São Paulo, domingo, 04 de janeiro de 2009

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Recessão é "oportunidade" para ricos e infelizes

DE NOVA YORK

Se a crise vem forçando as classes média e baixa a manterem relacionamentos indesejados, na alta sociedade o movimento parece ser contrário. Em números crescentes, milionários estão vendo na recessão a hora certa para o divórcio, ao menos quando a consideração principal é a financeira.
Consultados pela Folha, advogados de família de Manhattan explicam que, para quem é o provedor principal de um casal rico, a queda no valor de bens pode ser aproveitada para limitar perdas de uma partilha. Já para um parceiro que era sustentado pelo outro, o corte em antigas mordomias faz deixar de valer a pena aguentar uma união de conveniência.
"Por várias razões, uma economia em queda é um ótimo momento para se divorciar, especialmente para a pessoa que controla os bens", afirmou, por telefone, o advogado Robert S.Cohen, autor de "Diferenças Reconciliáveis" ("Reconcilable Differences", Pocket Book, 2002). "Vai ser muito mais barato agora, quando os preços estão em queda, e mais tarde o valor dos bens supostamente vai se normalizar."
Cohen costuma representar gente como Elizabeth Ross Johnson, socialite neta de um dos fundadores da farmacêutica Johnson & Johnson. Mas ele diz que, mesmo com clientes que costumam acumular mais de US$ 10 milhões -sem contar as propriedades-, a crise tem seu efeito nas negociações.
O parceiro que terá de pagar a pensão, por exemplo, está muito mais preocupado com sua capacidade de manter os compromissos. "Há mais atenção a provisões nos contratos que permitirão à pessoa renegociar pagamentos se sua situação financeira ficar ruim."
"É o que eu chamo de "cláusulas de desastre'", disse à Folha outro advogado de Manhattan, Alton L. Abramowitz. "Basicamente incluímos alternativas para baixar ou espaçar o pagamento de pensões se a pessoa for demitida."
Com vários clientes em Wall Street, Abramowitz diz que sua firma está com movimento incomumente alto desde o início de novembro. "É o resultado direto do que está acontecendo com o mercado de ações."
Seu relato retrata um mundo ainda carregado de machismo. Ele conta que mulheres que eram mantidas em estilos de vida luxuosos desistem, com o fim da bonança, de fechar os olhos ao comportamento dos maridos. "E os homens dizem: "Se eu me divorciar neste momento que não valho tanto dinheiro, não vou precisar pagar tanto no futuro"."
Mas a situação do mercado imobiliário, apesar de não congelar o divórcio, pode complicar a vida dos milionários. "Está mais difícil avaliar o valor dos bens. As pessoas estão relutantes em aceitar propriedades como parte de acordos, porque não poderão liquidá-las facilmente", diz Abramowitz. (AM)

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