São Paulo, domingo, 04 de janeiro de 2004

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Desigualdade de renda é freio para o crescimento

DA REPORTAGEM LOCAL

A desigualdade de renda e de padrão de consumo é, segundo os economistas, o principal freio para o crescimento econômico. Em contrapartida, uma rápida recuperação da renda desses segmentos poderia significar uma ameaça de aumento da inflação. "A demanda reprimida do brasileiro é imensa e qualquer renda adicional é consumo na veia", diz a economista Lídia Goldenstein.
Em 2003, segundo ela, além da corrosão da renda real houve encolhimento da renda disponível para o consumo. A capacidade de consumo das famílias mais pobres foi corroída pelo aumento dos preços administrados (luz, água, telefone e gás), que consumiam 15% da renda desses segmentos na última POF (Pesquisa de Orçamento Familiar), de 1996, e agora consomem de 30% a 35%.
A capacidade de consumo chegou a um nível tão baixo que os economistas não vêm risco de que a recuperação da renda -seja via aumentos salariais que repõem a inflação ou pelo aumento do crédito- pressione a inflação neste ano. "Não acredito que ocorra pressão inflacionária pelo lado da demanda no curto prazo", diz Goldenstein.
Segundo a economista, com o crescimento de 3,5% do PIB (Produto Interno Bruto) projetado para 2004, "os setores que hoje estão fora do mercado consumidor não vão nem se coçar". Ela diz que, com tal nível de crescimento econômico, o emprego deve reagir pouco e, portanto, não há risco de haver explosão de demanda.
O nível de recuperação econômica esperado também não deverá esbarrar nos limites da capacidade de produção da indústria. Segundo Aloisio Campelo, economista da FGV (Fundação Getúlio Vargas), "há ociosidade alta em quase todos os setores".
O setor de bens de consumo apresentava 22,7% de ociosidade em outubro, data da última Sondagem Conjuntural da Indústria de Transformação, da FGV. "É um índice alto", diz Campelo.
No entanto alguns segmentos de bens de consumo, como o de alimentos industrializados, preocupam os analistas. Esse setor registrava em outubro apenas 12% de capacidade ociosa. "A demanda de alimentos responde rapidamente à recomposição de renda, e o setor não vem fazendo investimentos em expansão", afirma Júlio Sérgio Gomes de Almeida, economista do Iedi (Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial).
Segundo ele, se houver crescimento mais forte no consumo, o setor de alimentos levará seis meses para bater no teto da capacidade produtiva.
O que o governo teme é que, com o aumento da demanda, os setores de bens de consumo partam para recomposição de margens de lucro. Segundo Almeida, há várias empresas no país que estão com margem negativa ou próxima de zero. (SB)


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