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Folhainvest
Bancos adotam código de conduta para aplicações
Intenção é oferecer o investimento de acordo com o perfil e os objetivos do cliente
Definição do perfil ocorrerá mediante questionário a ser preenchido; método deve dificultar venda inadequada de aplicação ao investidor
TONI SCIARRETTA
DA REPORTAGEM LOCAL
Após três anos de discussões,
os bancos brasileiros passam finalmente a adotar, a partir deste mês, uma série de regras para
vender produtos financeiros,
como fundos de investimento
de diferentes riscos, de acordo
com o perfil de cada cliente.
Na prática, ficará mais difícil
para um gerente de agência
"empurrar" produtos que não
atendam aos interesses do
cliente apenas para cumprir
eventuais metas internas de
captação de recursos.
Já o investidor terá de assumir por escrito que conhece o
risco de um investimento que
vá contra o seu perfil, que foi
alertado pelo banco sobre essa
incompatibilidade e que, mesmo assim, decidiu seguir em
frente com a aplicação. A decisão final é do investidor.
A regras foram debatidas internamente na Anbima (associação do mercado de capitais),
com o objetivo de preparar
bancos, gerentes e clientes para
lidar com investimentos de
maior risco, após a queda nos
juros e a perda de atratividade
dos fundos DI e de renda fixa.
No caminho, sofreu resistência de alguns bancos que não
queriam discutir questões estratégicas da venda de produtos com os concorrentes nem
investir em tecnologia.
"Quando começamos as discussões, a ideia era ter um padrão mínimo de qualidade de
atendimento. Isso não é estratégia, é o mínimo que se pode
fazer, que é atender bem o
cliente. Nos EUA, 50% dos investidores aplicam em ações.
Aqui no Brasil, já chegou a 14%
antes da crise. Daqui a um tempo, 50% vão para o risco também. A adoção dessa ferramenta é crucial para que isso aconteça", disse Marcos Villanova,
diretor de investimentos do
Bradesco e coordenador do comitê da Anbima que desenvolveu as regras de adequação.
O principal instrumento para avaliar o perfil do cliente é
um questionário eletrônico
com perguntas como idade, valor da aplicação, o quanto ela
representa em sua renda anual,
quando vai resgatar o dinheiro,
o que pretende fazer com ele e o
que faria se perdesse uma boa
parte desse capital.
Atribuindo pesos às diferentes respostas, o questionário
cria o que os bancos chamam
de API (Análise do Perfil do Investidor), que é confrontado
com os investimentos do cliente no banco para ver se é compatível com seu perfil.
O preenchimento do questionário, que costuma ter no
máximo dez perguntas, é voluntário. Os bancos prometem
oferecer as questões sempre
que o investidor for aplicar.
Prática comum nos EUA e na
Europa, a análise do perfil do
investidor começou no ano
passado no Brasil com os clientes de "private bank" (gestão de
fortunas) dos bancos.
Num primeiro momento, a
Anbima definiu que a API valerá só para as aplicações nos fundos de investimento. A proposta é chegar também a outros
produtos, como previdência,
poupança, CDBs e seguros.
Cada banco desenvolveu o
seu próprio questionário, que
poderá ser cruzado com o histórico de aplicações do cliente.
O Bradesco foi o primeiro
dos grandes bancos a juntar numa mesma plataforma diferentes aplicações, como fundos de
investimento, CDBs, poupança
e previdência. A estratégia evita
que o cliente seja abordado de
acordo com o interesse de venda de cada produto, uma vez
que a comercialização de um
investimento não acontece em
prejuízo de outro que poderia
ser mais adequado ao cliente.
"Se o perfil apontar que o investidor é muito conservador,
nós vamos mandá-lo para a
poupança", disse Villanova.
O Itaú Unibanco já adotou
voluntariamente o API em setembro. Desde o início, incluiu
na análise do perfil também
fundos de previdência, CDBs,
poupança e até produtos da
corretora. "Tudo o que é possível para o cliente investir entrou. Todos os produtos de investimento estão sob uma mesma gestão", disse Oswaldo Nascimento, responsável pela área
de investimentos do Itaú.
No Santander Real, o API já
começa valendo para fundos de
investimento e de previdência.
O banco vai utilizar o questionário e a tecnologia para conhecer melhor o cliente e fazer
um atendimento mais personalizado. "[Mas] o comportamento do investidor nos revela mais
do apetite real dele do que o
questionário", disse Aquiles
Mosca, estrategista de investimentos do Santander.
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