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Recessão é "oportunidade" para ricos e infelizes
DE NOVA YORK
Se a crise vem forçando as
classes média e baixa a manterem relacionamentos indesejados, na alta sociedade o movimento parece ser contrário.
Em números crescentes, milionários estão vendo na recessão
a hora certa para o divórcio, ao
menos quando a consideração
principal é a financeira.
Consultados pela Folha, advogados de família de Manhattan explicam que, para quem é
o provedor principal de um casal rico, a queda no valor de
bens pode ser aproveitada para
limitar perdas de uma partilha.
Já para um parceiro que era
sustentado pelo outro, o corte
em antigas mordomias faz deixar de valer a pena aguentar
uma união de conveniência.
"Por várias razões, uma economia em queda é um ótimo
momento para se divorciar, especialmente para a pessoa que
controla os bens", afirmou, por
telefone, o advogado Robert
S.Cohen, autor de "Diferenças
Reconciliáveis" ("Reconcilable
Differences", Pocket Book,
2002). "Vai ser muito mais barato agora, quando os preços
estão em queda, e mais tarde o
valor dos bens supostamente
vai se normalizar."
Cohen costuma representar
gente como Elizabeth Ross
Johnson, socialite neta de um
dos fundadores da farmacêutica Johnson & Johnson. Mas ele
diz que, mesmo com clientes
que costumam acumular mais
de US$ 10 milhões -sem contar as propriedades-, a crise
tem seu efeito nas negociações.
O parceiro que terá de pagar
a pensão, por exemplo, está
muito mais preocupado com
sua capacidade de manter os
compromissos. "Há mais atenção a provisões nos contratos
que permitirão à pessoa renegociar pagamentos se sua situação financeira ficar ruim."
"É o que eu chamo de "cláusulas de desastre'", disse à
Folha outro advogado de Manhattan, Alton L. Abramowitz.
"Basicamente incluímos alternativas para baixar ou espaçar
o pagamento de pensões se a
pessoa for demitida."
Com vários clientes em Wall
Street, Abramowitz diz que sua
firma está com movimento incomumente alto desde o início
de novembro. "É o resultado
direto do que está acontecendo
com o mercado de ações."
Seu relato retrata um mundo
ainda carregado de machismo.
Ele conta que mulheres que
eram mantidas em estilos de
vida luxuosos desistem, com o
fim da bonança, de fechar os
olhos ao comportamento dos
maridos. "E os homens dizem:
"Se eu me divorciar neste momento que não valho tanto dinheiro, não vou precisar pagar
tanto no futuro"."
Mas a situação do mercado
imobiliário, apesar de não congelar o divórcio, pode complicar a vida dos milionários. "Está mais difícil avaliar o valor
dos bens. As pessoas estão relutantes em aceitar propriedades
como parte de acordos, porque
não poderão liquidá-las facilmente", diz Abramowitz.
(AM)
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