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Univen tenta pagar ICMS com precatórios
Preço da gasolina da refinaria, instalada em Itupeva, no interior paulista, é menor do que o da Petrobras
FÁTIMA FERNANDES
CLAUDIA ROLLI
ENVIADAS ESPECIAIS A ITUPEVA (SP)
Desde janeiro deste ano, a
Univen, fabricante de gasolina
localizada em Itupeva, no interior de São Paulo, tenta pagar
com precatórios cerca de R$ 1,8
milhão por mês de ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços) sobre a
venda do combustível.
Precatórios são créditos reconhecidos pela Justiça com
origem em processos de servidores contra o poder público
(União, Estados e municípios).
As empresas têm interesse nos
precatórios porque conseguem
adquirir esses créditos com deságio de até 75%. Isto é, para
adquirir um precatório de R$
100, desembolsam R$ 25.
"Essa é uma prática empresarial comum e legal, utilizada
por nós e por empresas de vários setores. Adquirimos os
precatórios de pessoas físicas
[com deságios de até 50%] e entramos com pedido na Secretaria da Fazenda para abater os
créditos do valor do imposto
que temos a pagar todo o mês",
diz Alexandre Argoud Malavazzi, sócio-diretor da Univen, que
fabrica gasolina A (pura).
Ao pagar imposto com precatórios e importar petróleo bruto de um grupo de países, a Univen, considerada pelo mercado
como uma "micro" refinaria de
petróleo, consegue vender a gasolina A a um preço menor do
que a Petrobras, que detém cerca de 93% do mercado.
O litro da gasolina A vendido
pela Petrobras, segundo ele,
custa cerca de R$ 2,35. O preço
da Univen é de R$ 2,28 o litro.
"Temos de ter uma vantagem
para agradar ao cliente. A Petrobras entrega o combustível,
via dutos, diretamente para as
bases das distribuidoras. No
nosso caso, as empresas têm de
vir buscar a gasolina em Itupeva. O custo do frete é da ordem
de R$ 0,05 por litro. No final, o
preço fica praticamente o mesmo." Os principais clientes da
Univen, segundo ele, são Alesat, Ipiranga e Cosan/Esso.
De janeiro até setembro, a
Univen pagou cerca de R$ 16
milhões de ICMS com precatórios. "Eles [o fisco paulista] estão negando os pedidos [para
pagamento com precatórios]
todo o mês. Mas essa situação
nos deu uma garantia para não
pagar o imposto naquele mês. É
como se estivéssemos pagando
o imposto em juízo. O fato é que
uma vez que comprei uma dívida do governo estadual [o precatório], sou credor. Na prática,
a Secretaria da Fazenda de São
Paulo me deve mais [com o precatório] do que eu devo a ela [de
ICMS]. Minha dívida é durante
o mês, e a dívida deles comigo é
de 30 anos", afirma Malavazzi.
Existe polêmica entre advogados e órgãos públicos se o precatório pode ou não ser utilizado para abater créditos de
ICMS (leia texto abaixo).
Com faturamento de R$ 90
milhões por mês, a Univen informa que "não é fácil competir
em um mercado dominado por
uma gigante estatal", mas está
expandindo seus negócios,
principalmente depois que teve
autorização da ANP (Agência
Nacional de Petróleo), em
2003, para produzir gasolina A.
A companhia processa 8.000
barris de petróleo por dia, o que
corresponde a uma produção
de 35 milhões de litros de gasolina A por mês. Essa gasolina,
que é pura, é misturada ao álcool anidro (proporção de 25%)
pelas distribuidoras para a fabricação da gasolina C, vendida
nos postos de combustíveis.
Desde março deste ano, a
produção da Univen só cresce.
Em julho, produziu 36,9 milhões de litros, o que representou um crescimento de 127%
sobre igual mês do ano passado,
segundo dados da ANP. "O nosso projeto é processar 20 mil
barris de petróleo por dia, o que
equivale a uma produção de 70
milhões de litros de gasolina
por mês", diz Malavazzi.
Desde 2005, segundo ele, já
está aprovado pela ANP um
projeto para investimento de
R$ 180 milhões até 2012 para
expandir a produção da refinaria em Itupeva. Com a crise financeira mundial, a empresa
diminuiu a velocidade dos investimentos, que foram novamente acelerados neste ano.
Para tornar os preços mais
competitivos, a Univen procura
também trazer petróleo de fora
do país -cerca de 50% desse
produto é importado do Caribe,
da Europa, da Argentina e do
Uruguai. "Com a quebra do monopólio do petróleo, a indústria
privada passou a investir em
produção de gasolina. É um
mercado para "cachorro grande", mas vai mudar na medida
em que a ANP realizar leilões
de áreas em campos para exploração de petróleo que não interessam mais para a Petrobras."
Em parceria com a Ral Engenharia, a Univen adquiriu seis
áreas para exploração de petróleo na Bacia do Rio do Peixe, na
Paraíba. "A matéria-prima [o
petróleo] manda no nosso negócio que, aliás, é o único no
mundo que opera com cartel, já
que é a Opep [Organização dos
Países Exportadores de Petróleo] que define os preços do petróleo, e ninguém reclama."
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