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MERCADO FINANCEIRO
Otimismo com discurso de Palocci (Fazenda) ajuda a empurrar moeda americana para R$ 3,455
Dólar recua para o patamar de setembro
GEORGIA CARAPETKOV
DA REPORTAGEM LOCAL
O otimismo com o governo Lula, ainda que não considerado como um fator definitivo, influenciou o mercado financeiro e fez
com o que o dólar comercial fechasse ontem a R$ 3,455, a menor
cotação desde 20 de setembro
-antes do primeiro turno das
eleições presidenciais.
Além do menor valor do dólar
em mais de 100 dias, o C-Bond,
principal título da dívida externa
transacionado no exterior (e que
funciona como uma espécie de
termômetro do mercado sobre o
Brasil), subiu 1,49%. Com isso, o
risco-país recuou 3,28%, para
1.329 pontos -em dois dias, a
queda foi de 8%.
A maioria dos analistas ainda
acha que é cedo para se falar em
uma melhora permanente do humor dos investidores. Por outro
lado, há um consenso de que o temor que fez o dólar disparar e os
títulos brasileiros se desvalorizarem no exterior foi exagerado.
"Os fatores que amedrontavam
no passado, devido à possibilidade de um governo do PT, já passaram", disse Ricardo Campos, gestor da Hedging-Griffo.
Segundo Aquiles Mosca, economista do ABN-Amro Asset Management, o discurso de posse feito
anteontem pelo ministro da Fazenda, Antonio Palocci Filho,
trouxe quase uma "euforia" para
o mercado.
"O comprometimento do Palocci com diversos fatores que são
importantes, como com a sustentabilidade da dívida pública, trouxe uma melhora na visão geral
dos investidores", disse Mosca.
O ministro da Fazenda também
anunciou que enviará ao Congresso um projeto de lei propondo a autonomia operacional do
Banco Central, sob o argumento
de que a "boa gestão da política
monetária requer regras claras e
autonomia para cumpri-las".
Segundo analistas, isso era o
que o mercado precisava ouvir.
Um dos temores dos últimos meses era de que o PT deixasse de lado uma política considerada "responsável", com a manutenção
das metas de inflação e do câmbio
flutuante, e no lugar fizesse, através do BC, uma gestão influenciada pelo lado "político".
"A medida é considerada um
avanço institucional, deixando o
BC atuar independentemente da
esfera política. Isso era algo que o
mercado queria faz tempo, que o
ex-presidente Fernando Henrique Cardoso de certa forma fez
com o Armínio Fraga, mas que
não conseguiu aprovar no Congresso", afirma Mosca.
Captações
Com a valorização dos títulos
externos brasileiros, os investidores voltam a acreditar que as empresas e os bancos possam voltar
a fazer com maior facilidade captações no exterior -o que influencia a queda da moeda americana no mercado interno. Em dezembro, instituições como o Itaú,
Bradesco, Votorantim e HSBC
emitiram títulos fora do país.
A volta das captações é importante para que as empresas consigam renovar suas dívidas e não
precisem comprar dólares para
honrar o pagamento dos títulos,
fato que pressionou fortemente o
câmbio nos últimos meses.
"Tivemos no último trimestre
de 2002 vencimentos de aproximadamente US$ 6,7 bilhões em
eurobonds. Para este trimestre,
esse número é por volta de U$ 700
milhões, o que traz uma perspectiva muito melhor para o mercado", afirma Campos.
A melhora da balança comercial
também é citada como um dos fatores que vêm influenciando positivamente os investidores. "Nessa
época do ano passado, a palavra
da moda era a vulnerabilidade externa. Com uma balança comercial mais forte, esse problema pode ainda não ter sido resolvido,
mas pelo menos está equacionado", disse Campos.
Para Mosca, essa melhora geral
dos indicadores traz a esperança
de que as agências de classificação
façam uma revisão da recomendação dos investimentos no país.
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