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MÍDIA
Trabalho elaborado pela W/Brasil é composto de peças para TV e rádio e anúncios para mídia impressa e outdoors
Estréia hoje campanha de 80 anos da Folha
CÉLIA CHAIM
DA REPORTAGEM LOCAL
A equipe da W/Brasil, a terceira
maior agência de propaganda do
país, encerrou a semana com uma
coisa na garganta -a aflição da
expectativa da estréia- e outra
no coração -o orgulho da campanha publicitária institucional
que comemora, a partir de hoje,
os 80 anos da Folha, com seis filmes para televisão, quatro peças
para rádio, um anúncio sequencial de oito páginas para a mídia
impressa e outro, também sequencial, para outdoors. "A gente
queria fazer uma campanha revolucionária", afirma Washington
Olivetto, criador, sócio e redator
da agência. "E eu acho que a gente
conseguiu."
Eduardo dos Santos, diretor de
marketing do jornal, gostou. "É
algo fora do marasmo, uma campanha que tem ousadia, irreverência e inquietação", diz. Para
Olivetto, é uma campanha à altura da posição que a Folha e a W/
Brasil ocupam na história do Festival de Cannes, o mais importante do setor. O jornal brasileiro é o
que coleciona o maior número de
leões (dois de ouro, um de prata e
um de bronze), ao lado do "The
Independent", de Londres.
Com esse retrospecto de êxitos,
construído desde 1987, quando a
agência conquistou a conta do
jornal, fazer alguma coisa nova e
pertinente tirou o sono da equipe
da W/Brasil desde o final do ano
passado, quando a missão chegou
à agência. "A pior coisa do mundo é quando você põe na cabeça
que tem de fazer o absolutamente
novo, porque você pode perder a
mão e fazer o novo pelo novo",
diz Olivetto. "Tinha que ser um
novo que tivesse a ver com o histórico de comunicação e com as
características do jornal."
Foi uma palavra, a palavra da
qual qualquer criança usa e abusa
desde quando começa a falar, que
deu o clique nos criadores da
campanha: "Coisa". O slogan:
"Folha 80 anos/Você por dentro
da COISA". "A campanha é sofisticada e elegante no raciocínio,
mas popular na compreensão,
equação difícil de ser resolvida",
diz Olivetto. "Achamos um negócio tão simples que tenho certeza
de que a partir deste domingo
(hoje) ninguém vai ouvir essa palavra sem se lembrar da Folha."
Algumas frases da campanha
do rádio, por exemplo, podem
dar razão ao publicitário: Futebol:
a coisa é bola na rede; Basquete:
acertar a bola lá dentro daquela
coisa; Vôlei: ficar coisando a bola
até dar uma boa coisada para o
outro lado; Futebol americano: alguém entende aquela coisa?; Tênis: ficar com aquela coisa pra lá e
pra cá até fazer uma coisa que o
outro não está esperando. Folha
-80 anos com coisas sobre todos
os esportes.
Os filmes de TV, produzidos pela Conspiração, misturam técnicas do teatro com o cinema, sem
perder de vista que se trata de
uma propaganda. Têm luz, cara e
sonoridade teatral. As pessoas
-famosas e representantes da
vanguarda em suas áreas de atuação- falam da "coisa" e consequentemente da Folha.
A intenção declarada é seduzir
as pessoas, o que em nenhuma
circunstância é fácil. Pessoas,
quando são seduzidas por outras
pessoas, não querem saber o tipo
sanguíneo de seu parceiro. Da
mesma maneira, quando são seduzidas por um produto, não
querem saber como ele foi fabricado; querem saber que benefícios traz.
Olivetto coloca o jornal na mesma condição. As pessoas compram a Folha, ele diz, porque o
jornal tem credibilidade e elas, as
pessoas, querem ficar por dentro
dos acontecimentos, ou melhor,
das coisas. "Essa campanha é uma
declaração de princípios jornalísticos feita com muita leveza."
As personalidades escolhidas
são associadas à vanguarda e à
inovação, virtudes perseguidas no
dia-a-dia do jornal. E têm credibilidade, a essência do produto.
A W/Brasil e o jornal dividem
uma história de sucesso no campo da comunicação. A primeira
campanha da agência para o jornal foi memorável, de 1988, com o
filme "Hitler", um dos dois únicos
comerciais brasileiros e ibero-americanos na lista dos cem melhores de todos os tempos (o outro, também assinado pela W/
Brasil, é da Valisère), publicada
em 2000 por Berneci Krammer. O
filme destacava a preocupação do
jornal com a verdade e mostrava a
imagem do líder nazista alemão
ao som de uma voz que relatava
seus supostos feitos, um amontoado de mentiras.
Também em 2000, a International Newspaper Marketing Association (Nima), que acompanha a
estratégia dos jornais anualmente, elegeu o "case" de comunicação da Folha o melhor do mundo
no setor de jornais nas duas últimas décadas.
Essa premiação, diz Olivetto,
elevou o compromisso de qualidade. Juntos, ele, Alexandre Machado (redator), Jarbas Agnelli
(diretor de arte), Ruy Lindemberg
(diretor de criação) e Gabriel Zellmeister (vice-presidente) puseram as "coisas" que têm dentro da
cabeça para funcionar e chegaram à campanha dos 80 anos estressados pela ambição de inovar
e surpreender.
A campanha não foi adaptada a
cada veículo. Cada um tem a sua
própria personalidade. Os outdoors têm a instantaneidade para
quem passa de carro e os vê; os
spots de rádio jogam com a capacidade de exercitar a imaginação
das pessoas; os anúncios na mídia
impressa têm a característica
-em que a Folha foi pioneira-
de ser "multipages".
A campanha vai pegar -aposta
a agência que, no ano passado, somou US$ 250 milhões em autorização de mídia- porque, segundo seus criadores, tem conteúdo,
pertinência e cumpre o mandamento número um das coisas da
vida: encanta e seduz.
"As pessoas gostam disso em
tudo e, para fazer isso, não se pode aborrecê-las, tem que falar língua de gente", diz Olivetto. "O
complicado é fazer simples."
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