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OPINIÃO ECONÔMICA
Esquizofrenia tributária
PAULO NOGUEIRA BATISTA JR.
Meus amigos, uma das coisas
mais confusas e contraditórias é
a movimentação do governo federal na área tributária. Nos últimos dias, veio à luz mais uma
proposta ambiciosa de reforma
do sistema tributário. É a terceira em apenas quatro anos. Decididamente, não é por falta de
propostas ousadas que o sistema
brasileiro não melhora.
A nova proposta mantém a
preocupação em diminuir o
componente tributário do chamado "custo Brasil". Ao apresentá-la, o ministro Malan referiu-se, mais uma vez, ao fato de
que o peso dos tributos "em cascata", como a Cofins e o PIS, "coloca a produção nacional em
desvantagem competitiva". Chegou a dizer que o crescimento
sustentável não é possível com
um sistema tributário que discrimina o produtor nacional na
competição com produtores localizados em outros países. Por
esse motivo, a Cofins e o PIS estão entre os tributos que o governo propõe extinguir.
Tem toda razão o ministro da
Fazenda. A Cofins e o PIS, que
incidem sobre o faturamento das
empresas, constituem uma pesada carga sobre a produção brasileira, prejudicando as exportações e os setores que concorrem
com importações no mercado
nacional.
A essa altura, contudo, até o
mais distraído dos observadores
já terá notado uma curiosa dissonância entre o discurso e a
prática do governo em matéria
tributária. Dissonância não. Dissonância é "understatement". O
que há é uma certa esquizofrenia.
O último exemplo dessa esquizofrenia foi o pacote fiscal apresentado recentemente ao Congresso. Grande parte dele consiste justamente do aumento expressivo de tributos cumulativos:
a Cofins, cuja alíquota sobe 50%,
e a CPMF, que será prorrogada
com uma alíquota de 90% maior
em 1999. A majoração da Cofins
já foi aprovada pelo Congresso.
A prorrogação e o aumento da
CPMF ainda dependem de
emenda constitucional.
Aparentemente, a proposta de
reforma estrutural foi atropelada pela emergência financeira. É
a reprise de um filme que o contribuinte brasileiro já sabe de
cor.
Nem mesmo a nova proposta
de reforma tributária respeita
integralmente a necessidade,
"imperiosa", segundo o ministro
Malan, de reduzir o "custo Brasil", uma vez que inclui a transformação da CPMF em tributo
permanente, com o nome de imposto sobre movimentação financeira (IMF).
Evidentemente, tudo isso onera mais as exportações brasileiras e facilita a penetração das
importações no mercado interno. Uma beleza para um país
que precisa crescer, gerar empregos e reduzir o desequilíbrio nas
contas externas!
Nessas circunstâncias, não vai
ser nada fácil convencer os brasileiros de que a nova proposta de
reforma tributária tem ou terá
alguma aderência à realidade
prática. O ceticismo ameaça
transformar-se em cinismo. A solução talvez seja acionar a
"bomba atômica" e mobilizar o
próprio presidente da República.
Como diz o Luís Paulo Rosenberg, nem os mais insistentes e
obstinados detratores de FHC
podem negar-lhe uma qualidade: a capacidade de persuasão.
Tivemos recentemente um exemplo dessa sua virtude. Em 1998,
Fernando Henrique operou a façanha de reeleger-se com a promessa de acabar com o desemprego. Vejam bem: o desemprego
que ele próprio criou!
É como aquela história do sujeito que assassinou pai e mãe,
foi a julgamento e resolveu apelar para a clemência do júri sob a
alegação de que era órfão.
Paulo Nogueira Batista Jr., 43, economista e
professor da Fundação Getúlio Vargas, escreve às quintas-feiras nesta coluna.
E-mail: pnbjr@ibm.net
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