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LUÍS NASSIF
O controle financeiro de São Paulo
Com a Lei da Responsabilidade
Fiscal e a pouca flexibilidade para
a redução de despesas permanentes, devido ao fim da inflação, Estados e municípios terão que se
desdobrar no desenvolvimento de
metodologias que permitam antever os movimentos da arrecadação de tributos.
Grande parte do sucesso do Estado de São Paulo, na conquista
do equilíbrio fiscal, deveu-se à
criação de uma metodologia que
permitiu ao governo do Estado
antecipar-se às quedas de arrecadação, cortando custeio e investimento.
Foi o que ocorreu no segundo
semestre de 1998, em plena campanha eleitoral. Em março identificou-se a queda da arrecadação.
O governador Mário Covas ordenou cortes imediatos de 60% em
todos os investimentos, e o secretariado se preparou para perder
as eleições. No fim, Covas acabou
reeleito, tendo como principal
bandeira a austeridade fiscal.
Em março do ano passado, os
mesmos indicadores anteciparam
a possibilidade de aumento da receita. A partir do segundo semestre, de fato, a arrecadação subiu
de patamar, de R$ 17,3 bilhões
para R$ 18,6 bilhões no final do
ano. A Fazenda projeta para este
ano uma receita entre R$ 19,6 e
R$ 20 bilhões. A partir do segundo
semestre, o Estado retomou os investimentos.
Para montar suas projeções, a
Fazenda se baseia em três variáveis: 1) crescimento do produto
(mais crescimento, mais arrecadação); 2) taxa de inflação (mais
inflação, mais arrecadação nominal); e 3) impacto da Lei Kandir
(que presumivelmente deveria repor a arrecadação que o Estado
perde com a desoneração das exportações).
Há duas inflações a serem consideradas: uma, os índices gerais
de preços; a outra, os preços das
tarifas públicas. O ICMS (Imposto
sobre Circulação de Mercadorias
e Serviços) depende em 35% de
apenas três grandes produtos:
combustíveis, telecomunicações e
energia elétrica. Foram os aumentos expressivos de tarifas, no
ano passado, que garantiram o
crescimento da receita.
Pente-fino
Na projeção ponta a ponta para
este ano, o Estado estima crescimento de 7,4% na arrecadação
nominal, para uma inflação de
6% e uma taxa de crescimento do
produto de 1% (bastante conservadora).
Definidas as projeções de receita, a Fazenda trabalha com um
planejamento anual de fluxo de
caixa do ano inteiro, refeito diariamente. Nesse planejamento,
definem-se alguns dias críticos,
como o quinto dia útil de cada
mês e o final do mês, onde se concentram principais itens de despesa e receita.
A cada novo evento, há um programa de computador que reprojeta imediatamente os resultados
do ano. O sistema permite, com
razoável segurança, identificar
indicadores de antecedência com
prazos de seis meses.
Diariamente, o governador recebe uma planilha com essas projeções revistas. Quinzenalmente,
o computador elabora análises
de tendência histórica de resultado de caixa, resultado primário,
receita e despesa total.
Esses dados gerais podem ser
explodidos em um conjunto amplo de relatórios secundários. Entre os relatórios gerados está o balanço mensal de obras, o que foi
gasto no mês e o resumo de desempenho financeiro de cada secretaria. Cada obra autorizada
entra na programação de pagamento. O acompanhamento indica o que falta pagar e a data da
entrega.
Com esse nível de detalhamento, a programação acaba dependendo apenas da capacidade
operacional de cada secretaria de
gastar o dinheiro orçado. O Dersa, por exemplo, realizou 100%
dos investimentos orçados para o
Rodoanel. De maneira geral, a
Secretaria de Transportes realiza
tudo o que está previsto. Na outra
ponta, há secretarias, especialmente na área social, que não
chegam a gastar nem 50% do dinheiro orçado e disponível.
E-mail: lnassif@uol.com.br
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