São Paulo, sábado, 04 de janeiro de 2003

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MERCADO FINANCEIRO

Otimismo com discurso de Palocci (Fazenda) ajuda a empurrar moeda americana para R$ 3,455

Dólar recua para o patamar de setembro

GEORGIA CARAPETKOV
DA REPORTAGEM LOCAL

O otimismo com o governo Lula, ainda que não considerado como um fator definitivo, influenciou o mercado financeiro e fez com o que o dólar comercial fechasse ontem a R$ 3,455, a menor cotação desde 20 de setembro -antes do primeiro turno das eleições presidenciais. Além do menor valor do dólar em mais de 100 dias, o C-Bond, principal título da dívida externa transacionado no exterior (e que funciona como uma espécie de termômetro do mercado sobre o Brasil), subiu 1,49%. Com isso, o risco-país recuou 3,28%, para 1.329 pontos -em dois dias, a queda foi de 8%. A maioria dos analistas ainda acha que é cedo para se falar em uma melhora permanente do humor dos investidores. Por outro lado, há um consenso de que o temor que fez o dólar disparar e os títulos brasileiros se desvalorizarem no exterior foi exagerado. "Os fatores que amedrontavam no passado, devido à possibilidade de um governo do PT, já passaram", disse Ricardo Campos, gestor da Hedging-Griffo. Segundo Aquiles Mosca, economista do ABN-Amro Asset Management, o discurso de posse feito anteontem pelo ministro da Fazenda, Antonio Palocci Filho, trouxe quase uma "euforia" para o mercado. "O comprometimento do Palocci com diversos fatores que são importantes, como com a sustentabilidade da dívida pública, trouxe uma melhora na visão geral dos investidores", disse Mosca. O ministro da Fazenda também anunciou que enviará ao Congresso um projeto de lei propondo a autonomia operacional do Banco Central, sob o argumento de que a "boa gestão da política monetária requer regras claras e autonomia para cumpri-las". Segundo analistas, isso era o que o mercado precisava ouvir. Um dos temores dos últimos meses era de que o PT deixasse de lado uma política considerada "responsável", com a manutenção das metas de inflação e do câmbio flutuante, e no lugar fizesse, através do BC, uma gestão influenciada pelo lado "político". "A medida é considerada um avanço institucional, deixando o BC atuar independentemente da esfera política. Isso era algo que o mercado queria faz tempo, que o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso de certa forma fez com o Armínio Fraga, mas que não conseguiu aprovar no Congresso", afirma Mosca.
Captações
Com a valorização dos títulos externos brasileiros, os investidores voltam a acreditar que as empresas e os bancos possam voltar a fazer com maior facilidade captações no exterior -o que influencia a queda da moeda americana no mercado interno. Em dezembro, instituições como o Itaú, Bradesco, Votorantim e HSBC emitiram títulos fora do país. A volta das captações é importante para que as empresas consigam renovar suas dívidas e não precisem comprar dólares para honrar o pagamento dos títulos, fato que pressionou fortemente o câmbio nos últimos meses. "Tivemos no último trimestre de 2002 vencimentos de aproximadamente US$ 6,7 bilhões em eurobonds. Para este trimestre, esse número é por volta de U$ 700 milhões, o que traz uma perspectiva muito melhor para o mercado", afirma Campos. A melhora da balança comercial também é citada como um dos fatores que vêm influenciando positivamente os investidores. "Nessa época do ano passado, a palavra da moda era a vulnerabilidade externa. Com uma balança comercial mais forte, esse problema pode ainda não ter sido resolvido, mas pelo menos está equacionado", disse Campos. Para Mosca, essa melhora geral dos indicadores traz a esperança de que as agências de classificação façam uma revisão da recomendação dos investimentos no país.

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