São Paulo, quarta-feira, 04 de fevereiro de 2004

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SOSSEGA MERCADO

Risco-país termina o dia em ligeira queda, aos 511 pontos

Investidores dão trégua, Bolsa tem alta e dólar recua

SANDRA BALBI
JOSÉ ALAN DIAS
DA REPORTAGEM LOCAL

O mercado financeiro viveu ontem um dia de correção geral de preços, com queda do risco-país, alta da Bolsa e recuo dos juros no mercado futuro. Parte da melhora, segundo analistas, deve-se ao tom "tranqüilizador" da entrevista dada pelo ministro Antonio Palocci Filho (Fazenda).
A reação, porém, foi principalmente um "ajuste técnico" feito pelo mercado depois de uma semana em que o risco-país subiu 97 pontos e a Bovespa recuou 10,7%. Ontem, a Bolsa fechou com alta de 2,27%, e o risco-país caiu 14 pontos, fechando em 511 pontos. O C-Bond, principal título da dívida, subiu 0,83%, cotado a 97,812% do valor de face.
Depois de sete altas seguidas, o dólar recuou 0,78% e fechou a R$ 2,9190. A exemplo da véspera, o BC não interveio comprando dólares, como fazia regularmente desde janeiro.
"O mercado está voltando à normalidade, a piora dos últimos dias foi resultado de muito barulho por pouca coisa", avalia Walter Mundel, vice-presidente da Sul América Investimentos.
A fala de Palocci teve impacto apenas no mercado futuro de juros, segundo os analistas. "Houve um recuo marginal da taxa de juro dos contratos de DI de um ano [vencimento em janeiro de 2005]", diz Octávio de Barros, economista-chefe do Bradesco.
Essa taxa recuou de 15,82% ao ano, no fechamento da segunda, para 15,66% ontem. O movimento significa que o mercado aposta na queda do juro básico da economia, a Selic, hoje em 16,5% ao ano.
Após a última reunião do Copom -e a divulgação da ata da reunião apontando uma retomada da inflação para justificar a "suspensão temporária" dos cortes dos juros-, os agentes financeiros começaram a rever seus cenários e a realocar aplicações. "Isso derrubou os preços dos ativos", diz Jorge Simino, da MS Consult.
Esse movimento, aliado a uma possível recuperação das taxas de juro americanas ainda no primeiro semestre, levou os "hedge funds" a "vender Brasil", no jargão do mercado. A saída desses investidores, no final de janeiro, ajudou a chacoalhar a Bolsa e o câmbio.
O que deverá dar o tom da movimentação financeira nas próximas semanas são os novos indicadores de inflação. "São esses dados que darão a sinalização de quando o BC voltará a cortar os juros", diz Eduardo Rezende, da Mellon Global Investment.
Os analistas também vão ficar de olho nos dados sobre desemprego nos EUA, que serão divulgados na sexta-feira. "Se esse indicador sair ruim, o Fed [o BC americano] poderá postergar a alta dos juros, o que terá impacto nos mercados emergentes como o Brasil", diz David Beker, economista para a América Latina da corretora Merrill Lynch.
Para Walter Mendes, do Itaú, a leitura do mercado é que, se houver aumento dos juros americanos, é sinal de que o crescimento do país está forte, o que beneficiará países que exportam para os EUA -como México, Coréia do Sul e Taiwan. "Os investidores de mercados emergentes migrarão para aqueles países, reduzindo exposição em Brasil."


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