeiro com os locais onde já há plantação; outro com as regiões onde há condições propícias para o plantio; um diagrama com as áreas de restrição e um último com pontos de incentivo à produção de cana.

Práticas incorretas
Em Curitiba, Marina Silva afirmou ontem que não interessa ao governo estimular críticas internacionais à obtenção de biocombustível por meio de "práticas incorretas". "Não nos interessa, em hipótese nenhuma, que os biocombustíveis brasileiros possam ser identificados com práticas ambientais incorretas e práticas sociais incorretas", disse.
O interesse do governo em afastar críticas de práticas incorretas tem o objetivo de evitar que mercados tradicionais como Europa e Estados Unidos boicotem o álcool brasileiro. Para evitar problemas, o governo lançou a idéia de um selo socioambiental, para atestar boas práticas trabalhistas, ambientais e sociais. O selo será concedido e fiscalizado por empresas privadas.
Segundo ela, seu ministério já tem prontas as áreas de restrição de plantio para proteção da biodiversidade, os mapas dos biomas e as áreas de risco para incluir no zoneamento.


Texto Anterior: Previdência: Aposentadoria pode ter tempo de contribuição maior
Próximo Texto: Madeira: SDE volta a tirar exclusividade da Odebrecht
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.